Setecidades Titulo Segurança
Único homicídio ainda
choca Rio Grande da Serra

Segundo as estatísticas da SSP, trata-se de um dos menores
índices da Grande São Paulo; a família da vítima pede justiça

Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
11/06/2012 | 07:00
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O comerciante Sérgio Luiz Andrade, 46 anos, sai de casa todos os dias e olha a praça em frente a sua garagem ainda incrédulo: foi ali que seu irmão, Juraci Tavares, 41, foi assassinado com uma facada no pescoço em abril. Esse é o único caso de homicídio registrado neste ano em Rio Grande da Serra. Segundo as estatísticas da SSP (Secretaria de Segurança Pública), trata-se de um dos menores índices da Grande São Paulo.

Para Andrade, chega a ser irônico. Em 19 anos morando na Vila Lopes, é o terceiro caso de morte que viu. Um no mesmo local de seu irmão, há cinco anos, quando, em uma briga de casal, a mulher foi esfaqueada mais de cinco vezes. No outro, na mesma casa onde Tavares morava, há uma década, o marido alcoolizado baleou a companheira enquanto ela amamentava seu bebê. "Saí do Heliópolis (favela da Capital) justamente por causa da violência, cansado de acordar com corpo na porta da minha casa. Acabei sendo vítima aqui", disse o empresário.

Como nos outros crimes que Andrade presenciou, a morte de Tavares teve motivo banal. Naquele domingo, ele voltava da festa de aniversário do irmão, que durara toda a madrugada, quando bateu o carro. Valmi José da Silva, 40, que não tinha envolvimento no acidente, provocou a vítima e ambos acabaram brigando. Silva teria apanhado e, por isso, voltou com uma faca e desferiu o golpe fatal. "Desacreditei do cara e ele me matou", foram suas últimas palavras ao irmão, que o segurou e ainda tentou socorrê-lo, sem sucesso.

Silva confessou o crime, mas como não tinha antecedentes criminais e se apresentou por sua própria vontade à polícia, foi liberado e responderá em liberdade até o julgamento. "Tudo foi resolvido", disse o delegado titular da cidade, Sergio Luditza. A família não vê da mesma forma. Diz que houve premeditação e queria vê-lo preso. "Ele falou que deu (a facada) para matar mesmo. Disse que aquele lá não voltaria mais", afirmou Andrade.

O Diário procurou Silva e seus familiares, mas não teve resposta. Segundo parentes da vítima, ele se descontrolou com o vício de drogas, perdeu a mulher e o emprego e é encontrado vagando pelas ruas do Centro de Mauá. "A gente não tem uma resposta (da polícia). Acho que esse cara nunca vai ficar preso. Isso incentiva os outros a resolver os problemas desse jeito, matando", disse Andrade.

Enquanto isso, a família de Tavares junta os cacos. O irmão voltou a trabalhar apenas na última semana e ainda está traumatizado. "Ele morreu nos meus braços", lamentou.

A viúva e o filho do casal, de 7 anos, estão na mesma situação. Sem ter como sustentar o padrão de vida, ela pôs à venda o Palio vermelho que originou a briga e deixou a casa que alugavam. "Eles não conseguiam mais ficar lá dentro. Tinham pesadelos. O pior é explicar para o menino. Não tem justificativa o que aconteceu, da forma como ocorreu."

A novidade de ter uma vítima da violência mobilizou a cidade. Segundo o empresário, todos sabem do ocorrido e até hoje dão os pêsames para ele na rua. "Todo mundo se conhece. Só no enterro foram mais de mil pessoas se despedir do Juraci."

Cidade não teve casos de roubo e furto de carros

Com um único caso de homicídio, até Sérgio Luiz Andrade, irmão da vítima, reconhece que Rio Grande da Serra é uma cidade tranquila. "Tanto que aqui durmo de porta aberta e deixo o carro destrancado", disse.

As estatísticas da SSP (Secretaria de Segurança Pública) mostram que ele está certo. Maior preocupação da região entre as práticas criminais, o roubo e furto de veículos no município está zerado. Somente roubos e furtos gerais chamam a atenção: 92 casos até abril deste ano. A cidade também teve 72 ocorrências de brigas e 15 vítimas não-fatais em acidentes de trânsito.

"Não são crimes de destaque", resumiu o delegado Sergio Luditza. "A cidade é pequena e temos condições de investigar tudo com rapidez."

Os moradores concordam. O taxista José Carlos Carleuso, 42 anos, foi sequestrado há seis meses e não mostra estar abalado. "Descobriram os caras. Eram de Mauá. Não me sinto inseguro por isso."

Para quem mora em Rio Grande da Serra, parece óbvio que a paz atrai criminosos vizinhos. "Aqui um vigia o outro. E sempre que vemos alguém roubar, é de fora", disse o mecânico Mário Ribeiro, 52, que se mudou de Santo André há cinco anos.




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