Setecidades Titulo Cultura de paz
Anjos em sala de aula

Projeto em escola de Santo André visa promover empatia e solidariedade entre os alunos

Por Flávia Kurotori
do Diário do Grande ABC
30/09/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


O quanto bilhetes dizendo “tenha um bom dia” e “você é incrível” podem mudar o dia de alguém? Alunos da EE (Escola Estadual) Educador Pedro Cia, no Parque Miami, em Santo André, descobriram na prática que esse tipo de mensagem pode transformar o cotidiano. Graças ao projeto Amigo Anjo, estudantes do 2º ano do ensino médio exercitam a empatia e a solidariedade diariamente.

Parte da disciplina projeto de vida, a iniciativa propõe interação entre alunos, que assumem o papel de anjos, cuja tarefa é observar atentamente, por uma semana, o comportamento do colega adotado por ele. A partir da análise, o amigo anjo deve enviar bilhetes anônimos ao anjado – nome dado aos jovens adotados – com palavras de incentivo ou elogios. Ao fim do período, cada anjo lê uma carta destacando as qualidades que identificou no apadrinhado.

“Muitas vezes, a pessoa não enxerga as coisas boas em si mesma, então, a carta as revela por meio da visão de outra pessoa”, explica Tatiane Campos, professora da disciplina e coordenadora do projeto. Segundo ela, a ação – que existe desde 2016, mas foi adaptada para este formato neste ano –, nasceu porque os estudantes não tinham empatia, sendo necessário tornar a turma mais unida e acabar com os alunos ‘invisíveis’.

A docente ressalta que estes alunos que não se sentem acolhidos e vistos pelos colegas estão entre os perfis de quem comete suicídio ou ataques em escolas. “Como eles estão sozinhos, acabam tendo mais tempo para planejar e pensar em coisas ruins.”

Diretor da escola, Edmilson José dos Santos assinala que a iniciativa supre a necessidade de acolher os jovens tanto emocionalmente quanto pedagogicamente. “Eles são conscientizados pela professora em como ajudar o próximo e, ao identificar um possível problema, conversam conosco para tentarmos resolver da melhor forma possível”, explica.

A escola faz parte do PEI (Programa Ensino Integral) do Estado, portanto, os alunos ficam das 8h às 17h20 no local. Por este motivo, Santos salienta que é importante que os estudantes se sintam apoiados. “Eles ficam mais aqui do que nas próprias casas, então, muitas das angústias e problemas são gerados aqui e é muito importante que alunos, professores e coordenadores trabalhem em conjunto para solucionar estas questões.”

Mesmo com o término da semana destinada ao processo, os adolescentes seguem com o trabalho de observar os colegas para identificar quando algo não está bem ou, simplesmente, melhorar o dia de alguém. Exemplo é que os estudantes se reúnem para deixar mensagens de felicitações e chocolate na mesa dos aniversariantes. 
 

Estudantes relatam benefícios da iniciativa

Para garantir a aproximação entre os integrantes, a definição de quem será anjo e anjado é feita por meio de sorteio – vale dizer que todos desempenham os dois cargos ao mesmo tempo. A regra é clara: se tirar o nome do amigo, o sorteio deve ser feito novamente. Por este motivo, é comum que os adolescentes relatem que trabalharam com colegas que nunca tinham conversado antes de participarem da atividade. 

Nicolly Rodrigues dos Santos, 15 anos, conta que o Amigo Anjo fez com que ela saísse da zona de conforto. “Fui anjo de uma menina que sentava do outro lado da sala, que eu considerava introspectiva, porém, acabei descobrindo que ela é carinhosa, aberta e tem um sorriso lindo. Por isso, escrevi que ela deve sempre continuar sorrindo”, fala sobre a colega.

“Eu tenho alguns problemas de autoestima e foi incrível, porque meu anjo deixava mensagens com elogios”, lembra a jovem. “Percebemos que nunca estamos sozinhos e sempre teremos o apoio uns dos outros”, comenta.

Na avaliação de Lívia Lira, 17, a iniciativa foi essencial na adaptação, uma vez que ela começou na escola neste ano. “Me senti acolhida e me ajudou a fazer amigos, além de as mensagens melhorarem aqueles dias que não estão muito bons”, adiciona.

Por outro lado, Renan Diogo, 15, não teve tanta sorte no início da atividade, pois seu anjo estava enfrentando problemas e não enviava mensagens ou mimos como os demais. Entretanto, o menino acabou sendo adotado por duas colegas. Uma delas é Bianca Franco Ferreira, 16, que foi motivada pela empatia. “Ele estava chateado, então resolvemos adotá-lo para que ele não se sentisse excluído”, explica.

A ação das meninas fez toda a diferença. “Antes do projeto, eu me sentia invisível e, depois dele, percebi que as pessoas me enxergam”, afirma Diogo. “Me aproximei muito dos meus colegas. Eu, por exemplo, nunca tinha nem falado com a minha anjada.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;