Setecidades Titulo Família
Agente de Saúde promove encontro entre mãe e filhos depois de 54 anos
Por Bia Moço
Especial para o Diário
25/02/2018 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Com o pensamento de que “é preciso dar o seu melhor naquilo o que for fazer”, atrelado ao bom humor e sorriso aberto, a agente de Saúde da USF (Unidade de Saúde da Família) Parque Miami, em Santo André, Cristiane Francisca da Silva, 37 anos, conquistou a comunidade. Há dez anos a ‘moça maloca’, como ela se denomina, decidiu fazer parte da vida das 5.000 pessoas que visita mensalmente. Recebida com bolo, café, abraços e beijos, ela criou laço com a população, o que a possibilitou, inclusive, promover o reencontro de mãe e filhos após 54 anos.

Moradora do bairro onde atua, Cristiane faz parte da equipe que atende a microárea do Jardim Riviera. Chamada carinhosamente de Cris, ou também de, ‘a famosa do bairro’, ela trabalha de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Muito além de levar cuidado e atenção na área da Saúde, a profissional entendeu, há dois anos, que para ter um bom relacionamento com as famílias cadastradas era necessário criar vínculo com cada uma das pessoas atendidas.

“No início eu achava que bastava ir até a casa da pessoa e perguntar o que precisava, realizar o atendimento e fim. Depois entendi que não é bem assim. Precisamos buscar saber quem são aquelas pessoas, qual a história de vida delas e criar amizade de verdade. Muitas vezes, só entendemos determinadas situações de saúde se as conhecemos a fundo” acredita Cris.

Embora procure manter discrição em seus atendimentos, a população diz que Cris é mais do que agente de Saúde comunitária. Também já deixou de ser somente amiga. Passou a fazer parte da família.

Foi dessa forma, inclusive, sendo reconhecida como alguém de confiança que conheceu melhor a história da pernambucana Maria Pulcheria das Chagas, 72. Até dezembro do ano passado, a então moradora da comunidade carente estava sem ver os filhos, deixados em Sairé, no Interior de Pernambuco, há 54 anos.

Cristiane cuidava de dona Maria, como é chamada, há oito anos. A senhora sofre de epilepsia, diabetes, hipertensão e bronquite aguda e, por morar sozinha, esquecia de tomar os medicamentos e deixava de se cuidar. A agente colaborava diariamente e nasceu carinho. “Dona Maria acreditava que estava prestes a morrer e disse que se sentia muito triste, pois não sabia sobre os filhos que havia deixado. Pensei que eu poderia ser uma ferramenta para o reencontro. Usei a tecnologia, o que permitiu que tudo fosse realizado. Pedi a ela (dona Maria) uma foto de quando era mais nova e o nome de seus três filhos e ex-marido. Fiz uma publicação no Facebook e, para minha surpresa, dois dias depois consegui entrar em contato com a filha mais nova.”

Sensibilizada com a situação da ‘paciente amiga’, Cris promoveu o encontro de mãe e filha na sua própria casa. No dia 8 de dezembro, em um almoço de domingo, Zezita Maria do Carmo Santos, a Nadir, 56, veio do Nordeste ao encontro da mãe. “Quando a Nadir entrou em casa, já estava chorando. Ela pediu bênção para mãe e a sensação que tive foi a de que elas jamais haviam ficado distantes. Foi muito gratificante. Sou mãe de três filhos e, sem dúvida, a história da dona Maria me trouxe muito aprendizado. Acredito que esta ação promoveu reencontro com a vida”, comenta a agente de Saúde.

HISTÓRIA - A pernambucana dona Maria deixou sua terra natal e três filhos para recomeçar a vida em São Paulo, ao lado de novo marido. As crianças, na época, ficaram sob os cuidados da avó materna. A mais nova era Nadir. Após 54 anos sem ter notícia dos filhos, o reencontro proporcionado pela agente de Saúde trouxe para a família a sensação de que podem recuperar o tempo perdido.

Dona Maria relata que fugiu do ex-marido, com o qual não mantinha bom relacionamento. Assim que chegou em São Paulo, casou-se e teve outros dois filhos, que atualmente moram em Santo André.

Filhos revelam ter acreditado que matriarca já estava morta

Embora Maria Pulcheria das Chagas, a dona Maria, tenha ficado longe dos filhos por cinco décadas, nunca deixou de pensar na família que ficou para trás. A filha Zezita Maria do Carmo Santos, a Nadir, 56, diz que a mãe nunca mais os procurou e que os filhos, inclusive, acreditavam que ela estivesse morta. Quando souberam que a mãe os procurava, no entanto, ficaram revigorados.

No dia 12 de dezembro, dona Maria embarcou em sua primeira experiência com avião, direto para Recife. Ansiosa, a filha preparou tudo para sua chegada. “Mudei para uma casa térrea e montei um quarto para ela. Faz dois meses que está comigo e, a princípio, ficou muito feliz por reencontrar toda a família. Agora está com saudades do filho que ficou em Santo André e quer voltar a morar com ele.”

Nadir diz que só pelo fato de reencontrar a mãe e poder passar um tempo com ela já valeu a pena e, mesmo que ela insista na ideia de voltar a Santo André, a filha garante que nunca mais ficará distante. “Fui muito revoltada quando criança por não ter mãe. Não guardo mágoa nenhuma, tanto é que a trouxe para minha casa. Acredito que seja uma missão poder dar a ela o que não pudemos ter durante todos esses anos mas, se ela quiser voltar, estarei sempre por perto.”

Em Recife, dona Maria reencontrou seus tios, irmãos e sobrinhos. Além de Nadir, esteve perto de seu filho caçula, Severino Chagas, 50. O filho mais velho faleceu há seis anos. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;