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Terça-Feira, 30 de Abril de 2024

Estréia nesta sexta o surpreendente 'Durval Discos'
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
27/03/2003 | 20:22
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Em uma das cenas iniciais de Durval Discos, que estréia nesta sexta, o personagem Durval, interpretado por Ary França, tenta convencer um cliente das vantagens do vinil sobre o CD. O ano é 1995 e o dono da pacata loja de discos no bairro de Pinheiros não se conforma que, em breve, as bolachas serão peça de museu. “Veja só, o vinil tem lado A e lado B. O CD não tem”, diz. A explicação meio tosca de Durval não acontece à toa, assim como tudo no longa de Anna Muylaert, que levou sete Kikitos para casa no último Festival de Gramado – melhor filme, diretor, roteiro, fotografia e direção de arte, além dos prêmios do júri popular e da crítica.

Durval Discos, de início, parece uma comédia de costumes. Uma reviravolta o transformará em suspense, como se o filme, como o vinil, tivesse um lado A e um lado B. A idéia de Anna é corajosa. O público desavisado é que pode não assimilar a mudança brusca no roteiro. Não é difícil, após uma sessão de Durval Discos, achar espectadores chocados ou atônitos com o que viram.

Para compor a história, Anna inspirou-se em uma antiga loja de discos paulistana, a Edgar Discos, que também ficava em Pinheiros. “Eu queria fazer um filme barato, de uma locação só, com poucos personagens e muita tensão. Que tivesse um roteiro interessante para o espectador”. Edgar, como o fictício Durval, não acreditava que os CDs estavam dominando o mercado e continuava totalmente fiel aos LPs.

O solteirão Durval leva uma vida medíocre. Aos 45 anos, ainda se veste como um hippie dos anos 70 e vive trancafiado dentro de casa com a mãe, Carmita (Etty Fraser). No sobrado onde mora também funciona sua loja, que vive às moscas. A freqüentadora mais assídua do local é Elizabeth (Marisa Orth), que não entra para comprar, mas para colocar as fofocas em dia e fumar um cigarro escondido da patroa. Elizabeth trabalha como vendedora na doçeria vizinha à Durval Discos.

A mãe de Durval está à beira da esclerose. Ela se arrasta pela casa, varrendo e reclamando, como se fosse ter um troço a qualquer momento. Sua comida tornou-se intragável para o filho, que dá a idéia de contratar uma empregada doméstica para ajudá-la. A velha resiste no começo, mas acaba aceitando.

Como Carmita só oferece R$ 100 de salário, a procura fica difícil. Até que surge Célia (Letícia Sabatella), uma moça de boa aparência, que aceita o dinheiro e acomoda-se no quarto dos fundos. Não demora a conquistar o paladar de mãe e filho. Célia é perfeita demais para ser verdade e, em apenas alguns dias, ela desaparece. Durval e sua mãe decidem arrombar o cômodo onde ela dormia e encontram a menina Kiki (Isabela Guasco).

Kiki torna-se a alegria da casa. Carmita recupera a memória e volta a cozinhar como nos velhos tempos. Até Durval, que resiste de início, apaixona-se pela menina. Célia não volta e Carmita passa a tratar Kiki como neta. E assim começa a segunda parte do filme.

Durval e Carmita descobrem pela TV que Célia era uma seqüestradora e que está morta, após um tiroteio com a polícia. A verdadeira família de Kiki faz um apelo emocionado pedindo a menina de volta. Durval não acredita no que vê. Carmita finge que nada aconteceu. É o início da loucura da velha, que insiste para que o filho não avise a polícia e passa a ter atitudes cada vez mais insanas. Durval Discos é uma comédia dramática de costumes que se transforma, inesperadamente, numa trama policial.

Curioso como a realizadora consegue fazer com que público e personagens tenham a mesma reação ao assistir o noticiário de TV, na cena crucial para o desenvolvimento da segunda parte do filme. Anna, boa roteirista, também se mostra muito à vontade como diretora. A saída encontrada por ela para a apresentação dos créditos é extremamente criativa. Num plano-seqüência, ela passeia por uma rua de Pinheiros. Em cada placa de rua, propaganda ou letreiro de bar, coloca nomes do elenco e da equipe. Enquanto isso, um adolescente passeia de skate. Ele entra na loja de Durval e pede um CD, abrindo a discussão para todo o papo sobre lado A e lado B.




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