Os dados fazem parte das investigações realizadas pelo Ministério Público da Espanha que, há um ano, prendeu indivíduos implicados em uma suposta rede de corrupção internacional que envolvia a CBF. Desde o ano passado, o inquérito especificamente sobre Teixeira foi transferido da Espanha para o Ministério Público Federal, do Brasil.
Mas o inquérito continua em Madri contra os demais envolvidos, entre eles o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell. Preso em maio de 2017, ele tem insistido em pedidos para que possa acompanhar seu julgamento em liberdade. Mas a Audiência Nacional, em Madri, tem rejeitado todos seus recursos. Joan Besolí, um de seus parceiros comerciais detido por fazer parte do esquema, também tem tido seus recursos recusados.
Nesta quarta-feira, a Justiça espanhola uma vez mais negou a liberdade aos dois espanhóis implicados no caso. Mas, nos documentos usados para justificar a decisão, os juízes revelam agora parte do esquema criado supostamente com a participação de Teixeira.
A investigação começou na Espanha depois que, em 2013, a reportagem do Estado revelou com exclusividade como Rosell criou uma empresa - a Uptrend - para receber milhões de euros, supostamente por serviços prestados durante mais de uma dezena de amistosos do Brasil a partir de 2006. Os documentos ainda apontam que "Rosell foi o máximo responsável por uma organização dedicada a lavagem de dinheiro."
"Assim, entre 2007 e 2011, foram realizadas operações financeiras tendentes a ocultar a verdadeira procedência e titularidade de fundos por um importante total de 14,9 milhões de euros (cerca de R$ 64 milhões), que se desviaram em prejuízo da CBF e a favor de seu presidente, o sr. Ricardo Terra Teixeira", disse o documento da Audiência Nacional datado de 23 de maio de 2018. "Graças a Rosell, se organizou um emaranhado de contas para ocultar os fundos", denuncia. Ele nega qualquer irregularidade, enquanto seus advogados na Espanha insistem que ele ajudou a CBF a aumentar sua renda.
Para os procuradores espanhóis, porém, o esquema servia para desviar recursos e uma parte substancial iria justamente para Teixeira, na época presidente da CBF.
REDE - Agora, em novos detalhes revelados, a Justiça espanhola aponta como a Polícia de Andorra chegou à constatação de que Teixeira era o principal beneficiário da empresa Arvenel International Limited, criada nas Ilhas Virgens. A empresa recebeu da Fundação Regata US$ 862 mil (R$ 3,1 milhões) entre 2008 e 2010, além de outros 219 mil euros (R$ 945 mil) em 2011.
A Fundação Regata, por sua vez, recebia seus recursos da Uptrend, empresa em nome de Rosell e que mantinha um contrato envolvendo a seleção. Nesse mesmo período, foram transferidos para ela 1,6 milhão de euros (R$ 6,9 milhões) e US$ 310 mil (R$ 1,1 milhão).
A rota desse dinheiro termina nos Estados Unidos. A Arvenel transferiu US$ 2,1 milhões (R$ 7,6 milhões) para a sociedade Silver Sands, na Flórida. O objetivo era o pagamento de um apartamento em Coral Gables, 2516, Ponce de León.
Segundo a Justiça espanhola, esse não era o único caminho do dinheiro. A empresa Itasca, criada no Panamá, recebeu da Fundação Regata diversos depósitos a partir de 2007 (320 mil euros e US$ 335 mil - R$ 1,3 milhão e R$ 1,2 milhão, respectivamente), além de outros 973 mil euros (R$ 4,1 milhões) da Uptrend, a empresa de Rosell.
A Itasca ainda recebeu em 2011 US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhões) da Extermine Travel, que por sua vez recebeu o mesmo valor da Klefer, empresa envolvida nas investigações do FBI sobre a corrupção na CBF.
"A Klefer assinou um contrato em 2011 com a CBF, pelos quais os pagamentos estariam relacionados com os pagamentos de supostas comissões ilegais para a obtenção de direitos de transmissão e marketing da Copa do Brasil, de 2013", disse a Audiência Nacional espanhola. "Essas comissões iriam para Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero", aponta o documento.
Os investigadores espanhóis apontam que o próprio Teixeira depositou dinheiro na conta da Itasca, com transferências de US$ 3,1 milhões (R$ 11,3 milhões) entre 2006 e 2011 e 1,5 milhão de euros (R$ 6,4 milhões) entre 2006 e 2009. Dessa conta também foram realizadas "transferências a empresas localizadas em paraísos fiscais (Suíça, Panamá), assim como aos EUA".
Retomando uma informação já publicada em maio de 2017, a Audiência Nacional conta ainda como Teixeira e sua ex-mulher, Ana Rodriguez, chegaram a ter cartões Visa Platinum de contas da empresa BON US, criada por Besoli em Andorra, hoje preso.
Ainda em 2002 e 2003, o brasileiro depositara US$ 7,7 milhões (R$ 28 milhões) nessa conta, além de outros US$ 2,5 milhões (R$ 9,1 milhões) em 2010. De acordo com os espanhóis, parentes de Teixeira também usaram a conta.
Nos últimos meses, Teixeira e seus advogados indicaram em entrevistas no Brasil que o ex-dirigente não cometeu qualquer tipo de irregularidade.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.