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Prédio de igreja provoca inundação em S.Bernardo
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
12/11/2004 | 12:09
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Famílias que vivem na favela da Vila Ferreira, em São Bernardo, ameaçam demolir com machadadas a sede de uma igreja evangélica. Não se trata de disputa religiosa. Construído há dois anos em cima do córrego que corta o bairro, o salão destinado aos cultos se transformou numa barreira para o escoamento do esgoto proveniente dos barracos. Com a forte chuva da noite de quarta, o esgoto transbordou e inundou as casas e barracos vizinhos. Como se trata de área de ocupação irregular, Prefeitura e Governo do Estado não assumem a responsabilidade. Também por isso a rua onde está localizada a igreja não têm denominação oficial.

Doze famílias que vivem nos arredores perderam boa parte da mobília, roupas e eletrodomésticos. Passaram o dia desta quinta tentando limpar a lama negra no chão das casas. A chuva não deu trégua durante a tarde, o córrego ameaçava subir de novo e o cheiro impregnado no interior das casas era insuportável.

Todos os moradores ouvidos pela reportagem disseram que antes da construção sobre o córrego nunca houve esse tipo de problema. O pastor da Igreja Aliança com Deus, Eliseu Ferreira da Silva, diz no entanto que o salão não tem nada a ver com as inundações. “Foram construindo barracos na margem do córrego, que vive cheio de entulho. As pessoas jogam tudo ali, não querem nem saber. Até sofá já vi boiando. É isso que faz transbordar”, defendeu o pastor.

Para conter a enchente de quarta-feira, os próprios moradores abriram buracos nos dois lados da igreja, para que a água encontrasse caminho para passar. “A polícia autorizou a gente a quebrar. Não é a primeira vez que temos problema por causa desse salão”, afirmou o morador Osvaldo Augusto de Araújo. O pastor Silva minimizou a questão. “Não era preciso. O esgoto nem chegou a passar aqui por dentro.”

A Vila Ferreira é rodeada por unidades do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), apartamentos construídos pelo governo estadual. A parte central é formada por barracos e casas simples de alvenaria, onde vivem aqueles que ainda não foi contemplados pelo programa.

A Prefeitura de São Bernardo e a CDHU demonstram pouco interesse em arbitrar a disputa. O município alega que a área ocupada irregularmente é do governo estadual, que teria de resolver a situação. A CDHU alega que a canalização do córrego é função da prefeitura, que teria prometido realizar a obra e ainda construir uma avenida no local. A companhia não garante ser a proprietária da área alagada, porque parte da Vila Ferreira seria do município e de particulares. Via assessoria de imprensa, a companhia estadual prometeu enviar técnicos nesta sexta para analisar o caso. A Prefeitura também informou que vai realizar vistoria.

Lamaçal – A chuva começou por volta das 22h de quarta-feira. Meia hora de aguaceiro foi suficiente para provocar o estrago. Em alguns barracos, a água suja chegou a atingir um metro de altura. Entretanto, ninguém ficou ferido. “Mas foi por pouco”, disse, aos prantos, a dona de casa Eva Maria de Souza Costa. Ela tem dificuldade para se locomover por conta de problemas de saúde e se viu ilhada em cima da cama. “Quando a água já estava quase em cima de mim, meu filho me colocou no colo e um vizinho me ajudou a sair”. Em estado de choque, Eva precisou ficar em observação no pronto-socorro, tomando calmantes. Nesta quinta à tarde, o mutirão escalado para limpeza da casa não dava conta de tanta sujeira. O esgoto parecia brotar do chão.

Outro morador, Edésio Gonçalves, perdeu a geladeira, o aparelho de som, o sofá, roupas e o colchão. “Cheguei em casa e vi tudo boiando”, contou.

A Prefeitura enviou, quinta à tarde, colchonetes, cobertores e cestas-básicas para as famílias prejudicadas. A Defesa Civil não interditou as casas inundadas porque não viu risco de desabamento. O pessoal do setor ajudou com primeiros socorros e limpeza das casas.




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