O CD, produzido por João Marcello Bôscoli, surpreende logo de cara, com introdução de 87 segundos com som de helicóptero, gente falando, tiros e latidos de cães. “A idéia era mostrar uma fuga espetacular, como foi a do Escadinha”, diz Criminal D. O traficante em questão foi resgatado de helicóptero do presídio da Ilha Grande, no Rio, em 1986.
Essa introdução emenda com Retrato Falado, que fala sobre a vida na prisão. Ela já é um aperitivo do que vem pela frente: um rap menos verborrágico e mais melodioso, que sofre influências diversas sem perder sua identidade hip hop.
Carro Cinza, a quinta faixa, é um dos pontos altos. Nela, o rapper fala sobre o recorrente tema do policial corrupto com uma linguagem renovada, que deixa o ouvinte completamente envolvido.
Interessante também é que Criminal D, pai de quatro filhos, não deixa de fazer seu alerta para os jovens não entrarem no caminho errado. Mas sem hipocrisia. Em Abra o Olho, por exemplo, o refrão dá o aviso: Abra o olho, não vacile, não seja trouxa/ A malandragem pode te matar.
“Tem de rolar um toque de prevenção. Tem grupo que transmite isso (apologia do crime), o que, para o garoto de mente fraca, acaba só dando adrenalina”. O próprio Criminal D poderia ter sido mais um a seguir o caminho errado. Não concluiu o ensino fundamental e, profissionalmente, só se deu bem mesmo como cabeleireiro.
Seu primeiro CD demo foi financiado por um traficante que cortava o cabelo com ele. “Ele me deu R$ 5 mil, e sem isso eu não teria como lançar meu trabalho. Mas me tratava como artista, cada um na sua”, conta. A “parceria” durou pouco pois, segundo ele, o tal traficante morreu tempos depois.
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