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Cotidiano
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Cuidado com as flores
Rodolfo de Souza
18/10/2018 | 07:00
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Está ficando complicado exercer o ofício que tanto prazer me dá. Não que eu tenha perdido o tino pela coisa. Isso não.

Fato é que os temas pelos quais costumo viajar estarão, em breve espaço de tempo, restritos a singelas poesias que falam somente de borboletas e passarinhos, jamais das flores.

O amigo leitor há de compreender e de se solidarizar com este cronista que se enche de temor diante da possibilidade de ver, repentinamente, calada a sua caneta de escrita clara e certeira. Calada não, bem pior: censurada. 

Não duvido mesmo que isso venha a acontecer, uma vez que, aos poucos, deixa o conforto do seu armário o ser humano adulto que é facilmente ludibriado pela enxurrada de conversa fiada, tão frequente nestes tempos conturbados.

Alguns nasceram, cresceram, estudaram, envelheceram e, mesmo assim, encontram-se, ainda hoje, carentes do elixir do senso crítico, elemento essencial quando se pretende tocar a vida com um mínimo de dignidade. 

Escolarizados ou não, entretanto, são pessoas que almoçam e jantam as redes sociais, e que não filtram as informações que lhes chegam por meio delas. Preocupa-me, inclusive, esta questão, tendo em vista que, se no passado as massas eram conduzidas ao sabor dos ventos soprados pela mídia tradicional, com o advento da internet, então, isso se tornou mais fácil e abrangente.

Vi, há pouco, uma matéria que falava em manipulação de um povo por meio da criação de novas culturas que são incorporadas às já existentes. Ou ainda, a alteração das que já fazem parte de seu cotidiano, com vista a eleger, num pleito justíssimo, um determinado candidato ou uma legenda, e, com isso, levar a Nação a trilhar caminhos sinistros traçados por meia-dúzia.

Cria-se, então, nesse povo uma necessidade premente de seguir uma determinada ideologia, por mais abominável que possa parecer. E veja, amigo leitor, que toda essa manobra conta com o inestimável apoio do Facebook, que fornece os dados necessários para o sucesso da empreitada.

Trata-se, afinal, de uma ferramenta amplamente utilizada pela maioria da população deste mundo moderno. É gente sem noção de perigo, que expõe publicamente a sua intimidade, seus gostos e seus anseios, ignorando o fato de que, com isso, auxilia os arquitetos das manobras a fazerem bem o seu trabalho.

Mera coincidência, tenho certeza, a semelhança com a atmosfera que permeia nosso lindo céu azul-anil neste atabalhoado 2018. Acho até que este clima tem origem na espessa névoa que torna cegas as pessoas que metem a cabeça na boca do leão, e esperam, cheias de uma ingenuidade tocante, que ele não a feche.

E o bicho, tinhoso que só vendo, come pelas beiradas e anseia pelo momento em que poderá devorar de uma só vez todas as suas presas, saciando a sua fome de poder. Instante inefável este, que certamente não deve demorar.

Aí, quando o fato se consumar, amigo, por certo que terei que mudar o tom das minhas palavras. Deixarei de lado as flores para falar somente da beleza das cores do arco-íris, por exemplo.

Não! Acho que serei obrigado a mudar novamente o meu objeto de exaltação.

Está mesmo difícil tocar este ofício.




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