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Avape se reestrutura para manter serviços

Em crise, organização depende de parcerias para seguir atendendo pessoas com deficiência

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
07/09/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


A Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência) aposta em reestruturação interna para solucionar a crise financeira enfrentada desde 2011 e dar prosseguimento às atividades prestadas. Na região, são quatro as unidades voltadas ao atendimento e defesa de direitos, promoção da inclusão, reabilitação e capacitação de pessoas com deficiência ou em risco social.

O presidente da entidade, Carlos Ferrari, afirma que o caminho para enfrentar o cenário de diminuição das parcerias, falta de pagamentos e quedas na contratação de deficientes por parte das empresas requer decisões nem sempre ‘simpáticas’. Uma delas foi o fechamento de unidade em Santo André, na Vila Gilda, em junho. O centro de desenvolvimento e capacitação que funcionava no local foi transferido para São Bernardo. “Tivemos de realocar a estrutura para reduzir despesas e manter serviços”, justifica.

A dificuldade vivenciada pela Avape foi escancarada no ano passado, quando a organização completou 30 anos. Na época, o fundador da instituição, Marcos Antônio Gonçalves, explicou que a crise financeira global de 2008 resultou na perda de apoio. Até então, o orçamento anual estava na casa dos R$ 35 milhões.

“Estamos terminando de traçar um plano estratégico para consolidar essa reestruturação após erros históricos de gestão”, considera Ferrari. De acordo com o presidente, recebíveis em atraso são alguns dos principais problemas enfrentados pela Avape atualmente.

Uma das necessidades, segundo o presidente, é criar a cultura de doação na sociedade. “O povo é solidário, mas não tem esse hábito no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, 70% da receita das ONGs (Organizações Não Governamentais) são provenientes de doações”, destaca.

A busca por parcerias e voluntários é outra alternativa viável, aponta Ferrari. Isso porque, na sua visão, falta a participação de mais atores no cenário atual. “As ONGs do século 21 precisam de parceiros, mais empresas participantes, maior envolvimento social e por parte das prefeituras”, afirma.

A meta é fazer com que a Avape se consolide como entidade garantidora de direitos. “Costumo brincar que há 60 anos as pessoas com deficiência estavam brigando para sair do sótão. Hoje eles já reivindicam calçada e peça de teatro acessível”, ressalta.

Em 30 anos, a organização incluiu 20 mil profissionais no mercado de trabalho. Cerca de 25% dos beneficiados que conseguem oportunidade de emprego passaram por capacitação. De janeiro a julho deste ano, 845 pessoas foram atendidas em todos os programas oferecidos pela entidade no Grande ABC e 150 aprendizes foram capacitados. As unidades da região têm atualmente 243 colaboradores.

Oficinas incluem no mercado de trabalho

As oficinas de reabilitação ofertadas pela Avape são o primeiro passo para que as pessoas com qualquer tipo de deficiência sejam incluídas no mercado de trabalho após passar por capacitação com os profissionais da entidade e acompanhamento por assistente social. Esse, inclusive, é o principal objetivo do jovem Bruno Henrique dos Santos, 18 anos. O morador do Parque Andreense, em Santo André, tem deficiência intelectual, frequenta a instituição há um ano e, atualmente, participa de treinamento para trabalhar como copeiro.

Apesar de ter conhecido o serviço quando tinha 10 anos, chegou à unidade aos 16, por intermédio da mãe. “Estou aprendendo cada vez mais coisas. Aprendo rápido porque sempre presto atenção”, destaca o jovem. A meta de Bruno é conseguir emprego em padaria para poder ajudar os pais. A mãe é aposentada e o pai trabalha como empilhador em multinacional. “Passo pano nas mesas, vassoura no chão. Gosto de fazer tudo certinho, porque senão vira bagunça”, brinca.

Já a jovem Sara Cristina da Silva Bezerra, 23, está na Avape há dois meses. Foi na unidade que ela descobriu que possui deficiência intelectual e, após período de aceitação, passou a trabalhar suas dificuldades. “Eu não entendia porque não conseguia fazer contas direito e tinha dificuldade na escola”, lembra.

A moradora do Parque São Bernardo participa das oficinas de artesanato e já aprendeu a fazer tapete de tecido com fuxico (tipo de artesanato) e cachecol de crochê. O objetivo é conseguir um emprego para complementar a renda familiar. “Além de ajudar nas contas de casa, também quero ter dinheiro para comprar minhas coisas.”

Entre os avanços observados no período em que está na Avape, a jovem consegue destacar as amizades conquistadas e a perda da timidez. Apesar do pouco tempo na capacitação, Sara já passou por entrevista de emprego. “Sempre fui muito esforçada. Vou começar um curso de corte e costura no período da tarde”, comemora. 




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