Mais duas montadoras do Grande ABC anunciaram férias coletivas para os funcionários da produção por causa da pandemia da Covid-19. A Mercedes-Benz, em São Bernardo, divulgou que os colaboradores devem ficar em casa por 20 dias a partir do fim deste mês, enquanto a GM (General Motors), em São Caetano, estabelece 15 dias. A medida é recomendada pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) para a preservação da saúde (leia mais abaixo), e a estimativa da FEM (Federação Estadual dos Metalúrgicos) é a de que na região até 75 mil trabalhadores da categoria fiquem em casa.

A Volkswagen já tinha anunciado a adoção do mecanismo no início desta semana (para aproximadamente 7.000 funcionários do chão de fábrica). Do total das cinco fabricantes presentes na região, apenas a Scania e a Toyota não anunciaram oficialmente as coletivas. A Ford, apesar de não manter produção desde outubro de 2019, anunciou home office para o setor administrativo, que ainda permanece na planta do Taboão, em São Bernardo.

A Mercedes divulgou nota, ontem, informando da decisão que foi tomada para o cuidado com os colaboradores e familiares na prevenção da infecção pelo coronavírus. As medidas adotadas serão: folgas debitadas em banco de horas para quatro dias (25, 26 e 27 de março e 20 de abril) e férias coletivas durante 20 dias, (de 30 de março a 19 de abril). “Previsto o retorno das atividades em 22 de abril, dependendo da situação do País”, informou a montadora alemã, em nota.

A GM anunciou férias coletivas para os trabalhadores de todo o País a partir de 30 de março. Oficialmente, a norte-americana informou que o motivo é a adequação da produção à demanda do mercado.

“O sindicato cobrou uma posição da empresa e o que ficou decidido foi férias coletivas. As conversas começaram desde a semana passada”, informou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão. Ele afirmou que o motivo foi a proteção dos trabalhadores da infecção. Segundo ele, são cerca de 4.500 funcionários do chão de fábrica (a planta são-caetanense possui 8.000 no total) que permanecerão em casa, inicialmente por 15 dias.

“Este é um período em que jamais pensaríamos em sair de férias coletivas. Isso está acontecendo somente por causa da pandemia. Estamos trabalhando até de sábado, e tendo como base a Tracker, estão sendo fabricados cerca de 25 carros por hora”, disse Cidão. Ainda ontem, a empresa anunciou o novo modelo de SUV no mercado, produzido na região. “É um período de lançamento de um carro. Era para estarmos fazendo festa, mas estamos preocupados com o futuro”, finalizou o presidente da entidade.

O presidente da FEM, que possui 14 sindicatos filiados e cerca de 200 mil trabalhadores em todo o Estado, Luiz Carlos da Silva Dias, o Luizão, afirmou que ainda nesta semana a federação pretende conversar com os sindicatos patronais, a fim de que as demais empresas dispensem os trabalhadores das atividades produtivas. “No dia de hoje (ontem) estivemos com o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), protocolando pedido de suspensão na produção e amanhã (hoje) vamos conversar com os outros (máquinas e equipamentos, eletrônicos, laminação, siderurgia etc) e devemos concluir até o fim da semana. A expectativa é que aproximadamente 170 mil trabalhadores do Estado deixem de trabalhar a partir do fim do mês”, destacou.

Para MPT, fábricas devem adotar a medida

O MPT (Ministério Público do Trabalho) fez ontem recomendação formal para que as principais indústrias da região adotem as férias coletivas para os colaboradores da produção, a fim de evitar o contágio pela Covid-19. A orientação foi dada por meio de documento redigido pela Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Bernardo.

A entidade considera questões globais como a declaração de pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e também a restrição do transporte público do Grande ABC. “Isso deve ser feito de maneira a evitar que mais trabalhadores se contaminem na região”, afirmou o procurador do trabalho Carlos Eduardo Almeida Martins de Andrade, “Nada mais razoável as montadoras e grandes empresas, que estão entre as principais empregadoras da região, adotem a medida, já que essa não é uma atividade essencial e não impacta diretamente na distribuição de combustíveis, água, esgoto e energia elétrica. A nossa recomendação é para que os trabalhadores não fiquem expostos no trabalho ou até mesmo no trajeto”, disse.

O promotor também explicou que, apesar de inicialmente a medida ser recomendada, se forem verificados o descumprimento e a exposição dos trabalhadores ao vírus, posteriormente medidas legais, como o fechamento temporário de empresas, podem ser tomadas.

Sobre as coletivas, a Scania informou que está em análise e prontidão para fazer mudanças necessárias diante do cenário. A Toyota afirmou que as plantas industriais funcionam normalmente e que avalia a situação. A fabricante de pneus Bridgestone, localizada em Santo André e que também é citada no documento, afirmou que está acompanhando a situação e toma todas as medidas cabíveis.

Bancários pedem proteção para atendimento ao público na região

O Sindicato dos Bancários do ABC enviou ofício ao Consórcio Intermunicipal no qual reivindica mudanças para prevenção à transmissão do coronavírus. Na região, são cerca de 5.000 trabalhadores.

“Ao contrário do que se esperava, aumentou o fluxo de pessoas nos bancos, certamente devido ao home office adotado pelas empresas”, disse o presidente da entidade, Belmiro Moreira, que pleiteia agendamento prévio dos clientes e entrega de equipamentos de proteção aos funcionários. O Consórcio afirmou que vai acompanhar a situação junto aos bancos com objetivo de minimizar os danos da pandemia. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que as instituições estão tomando medidas para conter o avanço da Covid-19.