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Sábado, 27 de Abril de 2024

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Descaso
Avenida dos Estados 20 anos depois

Vinte anos atrás, o Diário lançou campanha pública
para recuperação da principal ligação da região a SP

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
07/01/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Há exatamente 20 anos, no dia 7 de janeiro de 1996, o Diário lançava campanha pública pioneira para recuperação da Avenida dos Estados, principal ligação entre o Grande ABC e a Capital. Na ocasião, a via apresentava pontos de alagamento e buracos por toda sua extensão, problemas que só foram agravados ao longo dos anos.

A ação teve como fruto abaixo-assinado, que coletou 36 mil assinaturas, e foi entregue ao governador do Estado (Mário Covas, PSDB, morto em 2001), ao Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e aos prefeitos de Santo André (Newton Brandão, PSDB, morto em 2010), São Caetano (Antonio José Dall''Anese, PSDB) e Mauá (José Carlos Grecco, PSDB), cidades cortadas pela via.

A Avenida dos Estados, que completou 100 anos de existência em agosto de 2014, segue apresentando deficiências estruturais. Se por um lado, em 1996, buracos e falta de gard rail eram as principais falhas do sistema, hoje o retrato de abandono fica evidente com a presença de buracos e vegetação alta ao longo de sua extensão, que acompanha o Rio Tamanduateí. Na manhã de ontem, a equipe do Diário percorreu os 14 quilômetros da via e constatou as dificuldades enfrentadas diariamente por pedestres e motoristas. No asfalto da via, além dos buracos, ondulações deixam evidentes os impactos que a avenida sofreu ao longo dos anos por atender demanda de veículos pesados superior ao planejado inicialmente. A estimativa das administrações municipais é que a avenida receba em média 30 mil veículos por dia em cada uma das três cidades.

Já no leito do Rio Tamanduateí, as marcas de erosão e grande volume de vegetação expõem a falta de manutenção que o eixo tem recebido por parte do poder público. O Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) afirmou que não tem contrato para manutenção de margens.

A própria Prefeitura de Santo André, por meio de nota, afirmou ter dificuldades para realizar reparos no trecho da avenida que é de sua responsabilidade. “Não temos investido em novo recapeamento há algum tempo e, de fato, o desgaste se acentuou, sendo executados serviços pontuais de tapa-buraco asfáltico”, admitiu.

A Avenida dos Estados é considerada hoje por muitos motoristas um teste de resistência. “Onde já se viu uma avenida sem sinalização no asfalto? Você nunca sabe onde precisa andar. Sem contar as ondulações que acabam com a suspensão do veículo”, reclama o caminhoneiro Fernando Duarte, 50 anos.

Ao fazerem jogo de empurra para encontrar solução para os problemas da via, órgãos acabam deixando de lado a gestão compartilhada. O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) disse que, no trecho de sua responsabilidade, o Rio Tamanduateí passa por limpeza e capina constante ao longo de todo ano. Mas, como a extensão é muito grande, o trabalho é feito por trechos e em meses alternados. A Prefeitura de Mauá afirmou que a última manutenção da via foi feita em 18 de agosto de 2015, quando foi realizado serviço de tapa-buracos. Já São Caetano disse ter feito a última intervenção há dois anos. A administração prevê novo serviço até o fim do primeiro semestre.

De acordo com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a manutenção da via figurou entre as propostas encaminhadas ao governo do Estado para inclusão na peça orçamentária dos exercícios de 2014, 2015 e 2016, discutidas também em audiências públicas realizadas anualmente na sede da entidade. No entanto, nenhuma ação concreta de recuperação da via foi feita no período.

 

Situação crítica é resultado de má gestão, dizem especialistas

Falta de empenho dos governos municipais e estadual. Para especialistas consultados pelo Diário, essa é a justificativa para a situação precária em que a Avenida dos Estados se encontra.

“Durante décadas, o poder público não empenhou esforços para acompanhar o crescimento da via”, destaca o professor da área de Mobilidade Urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC) Humberto de Paiva Júnior.

De acordo com o professor de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana) e mestre em Transportes Creso Peixoto,um dos exemplos da falta de vontade política é a gestão dos recursos arrecadados com a aplicação de multas. “A quantia proveniente de infrações de trânsito é milionária, mas a via continua precária. As prefeituras poderiam ter feito acordo para destinar porcentagem dessa verba para investimentos na Avenida dos Estados, mas nada foi feito”, pondera.

Para o presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do ABC, Luiz Augusto Moretti ações preventivas em toda a extensão da via com certa frequência amenizaria os problemas atuais. “Basta você fechar trechos da avenida aos domingos para conserto do asfalto, que você consegue melhorar muito a qualidade do sistema.”

 

Prefeitos assumem negligência quanto à recuperação da via

“A reunião entre os prefeitos na minha gestão (à frente do Consórcio) nunca discutiu os problemas da Avenida dos Estados”. A declaração do prefeito de Rio Grande da Serra e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Gabriel Maranhão (PSDB), deixa evidente a negligência por parte dos chefes do Executivo da região quanto às falhas apresentadas em toda a extensão da principal via que liga a região à Capital.

Apesar de os problemas da Avenida dos Estados já persistirem há décadas, os atuais prefeitos assumem que a falta de verba dificultou qualquer ação durante a atual gestão. “Após a inauguração do Rodoanel, a cobrança para melhora da via foi amenizada. Apesar disso, vale lembrar que estamos passando por crise financeira em todo o País, o que limita os investimentos”, lembrou o prefeito de Mauá, Donisete Braga (PT).

Prefeita em exercício em Santo André, Oswana Fameli (PRP) afirmou que a falta de empenho do governo do Estado agrava a considerada “situação precária” da via. “Falta participação estadual para recuperação com mais eficiência de toda extensão da avenida”, pontua.

Procurada pelo Diário, a Prefeitura de São Caetano não colocou porta-voz para comentar o assunto.

 

Moradores relatam dramas diários vivenciados na avenida

Revolta e insegurança. Estes são os sentimentos dos moradores que precisam circular por algum trecho da Avenida dos Estados, seja em Mauá, Santo André ou São Caetano.

Sem condição de arcar com o custo do transporte público, o ajudante de manutenção Josimar Ferreira da Silva, 40 anos, encara, todos os dias, o desafio de trafegar de bicicleta pela avenida, que não oferece ciclovia. “Passo todos os dias por aqui para ir trabalhar. Sempre foi assim: buraco, mato alto, sem sinalização. Acabo me arriscando, pois não tenho outra opção.”

Se o asfalto da via apresenta falhas em toda sua extensão, o que atrapalha os motoristas, o problema não é diferente para quem precisa usar a calçada. Ontem, no período da manhã, a esteticista Nilza Fernandes de Assis, 55, teve de se equilibrar pelo pouco espaço de calçada que não foi ocupado pela vegetação alta. “O mato está tão grande que não tem como passar. Sem contar que a grama já é mais alta que eu”, relata.

Para a moradora do bairro Fundação, em São Caetano, há 45 anos, Ivone de Oliveira, 62, o principal transtorno é observado nos dias de chuva. “Em todo o início de ano alaga tudo aqui. A situação não muda, pois o rio sempre está cheio de vegetação e a água não tem como escoar.”




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