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SONHOS INTERROMPIDOS
Morador de rua morto planejava ter um lar

Sebastião Lopes dos Santos foi assassinado por empresário em Sto.André na noite de 11 de maio

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
27/05/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/ DGABC


O sonho de estar em família, em uma casa, e na cidade que tanto amava, Santo André, foi interrompido por cinco disparos de arma de fogo. O morador de rua Sebastião Lopes dos Santos, 40 anos, assassinado na noite de 11 de maio, na Rua Visconde de Mauá, na Vila Assunção, se organizava para alugar uma residência nas proximidades da Rua Carijós, Vila Linda, onde iria residir com a companheira, Dalva de Araújo Costa, 52, e o enteado, José Maiki de Araújo Costa, 26.

Santos foi morto pelo empresário Marcelo Pereira de Aguiar, 36, que teve a prisão temporária decretada e está foragido. O atirador é dono de uma pizzaria na mesma rua onde aconteceu o crime e o casal costumava dormir em frente ao estabelecimento.

O enteado, que mora em São Bernardo, relatou que no dia em que foi morto, Santos falou com ele pelo telefone e se comprometeu a entregar parte do dinheiro que havia recebido após um trabalho como pedreiro para ajudar no pagamento do aluguel. “A gente estava conversando sobre alugar uma casa, para morarmos nós três juntos”, explicou o jovem.

A polícia ainda não sabe qual foi a motivação do crime, mas a família descarta qualquer conflito entre Santos e Aguiar. O morador de rua, natural da cidade de Quixeramobim, no Ceará, foi descrito tanto pela companheira quanto pelo enteado como uma pessoa alegre e brincalhona, sem histórico de desavença com ninguém. “Se tivesse acontecido alguma coisa, ele teria contado”, reforçou Costa.

O casal tinha bom relacionamento com a vizinhança, inclusive com o dono da pizzaria. “Ele até mandava entregar pizza para a gente”, afirmou Dalva. “Se o encontrasse, ia dizer que agora vai pagar pelo que fez”, completou.

Dalva falou, com profunda tristeza, sobre a falta que sente do companheiro. Contou que foi em nome da relação que ela deixou o filho em São Bernardo e foi com Souza para Baturité, também no Ceará, para conhecer a família dele e os cinco filhos de um primeiro casamento. Seis anos depois, após passar pelos Estados de Pernambuco e da Bahia, o casal regressou ao Grande ABC. Mais uma vez por amor, Dalva veio para Santo André com o companheiro, onde passaram a dormir na rua, quando o dinheiro arrecado durante o dia não era o bastante para a passagem de ônibus dos dois até São Bernardo, onde o filho dela reside. Costa afirma ter convidado reiteradas vezes a mãe e o padrasto para viverem com ele, mas Souza não aceitava. “Ele amava Santo André”, relembrou a viúva.

No dia em que o companheiro foi assassinado, Dalva estava na casa do filho, no bairro Ferrazopólis. No domingo pela manhã, foi a pé até Santo André, procurou por Santos nos dois locais onde costumavam ficar (uma casa que está desocupada e, com mais frequência, em frente um imóvel também vazio) e como não o encontrou, resolveu esperar. Somente na segunda-feira o enteado chegou a Santo André e foi informado pela dona de uma lanchonete sobre a morte do padrasto. “Fomos até o IML (Instituto Médico-Legal) e reconhecemos o corpo.”

Quando perguntada do que mais sente falta, Dalva é sucinta. “Sinto falta dele. Era um ótimo companheiro.”

Advogado quer indenização por danos morais

O advogado criminalista Ademar Gomes representa juridicamente a companheira e o enteado de Sebastião Lopes dos Santos. O defensor classificou o caso como “uma grande covardia” e informou que sua equipe já está providenciando o reconhecimento da união estável do casal, que passou cerca de dez anos juntos. “Isso pode ser feito, há muitas testemunhas. Vamos pedir uma indenização por danos morais e materiais”, explicou.

Gomes afirmou que seu escritório costuma fazer atendimentos sociais e que soube do caso de Lopes por meio da ligação de um pastor. “Me chamou a atenção a covardia da situação, não houve conflito. O empresário até mandava entregar pizza para eles. Pelo comportamento, imagino que estava drogado, ou bêbado, e duvido que tenha sido o primeiro assassinato”, acusou.

Marcelo Pereira de Aguiar, 36 anos, foi detido em março, em São Bernardo, por porte ilegal de arma e falsidade ideológica, após se apresentar como policial federal em um bar. Foi solto após pagamento de fiança. Depois do crime, que foi flagrado por imagens de segurança, a polícia apreendeu, na residência do empresário, em Santo André, uma espingarda calibre 12 e uma carabina ponto16, imitação de uma modelo AR-15, além de munição.

Aguiar, que teve a prisão preventiva decretada e está foragido, é colecionador de armas. O delegado seccional de Santo André, Francisco Alves, informou que foi emitido um alerta para a Polícia Federal, para que Aguiar seja localizado se tiver fugido para outro Estado. Ele é dono de duas empresas em Santa Catarina e uma em Santo André.  




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