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Brasil acorda para o design
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
14/11/2004 | 15:37
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Promoção de políticas públicas para o desenvolvimento, criação de cursos de nível superior e de instituições de fomento e divulgação, realização de exposições, lançamento de livros e publicação contínua de periódicos especializados são alguns fatores que apontam para o caminho a ser seguido pelo setor de design no Brasil: o da evolução.

Esse avanço vale para facetas distintas, como de produtos, gráfica, moda e web. “O setor de design está em franca evolução no país, fenômeno que se intensificou sobretudo nos últimos dez anos”, diz Joice Joppert Leal, especialista no assunto e coordenadora do projeto institucional Objeto Brasil, criado em 1996 para divulgar o design brasileiro.

No Grande ABC, a oferta de estabelecimentos comerciais especializados ainda é tímida. E isso apesar de a região possuir forte tradição em dois setores nos quais o design é questão fundamental: automobilístico e moveleiro. Uma escola especializada, que aproveitasse o potencial de profissionais com experiências acumuladas nessas indústrias, foi apresentada como projeto pela Prefeitura de São Bernardo em junho de 2002, mas não saiu do papel.

A instituição desenvolveria projetos de moda, joalheria, mobiliário, plástico e desenho para a indústria automotiva em geral. O prédio ocuparia um terreno de 8 mil m², onde funcionou a fábrica, falida, da Enco Zolckac.

Mas se na região ainda não existe oferta de design para venda, e tampouco espaços para aprendizado, não falta demanda. O Diário entrevistou pessoas ligadas à área cultural e cada uma indicou o objeto preferido de design a ela pertencente.

A especialista Joice, do Objeto Brasil, entende que o movimento de conscientização acerca da importância do design não é devido apenas a esforços do setor privado, mas também de políticas acertadas do governo federal: “Com o incremento às exportações, o setor industrial percebeu que era fundamental investir em design para a abertura ou ampliação de mercados”.

Para a professora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, outra profunda conhecedora do assunto, essa tendência de crescimento é mundial, e o Brasil faz parte dela. A evolução deve-se, entre outras coisas, ao desenvolvimento tecnológico, que proporciona inovação na criação de produtos e serviços.

Maria Cecília, também autora de livros como Móvel Moderno no Brasil e professora de graduação e da pós-graduação da FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), falou ao Diário momentos antes de partir para a Austrália a fim de participar de um congresso internacional de pesquisa em design. “Foi-se o tempo em que os brasileiros iam para o exterior fotografar peças para as reproduzir depois por aqui. Hoje isso está deixando de existir. Como exemplo cito o design de jóias: temos atualmente competência para exportar o produto totalmente desenvolvido no país, e não mais a matéria-prima, as pedras preciosas”, diz.

Segundo ela, o design vem crescendo e se popularizando tanto no país que há uma banalização da palavra: “Estão fazendo um mau uso, um uso abusivo do termo design. Já vi por aí até a utilização da expressão design de cabelo. Com isso, o design perde seu significado forte, que é design com efeito e impacto social. Exemplifico: o design dos meios de transportes, como o dos trens do Metrô de São Paulo”.

“O fato de existirem pessoas que têm o fetiche e o poder aquisitivo para comprar uma peça assinada pelo designer francês Philippe Starck, que não é acessível, não quer dizer que o design está exclusivamente a serviço da elite. Ele pode servir a toda a sociedade”, afirma a professora Maria Cecília.




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