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Segunda-Feira, 29 de Abril de 2024

Amperagem sempre em alta
Rodolfo de Souza
09/08/2017 | 22:50
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 Eles adoram rir. Rir de qualquer bobagem é por certo o exercício mais praticado entre eles. Rir às vezes até tomar o fôlego, como se dizia antigamente, é sem dúvida alimento que supre de energia vital a sua alma jovem, propagando ao redor uma aura de constante alegria, como se a vida fosse assim, feita só de sábados. E pensar que tamanho sentimento já habitou o coração da gente que há muito o viu partir, ficando só na saudade. Gente que deixou a adolescência rumo ao funesto mundo da maturidade, e agora morre de inveja da garotada quando, de repente, um flash daquele momento de sua história comparece, sorrateiro, só para lhe roubar a paz de pessoa madura e experiente. Surge, às vezes, por meio de uma música antiga ou de um perfume... Sensação boa que a sabedoria divina, com o passar dos anos, se encarregou de apagar da memória dos coroas, e que aparece às vezes só para chatear. “Lembro como se fosse ontem” – contestam os turrões. Mas a verdade é que tudo aquilo que lhe balançou a alma um dia, se apagou.

E é justamente esse o jeito de ser de pessoa que acaba de deixar os cueiros e anseia, com uma ponta de medo, adentrar o bem comportado recinto adulto. Na verdade o que sente mesmo é pavor de ver cada vez mais rarefeita sua querida atmosfera adolescente, momento em que começa a vislumbrar o universo que sabe existir, mas que, sobre o qual, evita pensar. Procura, inclusive, dar as costas à conversa todas as vezes em que o assunto gira em torno da questão que os condena a deixar sua tão amada ilha de juventude, separar-se da turma e partir para a chatice da vida, propriamente dita. Estar, pois, diante da verdadeira face dessa vida é que os aterroriza. Afinidade com ela certamente que não há. Por isso, creio eu, o exagero na farra.

Catarse de quem se vê diante do inevitável, do iminente ingresso num terreno hostil e sem graça.

Posso ver tudo isso em cada gesto, em cada olhar, em cada palavra daquele que vê com assombro sua estatura repentinamente alta, seus pés enormes, pêlos e voz num timbre qualquer coisa diferente do habitual. Tudo num estalar de dedos.

É claro que enquanto esse tempo não chega, aproveita a vida para estapear-se, para botar em dúvida a idoneidade moral do semelhante com impropérios impublicáveis, para prestar sincera homenagem aos familiares de uns e outros, detalhando seus atributos físicos, para praticar o salutar exercício da preguiça... E tudo isso dentro de um clima de muita, mas muita diversão.

Salve, pois, essa garotada barulhenta que esbanja inconsequência, cultua o corpo, ri de tudo e ainda não sofreu as desventuras que costumam azedar o humor daquele que há muito caminha por esta via de mão única, cujo barulho também já é presença no ouvido adolescente.




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