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Deficientes visuais andreenses escrevem sobre o futuro

Ao todo, 15 alunos de escola do Parque das Nações participam do Desafio de Redação

Por Drielly Gaspar
Especial para o Diário
10/09/2013 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


A EE Professora Inah de Melo, no Parque das Nações, em Santo André, teve ontem um dia de Desafio de Redação diferente. Ao todo, 15 alunos com deficiência visual, sendo oito cegos e sete com baixa visão, puderam colocar no papel suas ideias sobre o tema 2020: o que eu posso fazer para mudar o meu mundo?

Todos os alunos da classe fizeram a redação ao mesmo tempo, inclusive os deficientes visuais. Utilizando materiais específicos, Cleber Dilo dos Santos, 18 anos, do 3º ano do Ensino Médio, que tem menos de 30% da visão, defendeu um lado esquecido da democracia. “O povo precisa governar a si mesmo. Temos que entender nosso papel na sociedade para mudar o mundo.”

Os estudantes Hugo Luiz do Carmo, 20, e Lucas Santos Silva, 18, assim como os demais cegos, utilizaram máquina de escrever em Braille. “Tem muita coisa que podemos fazer para resolver os problemas. Utilizar bicicletas e o transporte público são, por exemplo, algumas das soluções para diminuir a emissão do gás carbônico”, acredita Hugo.

Lucas, por sua vez, diz que a responsabilidade de mudar o mundo está nas mãos de profissionais com competência. “É necessário contratar profissionais capacitados e com vontade de trabalhar. Se não for assim, nunca acabarão as filas em hospitais públicos e os buracos nas ruas nunca serão tapados”, diz.

Apesar de barulhentas, as máquinas utilizadas por Lucas e Hugo não atrapalham os demais colegas durante as aulas. “Nem percebo mais, estou acostumado com o som. Acho, inclusive, muito bom que eles participem do Desafio, porque a deficiência não significa que precisem ficar isolados ou que não tenham boas ideias, que merecem ser compartilhadas”, acredita Cleiton Lima dos Santos, 17, também do 3º ano.

As redações feitas pelos estudantes em Braille são transcritas para o alfabeto comum pela professora de Educação Especial Carmem Silva, para que possam ser avaliadas juntamente com os demais textos produzidos pelos estudantes. “Não posso mudar nada nem corrigir erro de português. A transcrição precisa ser fiel ao que eles escreveram.”

COTIDIANO

Mesmo com a falta de visão, os estudantes participam das aulas junto com os companheiros de classe e apresentam as mesmas dificuldades. “Tentamos ter uma didática diferente, como ler o que está escrito na lousa para que eles acompanhem, mas fora isso a aula é normal”, explica o professor de Matemática Amarildo Aparecido.

A professora de Língua Portuguesa Simone Riticino vê na socialização com os demais jovens a maior dificuldade dos portadores de deficiência. “Os outros alunos não os convidam para trabalhos em grupo e também não se prontificam em ajudá-los, e é isso que prejudica o aprendizado, não a limitação em si.”

Para driblar tal dificuldade, a escola tem como hábito vendar alunos sem deficiência durante algumas aulas, para que, assim, eles possam sentir na pele as necessidades dos demais. “Acho que só assim os estudantes conseguem entender que todos precisam de ajuda e devem ser incluídos”, afirma Simone.

Outras 12 escolas fizeram ontem as provas do Desafio, concurso promovido pelo Diário, correalizado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano), patrocinado pela Petrobras e com o apoio da Ecovias. A melhor redação entre os alunos do último ano do Ensino Médio será premiada com uma bolsa de estudos na USCS. As provas acontecem até o dia 23 de setembro. 




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