Economia Titulo Trabalho
Região elimina 20.572 empregos em oito meses
Por Vinícius Claro
Especial para o Diário
24/09/2016 | 07:14
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O Grande ABC encerrou 20.572 postos de trabalho formais em 2016, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Apesar do saldo expressivo, o número é inferior ao registrado entre janeiro e agosto de 2015, quando se teve o pior saldo da série histórica, com a eliminação de 24.132 empregos com carteira assinada. Entretanto, o montante ocupa a segunda pior posição, superando inclusive os oito primeiros meses de 2009, auge da crise econômica internacional, em que havia cerca de 10 mil cortes.

As demissões nas sete cidades foram puxadas pelo mau desempenho da indústria de transformação, que fechou 9.789 vagas nos oito primeiros meses deste ano, ou 47,6% do total.

Para o economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, o setor industrial está sendo muito afetado pela crise, principalmente o ramo automobilístico, carro-chefe da região. “Além disso, temos crédito reduzido e renda em queda, que são fatores fundamentais para consumo. Isso prejudica a região, que também é muito forte no comércio.”

E, de fato, o setor do comércio registra queda de 4.045 postos no ano, desempenho semelhante ao do ramo de serviços, com o corte de 4.943 vagas. Apesar disso, os dois segmentos apresentam crescimento nas contratações em agosto, com saldo de 445 e 238 admissões, respectivamente.

De acordo com Balistiero, as admissões são típicas desse período, que se aproxima do fim do ano, em que se tem aquecimento do consumo. Embora isso não tenha sido visto em 2015, quando a turbulência estava mais intensa, o economista aposta em tendência de contratações crescentes nos próximos meses.

“O governo (do presidente Michel) Temer (PMDB) tem testes importantes, como algumas medidas de caráter fiscal para restabelecer equilíbrio da economia. Se sua gestão tiver habilidade e capacidade, provavelmente vamos experimentar números melhores, mas longe de compensar as perdas dos últimos dois anos”, diz o economista, que espera diminuição moderada do desemprego para 2017, já que a geração de emprego está atrelada à capacidade de crescimento da economia, e espera-se início de retomada para o ano que vem.

RITMO LENTO - Para o coordenador, as contrações passam por três estágios. Primeiro, quando a produção sobe, as empresas aumentam as horas extras. Em seguida, fazem contratos temporários e só depois definitivos. “Os índices de emprego demoram para reagir, porque as contratações são bastante lentas.”

O impacto é sofrido por moradores da região. É o caso do metalúrgico Anderson Rodrigues, que está desempregado há três semanas e relata que está com dificuldade em encontrar nova vaga. “Todos os dias saio de casa às 7h da manhã para procurar emprego”, diz.

Rodrigues afirma também que sua situação é ainda mais preocupante porque sua mulher também está desempregada, e eles têm de pagar aluguel. “Está tão complicado que estou topando trabalhar fora da minha área, que é a indústria, até como garçom.”


S.Bernardo e Sto.André lideram cortes

As cidades que mais puxaram o desemprego no mês passado foram Santo André (-565) e São Bernardo (-559), justamente pelo fato de concentrarem mais indústrias.

Em agosto, o setor eliminou 1.510 postos. Dentre eles estão os cortes realizados pela Labortex, fabricante de artefatos de borracha especializada em peças para montadoras, como mangueiras, quebra-ventos e coxins, que fechou as portas em Santo André após 58 anos e demitiu 270 pessoas. Em São Bernardo, a Yoki dispensou 314 ao encerrar linha de produção, depois de 60 anos no local, e a Mercedes-Benz teve a adesão de 470 operários ao PDV (Programa de Demissão Voluntária).

Curiosamente, os mesmos municípios registraram aumento nas contratações do comércio: São Bernardo (129) e Santo André (100). Ao todo, o setor criou 445 postos no mês passado. “Dá para observar crescimento em setores pontuais, mas ainda totalmente insuficiente para fazer frente a números negativos percebidos na série histórica”, diz o economista Ricardo Balistiero.

Apesar de os dados ainda apresentarem queda, o economista enxerga o cenário com otimismo, ao levar em consideração que a sequência negativa apresentada nos últimos meses está ficando menor.

Balistiero afirmou que o segundo trimestre demonstrou um despertar da economia nacional. Ele comparou esse desempenho ao funcionamento de uma máquina. “Tínhamos um equipamento totalmente desligado. Quando começaram a mexer em alguns fios, uma luz ou outra acendeu, mostrando que ainda há vida. Para que as luzes acendam com força total, porém, ainda vai demorar algum tempo.” 




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