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Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024

Jorge Mautner lança disco de inéditas com 14 faixas

Em novo trabalho, cantor fala de Jesus, amor, candomblé e Marielle Franco

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
30/04/2019 | 07:00
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Gustavo Peres/ Divulgação


A voz de Jorge Mautner não é uma qualquer. É uma que tem o que dizer. Escritor, cantor e compositor experiente, cujo trabalho musical surgiu no início dos anos 1970, o carioca, filho de uma iugoslava e de um austríaco, coloca fim ao silêncio de 13 anos sem trabalho de inédita e apresenta Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba (Deck/Gege, R$ 29,90, em média), álbum que ganha vida composto por 14 temas criados em parceria com o grupo Tono, que o acompanha desde 2013.

O álbum tem como tema central o Brasil e foi pensado para que o discurso do artista tenha destaque, de fato, por isso sua voz é colocada em cima de simples arranjos. Mautner saúda Jesus Cristo, mas não deixa os tambores do candomblé de lado. É claro que o amor não fica de fora. Ruth Rainha Cigana é faixa que abre o repertório e canta sobre a mãe de sua filha Amora e avó de sua neta Júlia, também celebradas na composição. Em Imagens Plumagens ele dá outro recado importante ao dizer que “o principal é o amor”.

Entre as 14 canções do disco, a única não inédita é Yeshua Ben Joseph”, ode a Jesus, tema gravado pelo cantor nos anos 1980 junto de seu grande parceiro Nelson Jacobina (1953-2012), para quem Mautner dedica o novo trabalho.

Aos 78 anos o artista vai na contramão do caminho que o País caminha, do conservadorismo, intolerância religiosa e do fomento ao ódio – principalmente nas redes sociais. “A resposta está na frase de São Paulo (apóstolo): ‘Mesmo quando não houver mais nem fé nem esperança, o amor continuará a resplandecer no universo’”, reflete.

Mautner sempre foi uma pessoa antenada com os fatos políticos e sociais do Brasil. E isso se reflete, mais uma vez, em sua obra. “Em 1958, compus A Bandeira do Meu Partido. O envolvimento social e político meu é uma obsessão 25 horas por dia e noite”, conta.

Para Mautner, a primeira opressão pela qual o Brasil passou é a desigualdade social. “Sempre falo que precisamos ouvir e transformar em fatos o que disse (o político) Joaquim Nabuco (1849-1910): ‘É preciso uma segunda abolição’. Recomendo o livro de Vera Malaguti sobre esse assunto: O Medo na Cidade do Rio de Janeiro. A segunda abolição ainda está por chegar”, diz.

E por falar em problemas pelos quais ou Brasil passa, ou passou, ele não deixa de lembrar no novo disco de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada no ano passado. No sambinha ele canta: “Uma força furiosa me impele a gritar/Com os nervos à flor da pele/É preciso exterminar/A doença mental, física e assassina/Do racismo, do antifeminismo e do neonazismo’.

Para Mautner, é necessário que as vozes artísticas falem disso. “É essencial que se fale de tudo isso porque, ao falar e se comunicar, todas as coisas acontecem. Eu compus a música e a letra no instante em que soube da notícia do seu horrendo assassinato”, explica.

Quando questionado se a situação atual do Brasil serve de gatilho para fazer música, ele diz que tudo serve “e, nesse caso específico, é preciso mudar a história com muitas palavras, muitas ações, muitas músicas”, diz.

Ainda assim, como todas as mazelas do País, Mautner não desiste de ter esperança, tanto que não deixa de cantar de amor. “O mundo não bebe água, não respira, não come sem o Brasil. O Brasil tem todas as riquezas imagináveis, mas a maior de todas é o povo brasileiro. E como disse o filósofo Agostinho da Silva: ‘Não há abismo em que o Brasil caiba’”, encerra. 




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