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Governo federal cobra plano de ação da Ford

Documento deve trazer soluções para reduzir impactos sociais e econômicos na região com fechamento

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
08/03/2019 | 07:30
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André Henriques/DGABC


O governo federal cobrou a apresentação de um plano de desmobilização da Ford, que em 19 de fevereiro anunciou que vai encerrar a produção de caminhões e fechar sua planta em São Bernardo. O intuito da União é obter levantamento que mensure os impactos econômicos e sociais na região e traga soluções para atenuá-los, considerando diferentes cenários, principalmente se o encerramento das atividades se consolidar – uma vez que o Sindicato dos Metalúrgicos está mobilizado, desde então, para tentar reverter a decisão, inclusive representantes estão nos Estados Unidos para conversar com a direção global da marca (leia mais abaixo).

O pleito foi feito em reunião, realizada ontem em São Paulo, entre o secretário especial de produtividade, emprego e competitividade do Ministério da Economia, Carlos Alexandre da Costa, com o presidente da empresa na América do Sul, Lyle Watters, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). Também participaram do encontro o vice-presidente de assuntos corporativos da companhia, Rogelio Golfarb, e a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado, Patricia Ellen da Silva.

De acordo com a Sepec (Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade), o intuito da reunião foi discutir soluções para aliviar os impactos econômicos e sociais na região, caso aconteça eventual redução na quantidade de pessoas empregadas pela montadora no Grande ABC.

Segundo o prefeito de São Bernardo, o secretário entendeu que a Ford tem a obrigação de apresentar plano de ação, algo que ele também cobra desde o anúncio da decisão da empresa. “Até quando a fábrica pretende continuar a sua produção? Ela planeja indenizar os funcionários, caso o fechamento aconteça? A empresa precisa respeitar São Bernardo e considerar os impactos de um anúncio desses. Ela tem essa responsabilidade com a cidade”, afirmou.

De acordo com estimativa do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), o fechamento da Ford reduziria o PIB (Produto Interno Bruto) da região, de R$ 112,04 bilhões, em até R$ 1,3 bilhão por ano.

“O governo foi taxativo que não pode interferir na decisão da fábrica de sair ou permanecer no País, mas foi incisivo na necessidade de apresentação do plano”, disse o prefeito. Morando também afirmou que não houve discussão sobre incentivo fiscal. Anteriormente, o secretário do governo federal já havia sinalizado ser contrário a incentivos a determinadas empresas, incluindo a GM, que tem planta em São Caetano, e igualmente pediu ajuda da União quando passou por negociações sobre possibilidade de fechamento no País. “Eu também questionei sobre o Rota 2030 (programa de incentivo fiscal do governo direcionado ao setor automotivo), que foi aprovado em novembro. Na época, ficava claro que a Ford manteria a fabricação de automóveis na cidade.”

O grupo deve se reunir novamente em duas semanas, quando a Ford terá de apresentar a primeira versão do plano para atenuar os possíveis efeitos negativos, considerando diferentes cenários. “Paralelamente, o governo federal, por meio da Sepec, trabalha diretamente com diversos setores da economia, especialmente o automotivo, para melhorar a produtividade e a competitividade da indústria brasileira”, informou a Pasta, em nota. Questionada, a Ford não se manifestou. A produção na região está paralisada há três semanas, e deve seguir assim até terça-feira, pelo menos, quando haverá assembleia para definir os próximos passos.


Vamos seguir pressionando para reverter decisão, afirma Morando

A Prefeitura de São Bernardo continua trabalhando para tentar mudar a decisão do fechamento da planta da montadora na cidade, que emprega 2.800 pessoas diretamente, além de 1.400 terceirizados, e 24,5 mil em toda a cadeia. “Vamos continuar pressionando e insistindo nas negociações para tentar reverter a situação. Ainda não tem nada encerrado”, afirmou o prefeito Orlando Morando (PSDB).

Desde o anúncio do fechamento, Morando se reuniu com o governador do Estado, João Doria (PSDB) – que afirmou que irá procurar um comprador para a unidade –, com o SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) e com o cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Adam M. Shub. Ele também já havia se encontrado com o secretário especial Carlos da Costa.

Na quinta-feira, dia 14, a administração municipal se reunirá novamente com o MPT (Ministério Público do Trabalho), o SMABC e a diretoria da Ford. No primeiro encontro, realizado há duas semanas, os órgãos solicitaram a suspensão do anúncio de fechamento da Ford.

Na sexta, a diretoria da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo realiza audiência pública para debater o encerramento das operações da montadora na cidade. Estarão presentes os desembargadores Ivani Contini Bramante e Davi Meirelles.

Ontem, o presidente do SMABC, Wagner Santana, o Wagnão, e outros representantes da entidade se reuniram com executivos da Ford na matriz, em Dearborn, Michigan, nos Estados Unidos. O intuito é discutir alternativas ao fechamento da planta. O Diário tentou contato com os dirigentes que participaram do encontro, mas não conseguiu retorno até o fechamento desta edição. A assessoria informou que o sindicato se pronunciará somente hoje.


Cerca de 2.000 participam de passeata

Cerca de 2.000 trabalhadores da Ford participaram ontem de passeata contra o fechamento da planta de São Bernardo, anunciado em 19 de fevereiro, que partiu do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em direção à Praça Matriz, no Centro, onde houve ato inter-religioso. Políticos como o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), o deputado estadual Teonilio Barba (PT) e o ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho (PT) marcaram presença e fizeram discursos de apoio aos funcionários da montadora.

Marinho, que chegou a chorar ao relembrar antigas lutas sindicais, afirmou: “Hoje (ontem) eu senti a mesma emoção de 1998 e 1999, um sentimento de que não vai ser fácil. Fico pensando nos companheiros que estão nos Estados Unidos, sua emoção. Fico na torcida para que a reunião de hoje (ontem) se transforme em dias, que não seja em poucas horas, que ela se traduza em uma decisão que a Ford tem que tomar”, disse. “Espero que a direção olhe para o Brasil, para cada rosto, cada olhar dos filhos dos trabalhadores. Peço a Deus que recebamos boa notícia, mas temos que estar preparados para boas e más notícias. Acima de tudo, temos que estar preparados para fazer uma luta tão longa quanto fizemos no passado.”

Apesar de apreensivos, funcionários da Ford estão esperançosos. Ao longo da caminhada, eles empunharam cartazes com dizerem como “A Ford só pensa no lucro”, “não vou desistir do meu emprego” e “minha família depende do meu emprego” e emanaram diversas vezes o grito de guerra “Fica, Ford”.

“A expectativa é grande e o coração está a mil. Estamos vivendo essa agonia há duas semanas, mas acredito que vamos conseguir manter a planta”, disse o operador Clodoaldo Lopes, 46 anos.

“Ficamos tristes, pois tem gente que está perto de se aposentar, e como fica esse pessoal? E quanto aos mais novos, com filho para nascer ou pagando escola? A Ford é tradição no Brasil e a gente coloca o coração no trabalho. A empresa tem condições de ficar e se ajustar”, opinou o controlador estatístico de processo Ronaldo Franco, 49. (Marília Montich) 




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