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Domingo, 28 de Abril de 2024

'Bandas Gaúchas' garante novos ares à série 'Acústico MTV'
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
30/05/2005 | 07:57
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Sempre esteve no íntimo da série Acústico MTV: os discos por ela autorizados ou consolidavam a carreira musical de peixes grandes, e funcionavam como antologias desplugadas de tais artistas, ou ressuscitavam peixes mortos, cuja trajetória já fora dada como extinta. Mas o novo produto do selo pende para algo diferente. O Acústico MTV - Bandas Gaúchas (Sony/BMG, CD a R$ 24, DVD a R$ 35) reúne num único álbum o trabalho de quatro grupos que vêm lá dos pampas, esse universo paralelo e auto-sustentável do rock nacional.

Os quatro nomes arrebanhados, se não gozam da fama de um Roberto Carlos entre a massa, pelo menos já foram ouvidos mais de uma vez nas távolas do rock verde-amarelo: Bidê ou Balde, Wander Wildner, Ultramen e Cachorro Grande. A cada um - por ora, nem peixes grandes nem peixes mortos no aquário das FMs - foram destinadas cinco faixas, gravadas em fevereiro deste ano, em São Paulo.

Calma lá! Um trabalho que é integralmente constituído por gaúchos, empenhado em destacar um sensível movimento cultural do Rio Grande do Sul, gravado em São Paulo? "Tanto essa geração de roqueiros como as anteriores se esforçam para tocar nas rádios locais, mas também para ultrapassar essa barreira e conquistar seu espaço em nível nacional", afirma Marcelo Ferla, jornalista gaúcho especializado em música e que acompanha as expressões sul-rio-grandenses do rock desde os tempos em que os Engenheiros do Hawaii faziam cursinho para a engenharia musical.

A gravação em São Paulo tem razões técnicas, bem como facilidades de logística e produção, segundo Romi Atarashi, diretora do programa Acústico MTV. Ela aproveita e relata a idealização do disco em formato cooperativo: "A idéia surgiu da nossa diretora de relações artísticas, Anna Butler, que pensou em dar um ar novo para o Acústico. E a opção pelas bandas gaúchas veio quando nós descemos até Porto Alegre para gravar o MTV ao Vivo do Nando Reis".

Jurássico - pelos 22 anos de dedicação ao rock alternativo, e não pela sua música -, Wander Wildner contesta a inclinação de regionalizar o regional. "A gente tem uma realidade, que não é vir para São Paulo só porque é o eixo cultural - isso não passa de uma questão técnica, porque a maior mídia do Brasil está aqui. Nós, como todos os artistas, queremos levar nossa música para o mundo, mostrá-la para o maior número de pessoas do Brasil, e depois voltar para nossa cidade e contar como é que foi", afirma o ex-integrante dos Replicantes, hoje aos 45 anos.

Existe uma unidade cultural, decorada pela intensa diversidade musical, nessa chamada "cena do rock sulista", da qual o Acústico MTV - Bandas Gaúchas é prova inconteste. O Brasil descobriu esse dialeto sonoro com códigos próprios em 1986, ano do lançamento da coletânea Rock Grande do Sul, resultado de uma assembléia musical com signatários como Engenheiros, De Falla e Replicantes. Era a primeira manifestação sólida de que existia vida roqueira para além das terras paulista, carioca e brasiliense.

Dali por diante, ouviu-se Nenhum de Nós, Acústicos e Valvulados, Cascavelletes, Graforréia Xilarmônica e Júpiter Maçã, além dos presentes Bidê ou Balde, Wildner, Ultramen e Cachorro Grande.

Não por acidente. Um dado a ser levado em conta no progresso midiático do rock gaúcho é a "articulação das rádios do Rio Grande do Sul, que abrem espaço para os artistas locais", conforme Marcelo Ferla. "Essa particularidade local, para mim, é a grande diferença, porque essas muitas rádios, entre as quais estão as mais ouvidas do Rio Grande, firmaram também um circuito de shows que sustentam as bandas daqui", completa.

Wander Wildner confirma a análise: "São cinco rádios tocando as bandas do Rio Grande do Sul e formando uma cena na qual os artistas podem sobreviver de fazer shows lá, se quiserem. E isso você não tem em nenhum outro lugar do Brasil". O veterano roqueiro vai além, e chega a considerar o novo Acústico MTV - Bandas Gaúchas o grito de guerra de uma revolução fonográfica. "O rock alternativo tem de se rebelar contra esse negócio de que as rádios só tocam 32 músicas para entrar nas paradas e de que os grandes artistas do Brasil viraram uns bundas-moles. Isso é uma merda. As pessoas estão cansadas disso, o nosso sonho é querer ouvir o Brasil no rádio, porque rádio não tem de tocar 32 músicas, mas 1.032 músicas, de Recife, de Salvador, de Porto Alegre...".




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