Nada mais sintomático do que a declaração do novo coordenador regional do PT no Grande ABC, Brás Marinho, para explicar os motivos pelos quais o partido não consegue superar sua crise. Diante da queda do número de militantes dispostos a saírem de suas casas em um domingo para escolher o presidente do diretório da legenda em sua cidade, o dirigente culpou o filiado.
Fundado em 1980, o Partido dos Trabalhadores surgiu com mote de defender uma classe que era ignorada pelas demais agremiações políticas da época. Se posicionou como oposição ferrenha à ditadura militar vigente. Logo atraiu pessoas das mais variadas classes sociais, agrupando operários e intelectuais. Em 2002, atingiu seu ápice, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Mas foi neste período que o partido perdeu seu ativo mais importante: a relação de proximidade com o militante.
Lideranças que enalteciam a força do filiado, colocando-o como diferencial em comparação com os demais partidos, preferiram os cargos ao povo – exceção em tempos de eleição. Muitos deles foram flagrados em escândalos de corrupção. A estratégia do alto comando do petismo, diversas vezes, foi culpar os outros, a imprensa, o Poder Judiciário, a polícia.
Ao analisar a queda da militância ativa, Brás recorreu ao expediente que colaborou com a crise no PT: transferir a responsabilidade. O recado dado no PED (Processo de Eleição Direta) é mais um em direção à nata da legenda, desta vez de autoria de quem, um dia, acreditou no propósito do Partido dos Trabalhadores e assinou ficha de adesão. Isso porque, em eleições gerais, a população havia dado mostra de insatisfação com a sigla – não à toa em 2016 nenhum candidato a prefeito petista se elegeu no Grande ABC, algo inédito até então.
O PT se igualou aos partidos que tanto combateu no passado. E se não houver reflexão profunda, do papel do militante ao do máximo dirigente, nesse nível se manterá. Os alertas têm sido emitidos.
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