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Playcenter
Só sobrou o nome

Playcenter ganha espaço ‘indoor’ e se distancia do que um dia já foi o maior parque de São Paulo

Daniela Pegoraro
Especial para o Diário
08/02/2018 | 07:00
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Divulgação


 A música temática alta dá a impressão de entrar em outro mundo. A primeira visão que se tem do ‘novo Playcenter’ é da Barca Pirata (ou Viking, para os mais velhos), toda iluminada com seu nome cintilando em LED. No entanto, quem vai com a expectativa de reviver experiências e adrenalina do antigo parque de diversões pode se decepcionar.

Dentro do Shopping Aricanduva e com grande parte dos brinquedos no estilo fliperama, o Playcenter Family foi inaugurado no começo do ano com proposta que, em praticamente nada, está atrelada à do local que fechou as portas em 2012. Não tem como comparar, simples assim. A começar pelo local – indoor – e tamanho: 5.000 m², 80 mil m² a menos do que o original.

O diretor de novos negócios, Roger Ely, explica que o modelo foi pensando para agregar toda a família. “A gente queria um lugar em que os pais pudessem brincar junto com os filhos”. E eles podem, afinal, os brinquedos são abertos para todas as idades, embora os mais ‘radicais’ exijam mínimo de altura.

Isso não significa que o espaço deixa de trazer nostalgia. Nas paredes, por exemplo, estão gravuras que remetem a atrações do antigo parque. E assim, deixando de lado o que um dia já foi o Playcenter, o novo espaço cumpre bem a que veio. Entre as 120 atrações, a que mais se destaca é a montanha-russa Dragon, de mesmo nome da que funcionava no outro parque, porém, menor. Apesar de pequena, é até rápida e garante um pouco de adrenalina, mas para as crianças.

Quem ainda procura por atrações mais radicais, a Sky Tower se torna opção com seus 14 metros de queda livre – o Turbo Drop tinha 60 metros. Já o Disko, que gira no próprio eixo e sobre trilhos curvados que alcançam o teto do local, é algo diferente, pelo menos. Além desses brinquedos, o parque conta também com carrinho de bate-bate, carrossel, parede de escalada e inúmeros simuladores.

Era lá que brincava Lucas Ohuti, 12 anos. Na companhia da mãe e da avó, ele visitava o espaço pela primeira vez e já pedia para repetir a dose. O garoto frequentava o local quando antigamente era uma Playland. “Está bem maior”, observa. Apesar da idade, o menino chegou a ir no antigo Playcenter com a mãe, Daniela Ohoti, 39, mas não lembra da experiência. Ela, por outro lado, tem o parque gravado nas lembranças. O novo, segundo Daniela, nada mais é do que uma Playland gigante. “Não é a mesma coisa do parque que fechou. A ideia é totalmente diferente, são outros tipos de brinquedos”, compara.

E tamanha semelhança com a Playland não é mera coincidência, afinal, o proprietário e fundador das duas marcas é o mesmo: Marcelo Gutglas. Foi ele, inclusive, quem trouxe para o Brasil as maquinas fliperamas. Tal como a outra franquia, cada atração tem um custo diferente para ser utilizada e é paga por meio do Playcard, cartão recarregável – custam de R$ 0,90 a R$ 20. A entrada, por sua vez, é gratuita.

Mas ainda existe um plano para a construção do Playcenter ao ar livre, em uma área de 100 mil m². De acordo com Ely, a ideia ainda está no começo e, por isso, é difícil dar mais detalhes. Entretanto, o modelo do novo parque também não será como o antigo, visto que a ideia é manter um espaço familiar, voltado às crianças e aos seus pais.

Andreense era fanático de bater ‘carimbo’
Os carimbos nas mãos deixavam marcado na pele o que seria um dia longo e muito proveitoso. O cheiro de pipoca, a música alta, os gritos de adrenalina vindos de todos os lados e até as enormes filas que se formavam na frente das atrações faziam com que a realidade, mesmo que por algumas horas, ganhasse outro sentido. Hoje, o que sobra é o sentimento de nostalgia para aqueles que cresceram indo ao Playcenter, fechado depois de 39 anos de atividade.

Em um terreno de 85 mil m² na capital paulista, colado à Marginal do Tietê, o espaço foi inaugurado em 1973. Fundado por Marcelo Glutgas, suas atrações eram sempre inovadoras. Em 1981, por exemplo, a Looping Star foi a primeira montanha-russa com looping na América Latina. Por isso, não demorou para que o Playcenter se tornasse cartão-postal de São Paulo e uma das principais opções de lazer na cidade. Prova disso é que, ao longo de sua existência, cerca de 60 milhões de pessoas visitaram o local.

