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Geladeira abre as portas para o mundo da literatura

Moradores do Parque Miami, em Santo André, instalaram uma 'gelateca' na Praça São Jerônimo Emiliano

Caroline Garcia
Do dgabc.com.br
17/12/2018 | 16:00
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Caroline Garcia/DGABC


Um dos maiores autores da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade disse que “a leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”. Apesar de ter vivido entre 1902 e 1987, a realidade que o poeta escreveu continua a mesma.

De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, do Instituto Pró-Livro, o brasileiro não lê nem três livros inteiros por ano. Foi pensando em tentar mudar este cenário que moradores do Parque Miami, em Santo André, instalaram uma 'gelateca' colaborativa na Praça São Jerônimo Emiliano, na altura do número 5.290 da Estrada do Pedroso. A proposta é fazer o eletrodoméstico desativado funcionar como uma biblioteca comunitária.

“Já tínhamos tido uma experiência de troca de livros aqui na comunidade que deu certo e aquilo ficou na minha cabeça. Um tempo atrás, vi uma notícia sobre um projeto no Nordeste que começou com geladeira comunitária e depois se transformou num container. Achei a ideia simples, revolucionária e extremamente funcional. Além disso, temos somente as bibliotecas próprias das escolas aqui no bairro”, conta Douglas Eduardo Pianelli, 42 anos, integrante da Associação de Moradores da Área Verde Parque Miami.

A comunidade também embarcou no projeto e, pouco tempo depois, já tinham uma geladeira com decoração personalizada e um acervo de 50 livros e 70 gibis. “Ficamos nos perguntando se iria dar certo, se ninguém ia pegar os exemplares para vender. Mas a ideia foi tão bem aceita que já reabastecemos a gelateca oito vezes com doações. Não conseguimos medir para quem vai os livros, mas sabemos que estão sendo consumidos.”

Para o comerciante Marcos Pombal, 46, a intenção da comunidade é, aos poucos, mudar a cultura principalmente da juventude. “Toda vez que acaba o ano, a gente vê estudantes jogando os livros para cima e até rasgando. A nossa ideia é conscientizar os mais novos que no próximo ano alguém vai precisar desse material assim como eles podem precisar dos livros dos mais velhos.”

Um exemplo de que o conhecimento pode e deve ser compartilhado chegou sem querer até Felipe Froes Brandão, 31, 1º secretário da Associação de Moradores, em uma noite em que ele estava organizando os livros da gelateca. “Cheguei lá por volta das 22h e havia três meninos na praça. Um deles, por volta de 16 anos, se aproximou perguntando se eu tinha alguma coisa a ver com a geladeira. Respondi que sim, que foi um grupo de amigos que criou. Ele me agradeceu pela iniciativa e falou que eu era meio louco por colocar todos os meus livros ali sem saber se as pessoas iriam devolver. Dei risada e disse que geralmente leio o livro uma única vez e depois ele fica pegando poeira, então resolvi compartilhar todos que tinha. Falei ainda que só tinha um livro que eu havia lido duas vezes quando mais novo por ter gostado muito, que foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Apesar de eu falar de um jeito engraçado e brincando, o menino não riu. Disse que Harry Potter tinha sido o único livro que ele já conseguiu comprar e que ele só ia ter acesso a leitura agora, por causa da gelateca. Fiquei extremamente emocionado.”

Para que a gelateca continue ativa, a comunidade pede para que, além da conservação da geladeira, as pessoas colaborem com doações de livros e gibis. As contribuições podem ser depositadas no próprio local ou é possível ainda entrar em contato com o perfil do Facebook da Associação de Moradores da Área Verde Parque Miami.

Veja o convite do Douglas Pianelli, integrante da Associação de Moradores da Área Verde Parque Miami:




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