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Sábado, 4 de Maio de 2024

Amor por um bem maior

Filha ajuda mãe a revigorar forças por meio de publicações de poemas na internet

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
12/05/2019 | 08:40
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Celso Luiz/DGABC


Não só o amor, mas a arte pode ajudar a salvar vidas, tirar da tristeza, mostrar novos horizontes, dar esperança e uma infinidade de possibilidades. Quando os dois andam juntos, melhor ainda. E com a andreense Maria Isabel da Silva Giacometti, 59 anos, não é diferente. Há algum tempo tem lidado com questões de saúde que lhe abalaram um bocado. Além da preocupação com seu marido, João Belmonte Giacometti, 63, com quem é casada há 37 anos, que sofre com mal de Parkinson, ela chegou perto de um infarto.

Até que em uma tarde, a filha, Fabiana, 36, lembrou das poesias e pensamentos que a mãe vinha escrevendo há três anos. Pediu para ver o caderninho onde todos eles estavam guardados. Achou tudo o que leu muito bonito. Foi então que veio a ideia de compartilhar isso com outras pessoas. Juntas criaram a conta no Instagram @bela.poesia, onde publicam os escritos de Isabel.

“Ela ficou meio ressabiada no início, mas eu disse que não precisava levar tão a sério, que seria uma forma de ela se distrair e que devia, sim, mostrar seus textos ‘ao mundo’. Por fim, eu disse que me responsabilizaria pelo novo perfil no Instagram. Então ela deixou a vergonha e a insegurança de lado e topou publicar suas criações”, conta Fabiana.

“Minha mãe andava meio cabisbaixa, preocupada e cansada fisicamente também”, conta Fabiana. Mas a novidade tem surtido resultado. Ela notou que desde a criação da conta e das publicações on-line a autoestima da mãe melhorou bastante.

O nome da conta surgiu a partir do apelido de Isabel, Belinha. A filha fez um trocadilho, “algo com duplo sentido, já que poesia é uma coisa bela também”, explica.

Isabel revela que os primeiros poemas que fez foram para os filhos. Além de Fabiana, ela é mãe de Anderson, 30, e Everton, 28. “Gosto muito (de escrever). Tomei gosto realmente (pela poesia) quando meus filhos começaram a cursar faculdade. Foi assim que tive mais contato com livros e tomei gosto pela leitura”, diz. Obras de Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade a encantaram.

Isabel não chegou a terminar o ensino médio. Mas isso nem de longe é impeditivo para que suas ideias virem palavras. A poeta escreve sobre temas da vida em geral, cotidiano, pessoas, natureza, sobre seu passado e não deixa de lado as palavras de motivação.

Ela segue escrevendo no caderno. Envia foto do texto para Fabiana pelo WhatsApp e a filha digitaliza a poesia, faz correção caso necessário e procura por alguma imagem para acompanhar a postagem na conta. “Tenho me sentido muito bem porque vejo que ela está gostando, está ainda empolgada com a ideia. E como estou em uma licença-maternidade ‘estendida’, é bom porque também tenho, assim, uma ocupação e não deixo de colocar em prática meus conhecimentos”, conta Fabiana.

A filha conta que após a criação do @bela.poesia, sua relação com a mãe, que já era de cumplicidade, ficou ainda melhor. “Nos aproximou mais, principalmente pelo contato que temos que manter todos os dias, pessoalmente ou por celular, para conversar como serão as postagens dos poemas”, conta.

Isabel afirma que para escrever conta com o apoio incondicional dos filhos, noras e do marido. Juntos, já falam até sobre publicarem um livro com as poesias no futuro. “Quando escrevo aflora em mim a criatividade, apura meu olhar sobre as coisas à minha volta. Enfim, sinto revigorar minhas forças. É como se amenizasse o peso dos problemas”, diz.

“Também, agora, após a criação do perfil no Instagram, me sinto mais ‘útil’, pois penso que alguém, em algum lugar, está lendo minhas palavras e se identificando. Isso basta para mim e me deixa satisfeita”, encerra.

Poesia:
Eu só queria, mãe
“Mãe, eu queria...
Eu queria ser seu armário e guardar o seu sorriso!
Ah! Ser seu colo, sentir seu cheiro o dia inteiro!
Ser aquele seu vestido de andar pela casa, sempre correndo na labuta da vida.
Ah, mãe! Como eu queria ser seu espelho, para ver seu lindo rosto penteando os cabelos!
Eu queria, ainda, afastar seus medos, ouvir seus lamentos, entender seu silêncio, com todo o respeito,
mãe querida...” 




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