Início
Clube
Banca
Colunista
Redes Sociais
DGABC

Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Brickmann
>
Brickmann
Um caso de vida ou de morte
Por Carlos Brickmann
10/03/2019 | 07:00
Compartilhar notícia


 O presidente da República se queixa de que é impossível viajar de carro sem ser multado, critica a fiscalização eletrônica e diz que não vai gastar mais dinheiro com isso. Não investirá em novas lombadas eletrônicas e, quando as atuais esgotarem sua vida útil, não serão renovadas.

Há estradas em que a oscilação da velocidade máxima parece mesmo uma pegadinha para multas. Mas este é problema do governo, não da tecnologia. E, num País em que mais de 50 mil pessoas morrem por ano no trânsito e 350 mil vão para o hospital, que vale mais: evitar multas ou evitar mortes?

A instalação da lombada eletrônica no Brasil, em 1992, foi decisiva para reduzir os acidentes de trânsito em 70%. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) cita a experiência brasileira como referência mundial. No lugar onde há lombadas eletrônicas, os acidentes se reduziram em 30% e as mortes, em 60%. Em pontos mais perigosos, as mortes caíram a quase zero.

Ninguém gosta de ser multado, mas pesquisa de 2002 dá 84% a favor do monitoramento eletrônico. Estudo do Ibmec mostra que em 2004 as lombadas eletrônicas evitaram mais de 1.000 mortes. Custo das lombadas? Comparando, pequeno: cada acidente com morte nas rodovias federais custa R$ 418 mil ao governo; cada ferido, R$ 86 mil. Mesmo que os acidentados se recuperem totalmente – o que nem sempre ocorre – saturam o SUS. Vale a pena morrer para não ser multado?

Fala muito!
Não há dúvida de que os três zeros à esquerda, ‘01’, ‘02’ e ‘03’, dão trabalho ao PaiPai. Mas Bolsonaro, o ‘Zero Alfa’, também não perde uma oportunidade de provocar polêmicas que, se perder, farão mal ao governo, e, se ganhar, não lhe trarão qualquer vantagem. Já brigou com Daniela Mercury, Caetano, com dois senhores que acham que ficar nus no Centro de São Paulo, com o dedo no ânus e urinando um no outro, é um protesto contra sabe-se lá o que. A briga com os referidos senhores (que dizem fazer oposição aberta, mas não revelam seus nomes) repercutiu no mundo – e repercutiu mal. Bolsonaro fala muito, durante o Carnaval soltou 29 twitters, sobre os mais diversos temas, mas só tocou no que é importante, a reforma da Previdência, na sexta, 7. Aí falou sobre reforma tributária e retomada dos investimentos. Aliás, a reforma da Previdência é o que interessa à economia, aqui e lá fora. A opinião de dois peladões pouco higiênicos não tem a menor importância. Pois foi com eles (mais alguns artistas) que o presidente gastou boa parte de seu tempo.

Muiiiiito!
Bolsonaro, em frase infeliz, disse que democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem. E a Constituição, nada? A coisa pegou tão mal que o general Augusto Heleno teve de explicar que não era bem isso. E, em sua permanente campanha para ignorar jornais e jornalistas, Bolsonaro anunciou que todas as quintas usará um live para contar o que o governo faz. Trabalho inútil: em menos de três meses, e apesar do tempo no hospital, Bolsonaro encaminhou a maior parte da reforma da Previdência e o pacote anticrime de Sérgio Moro. Seria mais que suficiente para consagrar seu início de governo, apesar de alguns ministros esquisitos – desde que não quisesse discutir também questões celestiais de gênero, como o sexo dos anjos.

Problemas...
Há forte desaceleração nos mercados internacionais, em grande parte por causa da disputa comercial entre Estados Unidos e China. As exportações chinesas caíram 20,7% em fevereiro. Esperava-se a queda, mas algo como 6%. Em dinheiro: o superavit previsto para fevereiro era de US$ 24,5 bilhões. Ficou em US$ 4,12 bilhões. Em janeiro, o superavit tinha sido de US$ 39,16 bilhões. E algo que afeta o Brasil: as importações caíram 5,2%, contra 2,5% previstos. A Bolsa de Xangai perdeu 3% em um só dia.

... e resultados
Nos Estados Unidos, onde a economia vive uma fase de pleno emprego (até 4% de desempregados), houve alguma criação de vagas: de 4%, o índice de desemprego caiu para 3,9%. O salário médio subiu 0,3% em fevereiro; de um ano para outro, a alta salarial foi de 3,3%, contra 3,2% de janeiro. Não são taxas espetaculares, mas são positivas. E Trump já começa a se preparar para a reeleição. Os opositores democratas ainda não têm nomes fortes.

A vida como ela foi
Um livro notável, de um jornalista notável, com depoimentos de notáveis jornalistas, será lançado amanhã, na sede da ABI, Rio, às 17h. Aziz Ahmed, em Memórias da Imprensa Escrita, conta tudo o que viu, e que não foi pouco: Carlos Lacerda, antes de ser político, queria ser autor de novelas; De Gaulle jamais disse que o Brasil não é um País sério; uma festa no dia da posse do presidente Kennedy foi suspensa pela polícia, chamada por um cidadão incomodado com o barulho. Leia ali a última entrevista de Ricardo Boechat. Há Samuel Wainer, há o próprio Aziz Ahmed. Não dá para perder.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.