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Novo longa
Nos cinemas a partir de amanhã, novo ‘Hellboy’ não vence as próprias falhas de execução

O novo filme é dirigido por Neil Marshall com uma mão muito mais pesada na produção do criador do personagem, o quadrinista Mike Mignola, e é uma tentativa de reinício da franquia.

Por Richard Molina
Especial para o Dgabc.com.br
15/05/2019 | 13:19
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Divulgação


Hellboy não é um super-herói comum. Geralmente ele nem mesmo se encaixa nessa categoria, sendo retratado nos quadrinhos muito mais como um investigador paranormal, um detetive que vez ou outra precisa socar ou atirar em alguns monstros. Quando adaptado para a linguagem do cinema, no entanto, fica mais fácil explorá-lo seguindo esta estética. E, assim, chegamos ao novo filme do personagem, que estreia amanhã nos cinemas.

O filho mestiço de um demônio com uma humana, Hellboy foi trazido à Terra por nazistas ainda durante a Segunda Guerra Mundial em um ritual que buscava um trunfo para virar o jogo contra os Aliados (Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética). Encontrada por norte-americanos em uma igreja, a criança com chifres, cauda e uma enorme mão direita de pedra foi criada e treinada para ser uma arma da humanidade contra as forças das trevas.

A nova empreitada do ‘macaco’ no cinema é muito diferente em tom (e em qualidade) da última abordagem que ele ganhou nas telonas, feita em 2004 pelo cineasta mexicano Guillermo del Toro, com sequência lançada em 2008. O novo filme é dirigido por Neil Marshall com uma mão muito mais pesada na produção do criador do personagem, o quadrinista Mike Mignola, e é uma tentativa de reinício da franquia.

O personagem, desta vez, é interpretado por David Harbour, que os aficionados em séries conhecem como o xerife Hopper de Stranger Things. Harbour passa o filme inteiro tentando dar vida à placidez irreverente do herói diante das ameaças que enfrenta, e ele até consegue diversas vezes. É uma pena que o roteiro não dê o tempo necessário para o ator conquistar a empatia do público. A história desse longa é apressada, rasa, e se ramifica em uma porção de missões secundárias que com muita sorte servem para apresentar personagens, mas a maior parte das vezes só enchem buraco para a história central.

Mas o principal aspecto do filme, e talvez o que tem o maior potencial de irritar o espectador, é que ele é extremamente superexpositivo. Em uma mesma sequência inicial, que estabelece o vilão e o principal conflito do longa, apesar de o que está sendo mostrado em tela ser bastante didático e fácil de entender, tudo é acompanhado por uma narração que teima em explicar exatamente o que os olhos estão vendo. E não satisfeito, além de ter o narrador dizendo onde a ação acontece, o filme ainda exibe um letreiro gigante contendo a mesma informação, de um jeito que é quase inevitável pensar se a produção duvidava das capacidades de compreensão do seu público.

Os atores são talentosos, mas tiram leite de pedra para tornar os seus personagens interessantes. Sasha Lane, Daniel Dae Kim, Ian McShane são todos nomes estabelecidos ou promissores no mercado e fazem a sua parte tentando trazer um universo riquíssimo para o cinema, mas também esbarram na qualidade do roteiro, que interrompe constantemente para sequências de exposição que cortam a narrativa e cansam o espectador. Outro ponto muito problemático é a trilha sonora. Tanto a original quanto as músicas que preenchem o longa tentam conferir uma identidade rock‘n’roll ao universo e à história, mas o fato de ser praticamente ininterrupta e sempre muito alta faz com que pareça só barulho. Em uma safra de filmes que sabem utilizar o silêncio de uma forma inteligente e que sirva à história, Hellboy se destaca negativamente por ignorar essa necessidade.

Os quadrinhos do personagem são de identidade única. Têm influência tanto no traço clássico de Jack Kirby quanto no expressionismo alemão, utilizando muito o alto contraste e formas geométricas, fazendo os desenhos de Mike Mignola serem facilmente reconhecíveis. As histórias são inspiradas tanto na mitologia cristã quanto nas mais variadas lendas europeias, asiáticas e de diversos lugares do mundo, e constituem um universo onde é possível acreditar que todas elas coexistem.

Os filmes de 2004 e 2008 contribuíram para enriquecer esse mundo e dar uma fama ainda maior ao personagem, que tem em si o conflito constante entre o que ele foi criado para ser e o que decide ser. Esse novo longa, apesar das boas intenções, termina por pecar demais na execução, e é um passatempo enfadonho com um final anticlimático que infelizmente é mais provável que desencoraje novos leitores do que conquiste pessoas para o bizarro e encantador universo de Anung Un Rama.
 




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