Já pensou em incorporar, nem que seja por um momento, seu ídolo do cinema ou da série de TV? Flora Paulita, 18 anos, realiza este desejo quase todos os dias. Ela é dubladora profissional e empresta a voz para vários personagens.
Atualmente, interpreta Dakota na série Sunny entre Estrelas (Disney Channel), Cat em Brilhante Victoria (Nick), além de duas Kates, uma em Big Time Rush (Nick) e outra em Dancy Academy (Boomerang). "É um trabalho divertido. Faço isso há dez anos", conta a garota, que tirou o registro profissional de atriz. "Consegui isso por causa das horas de dublagem."
A primeira exigência para esse trampo é ter o registro (conhecido como DRT) após cursar artes cênicas (graduação ou curso profissionalizante) ou pelo histórico profissional. "A partir de 18 anos é obrigatório. Antes, há permissões", explica o dublador Ricardo Vasconcelos, presidente do Conselho de Ética e Diretor de Fiscalização do Sindicato dos Artistas de São Paulo. É importante, segundo ele, que o profissional saiba atuar porque a voz diz muito do personagem. "É preciso também ter reflexo rápido e boa leitura."
É indicado fazer curso de dublagem, em geral oferecido por estúdios. Nas aulas aprende-se técnicas de respiração, dicção, interpretação e principalmente sincronismo labial. Ainda não há nenhum curso no Grande ABC. "É necessário escolher com cautela, pois nem todos são sérios. Alguns são caça-níqueis, outros caros demais", alerta o profissional. Na dúvida, Ricardo orienta a entrar em contato com o Sindicato dos Artistas pelo www.satedsp.org.br.
PARA TODOS
Não há idade mínima nem máxima para o trabalho. "Existem faixas etárias mais carentes, como a das crianças, pela dificuldade de encontrar vozes muito novas e por não saberem ler, e a dos idosos, por questões físicas. Muitos preferem evitar deslocamentos e se aposentam", explica Ricardo.
Na verdade, o que vai importar de fato é se a voz ‘se encaixa' com o personagem. Como a dublagem é feita pelo perfil físico do ator original, escolhem-se vozes que combinem com isso. Fica meio estranho um personagem grandão ser dublado por uma voz fininha. "Nesse caso, o diretor escolhe uma voz mais pesada, por exemplo, para combinar com o biotipo do ator."
Em média, trabalha-se entre 40 e 50 horas por mês, mas isso não é regra. Muitos profissionais têm outras formações e atividades diárias. Flora Paulita, por exemplo, faz faculdade de Rádio e TV e, nos fins de semana, ensaia para uma websérie. "Dá para conciliar as coisas", garante a garota, que também gosta de mostrar o rosto para as câmeras. "Uma atividade completa a outra. Se sei dublar, vou interpretar melhor. E vice-versa."
TROCA DE PAPÉIS
E quando a voz muda? Pedro Alcântara, 16, passou por esse dilema. Há dez anos na atividade, trocou de papéis com o tempo. No início, interpretava crianças e personagens com voz fina, como o Precinho da propaganda de um supermercado.
Agora é escolhido para fazer jovens, como Beck da série Brilhante Victoria (Nick). "Os convites diminuíram muito. É sempre bom ter um plano B", garante Pedro, que pretende cursar Engenharia da Computação. "Nem sempre aparecem testes."
Integrante de família de dubladores, Luciana Baroli, 29, consegue sobreviver só com a voz. Na área há 20 anos, é a intérprete oficial de Bella, da saga Crepúsculo. "Sei o que vai acontecer antes de todos", diz a atriz, que dá a dica: "O profissional deve ser capaz de mudar a entonação e interpretar o personagem como ele é. Precisa passar uma verdade".
Em média, o profissional recebe R$ 55 por hora. Os mais experientes podem ganhar até R$ 14 mil por trabalho. Nada que se compare ao que as celebridades faturam. Cameron Diaz levou US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,5 milhões) para dublar Shrek 2.
As celebridades acabam divulgando nosso trabalho. Só acho que poderiam usar a mídia para falar um pouco sobre as dificuldades da classe", reclama Ricardo Vasconcelos.
TREINE DESDE JÁ
Gostou da profissão e quer tentar? A primeira coisa a fazer são os cursos para ator e dublagem. Confira as dicas:
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