Dois moradores de rua tiveram os corpos queimados após discussão com um homem na noite de sexta-feira, em Santo André. O caso ocorreu na Avenida Dom Pedro I, em local próximo ao Terminal da Vila Luzita. O agressor foi detido por pessoas que passavam por lá – uma, inclusive, chegou a se ferir levemente ao tentar ajudar. Ele foi preso em flagrante pela Polícia Militar e encaminhado ao CDP (Centro de Detenção Provisória). O caso foi registrado no 4ºDP (Jardim) como tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e uso de meio cruel.

De acordo com o Boletim de Ocorrência, Adaildo Raimundo de Jesus, 43 anos, Ducineia Sousa da Costa, 47, e Damião Batista de Oliveira, 48 – nomes que constam no documento oficial que registrou o caso – teriam tido uma discussão por espaço. Os três queriam se abrigar sob o toldo de uma loja. Pouco antes das 23h, Damião foi até um posto de combustível, comprou R$ 5 em álcool, retornou ao local onde o casal já dormia e ateou fogo. A Polícia Civil informa que o agressor teria admitido estar alcoolizado.

Socorridos, Adaildo foi encaminhado para o Hospital Geral de São Mateus, na Capital, com queimaduras nas pernas. O estado dele não foi divulgado. Já Ducineia foi levada ao CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André e transferida, na tarde de ontem, para a unidade hospitalar de São Mateus. Conforme boletim divulgado pela Prefeitura de Santo André, na última avaliação no CHM, ela tinha queimaduras de 2º e 3º grau na face, região cervical, tórax e braços, com aproximadamente 14% do corpo queimado. Até o fechamento desta edição, o quadro de saúde dela era estável.

Segundo os primos Aparecido Garcia, 60, e Nelly Raquel Fernandes, 64, proprietários de uma casa do Norte, um dos comércios atingidos pelo incêndio, o casal é pacífico e mora na região da Vila Luzita há, pelo menos, dez anos. “Eles nunca fizeram mal a ninguém, pelo contrário. São cordiais, passam em frente à nossa loja e dão bom dia, nos ajudam quando saímos com o carro, enfim, vivem na rua, às vezes bebem, mas nunca nos prejudicaram”, ressaltou Nelly. Apesar do susto, os comerciantes disseram que não tiveram grande prejuízo. O fogo atingiu a pintura da cobertura de zinco e estragou a fachada da loja, além de derreter parte da cobertura de PVC do local.

Outro caso deixou dois mortos em agosto na mesma cidade
Em agosto de 2017, Fabio Netto das Neves, 48 anos, e o inglês Michael Steer Renshaw, 50, foram assassinados a pauladas pelo andarilho Manoel Almeida da Silva, 46, no Bairro Casa Branca, em Santo André. Ele foi preso três dias depois e confessou o crime, por motivo de “vingança”. Na época, disse estar arrependido.

No fim da tarde do dia 28, Silva arrancou uma barra de ferro do estacionamento de um salão de cabeleireiro e se dirigiu à calçada do Cini (Centro Integrado de Neurologia Infantil), na Rua Onze de Junho. No local, dormiam Netto e Renshaw que foram agredidos, sem chance de defesa.

Imagens de câmeras de segurança instaladas em estabelecimentos da área não captaram o momento do crime, mas mostraram o agressor se desfazendo da arma utilizada e deixando tranquilamente o local. As imagens exibem ainda um terceiro morador de rua que estaria com as vítimas, mas que conseguiu escapar das agressões.

Moradores e comerciantes do entorno contaram ao Diário, na ocasião, que ambos eram pessoas queridas e conhecidas por tratarem todos com educação. Ainda conforme os relatos, Netto estudou Direito e tinha dois filhos. Renshaw já havia atuado como professor de inglês. “Ele me ensinou muitas palavras”, disse João Lucio Oliveira. “Eram pessoas nota 10, que nunca fizeram mal a ninguém. Todos gostavam deles”, lamentou.

No mês seguinte, foi realizada missa de 7º dia da morte dos moradores de rua. A cerimônia aconteceu na Catedral do Carmo e foi conduzida pelo padre Joel Nery.