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Segunda-Feira, 29 de Abril de 2024

Envolvido em esquema de corrupção no futebol, J.Hawilla queria conquistar América
05/06/2015 | 07:30
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A ilha artificial Brickell Key, no centro de Miami, é o local de onde a brasileira Traffic expandiu a sua influência no futebol dos Estados Unidos. Quando a estrutura da principal liga do país se revelou um obstáculo para seus negócios, J.Hawilla decidiu criar sua própria organização, na qual investiu US$ 4,5 milhões. Em troca, garantiu os direitos de marketing e comercialização de seus jogos.

Na mesma ilha, a cerca de 100 metros do escritório da empresa, está o apartamento de Aaaron Davidson, o principal símbolo da intrincada relação entre Hawilla e o futebol nos Estados Unidos. Até ser preso, na semana passada, ele acumulava os cargos de presidente da Traffic USA e chairman do Conselho de Governadores da North American Soccer League (NASL), a liga criada em 2009 pelo brasileiro, equivalente à segunda divisão no país.

Além de abrir um novo mercado para Hawilla, a NASL ampliou a presença nos Estados Unidos do modelo de organização do futebol professado pela Fifa, no qual times independentes se unem em ligas ou federações. Comparável à primeira divisão, a Major League Soccer (MLS) tem estrutura centralizada e uma empresa de marketing que negocia contratos com as redes de TV, o que era uma barreira à expansão da Traffic. Os recursos arrecadados são divididos pela liga entre os 22 clubes que a compõem.

Além disso, quem paga os salários dos jogadores é a MLS, que estabelece valores mínimo e máximo e limita o número de "estrelas" que cada time pode ter - hoje, são três. Entre os brasileiros, o mais célebre é Kaká, contratado pelo Orlando City, clube do carioca Flávio Augusto da Silva, ex-dono da escola de inglês WiseUp.

A NASL foi fundada em 2009 e começou a atuar em 2011. Segundo documentos obtidos pelo jornalista Brian Quarstad, especialista em futebol, Hawilla recuperou os US$ 4,5 milhões que investiu com a cobrança de US$ 450 mil de cada um dos 10 times que aderiram à liga.

"A Traffic é muito agressiva e é o principal braço do Brasil no futebol dos EUA", disse o brasileiro Roberto Linck, jogador e um dos donos do Miame Dade FC, time da American Premier Soccer League (APSL), equivalente a uma quarta divisão do ponto de vista financeiro. Apesar dessa classificação, as ligas nos Estados Unidos são independentes e não existe a possibilidade de ascensão ou rebaixamento dos clubes.

Segundo Douglas Heizer, dono do Boca Raton FC, um dos objetivos de Hawilla com a criação da NASL era levar o futebol dos Estados Unidos a adotar uma hierarquia de divisões, em modelo semelhante ao sancionado pela Fifa na Europa e na América Latina. Para isso, a liga teria de chegar a um acordo com a grande MLS.

A liga fundada por Hawilla ganhou impulso em 2012, quando conquistou o Cosmos de Nova York. Com o prestígio do clube que teve Pelé no seu time, a NASL passou a ser mais agressiva na disputa com a MLS. Kartik Krishnaiyer, que trabalhou na Traffic USA e na liga criada por Hawilla, escreveu no portal World Soccer Talk que a empresa tinha "obsessão" em desafiar a posição dominante da principal liga dos Estados Unidos.

Depois da adesão do Cosmos, a companhia deu mais um passo em 2012 para ampliar sua influência no esporte: seu então vice-presidente, o colombiano Enrique Sanz, foi nomeado secretário-geral da Concacaf. Sanz foi afastado do cargo há 10 dias, depois de a investigação na qual Hawilla é réu confesso ter sido revelada.

Apesar de o colombiano não estar no primeiro grupo de pessoas indiciadas, seu perfil é idêntico a um dos co-conspiradores descritos na denúncia. A reportagem esteve em sua casa na última terça-feira, mas foi informada que ele não estava "disponível".

Com Sanz na entidade, os Estados Unidos foram escolhidos como sede da Copa América Centenário de 2016 e os direitos de comercialização do evento foram entregues à Traffic e não à Soccer United Marketing, a empresa ligada à MLS. Segundo a investigação do Departamento de Justiça, o processo foi permeado pela distribuição de propinas.

A reportagem esteve no condomínio onde Hawilla mora em Miami, mas não obteve resposta pelo interfone ou pelo telefone da residência. Na Traffic, onde trabalham 14 pessoas, funcionários repetiam o mesmo bordão: "sem comentários".




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