Visitas, inclusive, internacionais. Na divulgação do filme King Kong, a atriz Jessica Lange foi ao parque na companhia de um gorila de 15 metros. Isso em 1977, Em 1993, o cantor Michael Jackson também quis explorar o local com os filhos e, naquele dia em questão, o parque foi fechado por duas horas e meia só para ele. Além disso, o Playcenter também foi palco para os shows do Festival Planeta Terra, que contou com presenças de bandas nacionais e também internacionais, como The Strokes, Phoenix e Interpol.

Os frequentadores assíduos eram aos montes. Um deles era o estudante de Santo André Kelvin Sécolo, 21 anos, que começou a visitar o parque em 2001 e não parou até o dia do seu fechamento, em 29 de julho de 2012. “Quando deu 19h, o horário de fechar, todos os funcionários fizeram uma roda na frente do parque, dando as mãos. Todo mundo começou a chorar”, relembra o estudante.

“Teve uma época em que saía da escola e ia direto para lá. Cheguei a ir cinco vezes na mesma semana”, conta. Ia tanto que acabou fazendo novo grupo de amigos e conhecendo os funcionários do local, inclusive o proprietário. E não eram só as atrações que faziam com que Sécolo fosse apaixonado pelo lugar. “Acredito muito em energia e a energia de estar lá era muito boa. É um parque de diversões, raramente você vai encontrar alguém triste”, diz.

Ele ainda acredita que o Playcenter vai voltar no mesmo formato de antes, pois isso foi prometido pela empresa. “Mesmo que eu tenha 60 anos quando isso acontecer, já vou ficar feliz”, garante.

QUEM MAIS FOI NO ANTIGO
Larissa Pereira, 20 anos, de Ribeirão Pires...
... conseguiu acompanhar o parque até seu fechamento. “A primeira vez eu fui com a família. Achei que minha mãe ia morrer em um dos brinquedos, porque ele virava de ponta-cabeça”, conta. Das vezes seguintes foi com a escola e amigos, e chegou a viver no local paixões e desilusões. Para ela, que é do Grande ABC, o Playcenter ter fechado foi especialmente ruim. “Para gente da região era o mais próximo. Agora só tem o Hopi Hari, mas é longe demais”, lamenta. E por conta de medo de monstros, Larissa nunca ia ao local na época das Noites do Terror. Iniciado em 1988, o evento acontecia próximo ao Halloween e trazia ao parque ambientação, shows e personagens do gênero horror. A procura pelo evento era tanta que, de acordo com dados do próprio Playcenter, foram cerca de 10 milhões de pessoas que viveram a experiência em seus 25 anos de existência.

Ynarah Zamproni, 19 anos, de Ribeirão Pires...
... também chegou a frequentar o parque na Marginal Tietê. Entre as lembranças mais ‘vivas’ estão as experiências que viveu em um brinquedo especial: o Turbo Drop, chamado também de ‘elevador’. Ynarah foi à atração, inclusive, em um dia que chovia muito e a energia no momento em que elas estava no brinquedo. “Fiquei em choque porque parou. Ele não caiu, nem subiu. A gente ficou cerca de 20 minutos lá em cima até voltar a força”, lembra a estudante. Na época, era comum também que os visitantes fossem ao local com excursões da escola, o que aconteceu algumas vezes com a garota. “A gente ficava tão na expectativa que chegava a não dormir na noite anterior de tanta ansiedade. Era muito legal, tenho ótimas lembranças. Hoje, infelizmente, a nova geração nunca vai saber o que é poder ir a um Playcenter de verdade.”

Você sabia?

Vale lembrar que nem tudo foi diversão para os frequentadores nos quase 40 anos de funcionamente do Playcenter na Marginal do Tietê. O primeiro acidente no espaço aconteceu em 1995. Renan Pereira, na época com 11 anos, caiu do antigo brinquedo Space Loop, que girava em volta do próprio eixo e de um eixo maior, causando fraturas no crânio e fêmur do menino. 

Já em setembro de 2010, dois carrinhos colidiram na montanha-russa Looping Star, ferindo cerca de 15 crianças e adolescentes. A batida aconteceu quando um carrinho terminava o percurso e o outro estava prestes a iniciá-lo, o que evitou desastre marior. 

Pouco menos de um ano depois, em abril de 2011, o brinquedo Double Shock, que chegava a atingir uma altura de 12 metros, teve uma de suas travas abertas no meio do funcionamento. O resultado catastrófico da falha fez com que oito pessoas caíssem da atração e ficassem feridas. Um documento mostrou que houve falha humana por parte do funcionário responsável pelo equipamento.  Na época, o parque anunciou reforço nas medidas de segurança, mas, no ano seguinte, o Playcenter fechou suas portas. 




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