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Sábado, 27 de Abril de 2024

Muito mais do que Alice
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
18/04/2010 | 08:32
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Cansada de ir a festas chatas e ser obrigada a se casar com um garoto que não está a fim, Alice, 19 anos, resolve fugir e vai atrás de um coelho branco. Curiosa e desastrada, cai em um enorme buraco. Ainda com os cachos loiros e o vestido azul (meio brega, vamos combinar) em perfeito estado, ela acorda e se vê em uma sala com várias portas.

A garota, então, toma um treco colorido e diminui de tamanho até conseguir entrar e perceber que está em um mundo diferente, cheio de seres bizarros (como uma lagarta viciada em narguilê) e pessoas malucas, incluindo um cara com cabelo de Bozo e olhos esbugalhados e uma rainha com a cabeça maior do que o Estádio do Morumbi. Lá ela tem de enfrentar soldados que são cartas de baralho e um dragão com nome estranho, o Jaguedarte.

Ou ela está sonhando ou tomou algo que não fez bem ou, simplesmente, é Alice, personagem criada pelo escritor Lewis Carroll, que foi adaptada pelo diretor Tim Burton para o cinema. O filme em 3D Alice no País das Maravilhas, produzido pela Disney, estreia sexta-feira (dia 23) e deve ser pauta para várias discussões. Tem gente que vai amar, como tem quem vai se decepcionar. Críticas à parte, é um filme obrigatório para quem curte fantasiar.

LEWIS X BURTON - Ao mesmo tempo em que a versão de Burton é inspirada na obra de Lewis, ela é bem diferente da original. O longa tem um pouquinho de Alice no País das Maravilhas (1865) e da continuação Alice Através do Espelho (1871), mas no livro ela tem 10 anos e no filme, 19. Burton justifica: "Alice está na idade de transição entre criança e adulto, quando se modifica como pessoa. Gostei disso."

A ideia do filme é mostrar Alice voltando para o tal mundo subterrâneo que visitou muito quando era criança, embora não se lembre. Passado tanto tempo, ela volta e começa a recordar tudo o que conheceu e quantos amigos e inimigos deixou. Burton também tomou a liberdade de personificar os seres e escolheu Johnny Depp para ser o Chapeleiro Maluco, Mia Wasikowska para ser Alice e Helena Bonham Carter para interpretar a Rainha Vermelha. A Alice que me desculpe, mas o Chapeleiro, a Rainha e os efeitos especiais são as peças-chave do filme. É ver para crer!

Efeitos especiais alucinantes

 Os efeitos especiais fazem de Alice um filme imperdível. O longa foi gravado em 2D e depois convertido em 3D. Só as sequências em que Alice está no mundo real foram filmadas em cenário aberto, na Inglaterra. O resto foi gravado em estúdio em Los Angeles.

 Foi muito utilizada a técnica chroma key, em que os atores contracenam com um fundo verde. Depois, personagens e paisagens são aplicados por computador. "Já me acostumei a contracenar com marcações de fita adesiva", disse Johnny Depp, que teve os olhos do Chapeleiro Maluco aumentados digitalmente para dar ainda mais a impressão de que é doido de pedra.

O cabeção da Rainha Vermelha também foi aumentado no computador, assim como a altura do Valete de Copas Stayne, que tem 2,30 m. Nesse caso, ainda foram usadas câmeras especiais. Mat Lucas - que interpretou os gêmeos gordinhos - usou macacão verde com pontos colados para que fossem registradas suas expressões. O restante foi gerado por computador.

Lewis Carroll era maluco? Será?!

Para começar, seu nome não era Lewis Carroll. O autor de Alice no País das Maravilhas se chamava Charles Lutwidge Dodgson, mas não gostava. Ele então passou o nome para o latim (Ludovico Carolus), que acabou virando o tal Lewis Carroll.

Em 1862, durante um passeio de barco, o matemático inventou e contou as aventuras de Alice a pedido de três irmãs: Lorina, 13 anos, Alice, 10, e Edith, 8. Alice gostou tanto que pediu a Carroll que escrevesse a história, o que ele fez durante dois anos, à mão, página por página. O livro foi concluído em 1864, e a sequência de Alice no País das Maravilhas foi publicada em 1871. O próprio autor rabiscou dezenas de ilustrações, e o desenhista John Tenniel tentou reproduzi-las.

Lewis Carroll quis passar mensagens com sua história mais famosa. O que parece ser uma trama infantil é, na verdade, cheia de simbologia e até critica a sociedade da época. Também faz várias referências ao cotidiano do autor.

O Dia do Chá Maluco, por exemplo, refere-se à data do aniversário de Alice Liddell, 4 de maio. Como Carroll dedicava muito tempo à invenção de novas formas de disputar jogos tradicionais, talvez por isso, o jogo de críquete da Rainha tenha recebido elementos vivos, como pássaros que serviam como tacos. A Lagarta foi inspirada nos professores que davam conselhos na Universidade de Oxford, onde Lewis estudou.

Outras têm uma explicação lógica: a Lebre de Março refere-se ao mês do cio das lebres, e o Chapeleiro é louco por causa de uma substância alucinógena usada na fabricação de chapéus. Enfim, Lewis queria passar várias lições de vida, entre elas que a única forma de alcançar o impossível é acreditar que é possível. "Meu pai dizia que, às vezes, chegava a acreditar em até seis coisas impossíveis antes do café da manhã", diz Alice. E que a loucura não é assim tão ruim. O pai da garota afirmava que as pessoas mais legais, em geral, são um pouco amalucadas. Lewis que o diga!

Trilha sonora psicodélica

Antes de assistir ao filme, você pode ouvir as músicas da trilha sonora. É uma ótima maneira de entrar no clima. As 16 canções estão reunidas no álbum Almost Alice, que já pode ser encontrado nas lojas por R$ 35.

A música de abertura é Alice, interpretada por Avril Lavigne, escrita pela cantora. Ela, inclusive, gravou clipe que pode ser conferido no YouTube. Avril aparece com vestido preto, toca piano e toma chá com o Chapeleiro Maluco.

As outras composições são inspiradas em personagens, como o Coelho Branco (White Rabbit, de Grace Potter e The Nocturnals) ou em cenas do longa. A faixa 2, Poison (Veneno), é intepretada pela banda norte-americana de punk rock The All-American Rejects. Tem ainda a participação de Tokio Hotel, que canta com Kerli em Strange, e Franz Ferdinand, que interpreta The Lobster Quadrille.

Muito legal ...

- Os efeitos especiais. É inacreditável imaginar que os atores gravaram com um fundo verde e contracenaram como se, de fato, existissem os seres fantásticos.

- Os gordinhos gêmeos Tweedledee e Tweedledum. Eles são muito engraçados e ficam ainda mais divertidos porque discordam de tudo.

- A atuação de Johnny Depp e Helena Bonham Carter. Eles estão impecáveis como Chapeleiro Maluco e Rainha Vermelha.

Nem tanto ...

- A adaptação do roteiro. A proposta era ser diferente, dando mais espaço aos outros personagens. Com Alice já adulta ficou faltando algo, perdeu-se o encantamento da descoberta da infância.

- A briga entre Alice e o dragão. Por ser o final, foi bem fraco. A cena é dispensável. Dá vontade de dormir.

- A atuação de Mia Wasikowska. Alice ficou sem sal com a interpretação da australiana Mia. O olho dela não brilhou em nenhuma cena.




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