Setecidades Titulo
Cartas de amor ainda marcam
Por Luciana Yamashita
Especial para o Diário
02/12/2006 | 16:59
Compartilhar notícia


Já dizia Fernando Pessoa, sob o pseudônimo Álvaro de Campos, “todas as cartas de amor são ridículas”. Uns concordam, outros não, mas as cartas de amor ainda sobrevivem e marcam histórias. Famosos, anônimos, pais, filhos, amigos, namorados, as cartas assumem diversas formas para o mesmo sentimento.

Em tempos de internet, e-mail e bate-papo virtual, a impressão que fica é a de que as cartas foram deixadas de lado. Para chamar atenção dessa realidade, a Fundação Pró-Memória de São Caetano está com a exposição Cartas de Amor no Museu Histórico Municipal.

“A idéia é que a escrita seja estimulada e as pessoas voltem a escrever. A comunicação hoje em dia ocorre de maneira muito simplificada e econômica”, acredita a presidente da Fundação, Sônia Maria Franco Xavier.

Com textos tanto de pessoas comuns como de gênios e famosos da história, a exposição mostra que todos se renderam ao amor. Um exemplo é o escritor Machado de Assis, famoso pela ironia, como na dedicatória da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas”. Em carta de 1869 a sua amada Carolina, ele escreve: “Estamos ambos neste caso; amamo-nos; eu vivo e morro por ti. Escreve-me e crê no coração do teu.” Ele assina a carta como “Machadinho”.

“O amor move o comportamento das pessoas. Mesmo grandes e destemidos homens da história, como Machado, Franz Kafka e Napoleão, deixaram mostras do amor em cartas”, explica Sônia.

Vinte e oito cartas e 46 cartões da comunidade também estão expostos no museu. A carta mais antiga é de 1919, um pedido de casamento de Ângelo de Nardi a sua futura esposa Maria Boemer. “Rogo-vos ao lêrdes esta carta perdoar a minha ousadia; fatigado de guardar commigo o segredo do meu coração trahindo me cada momento; eu venho offerecer-vos o que tenho n´alma; ó meu amor...”, escreveu.

A caligrafia bem delineada e o refinamento estão presentes com mais constância nas cartas antigas. “Parece que a preocupação antes era maior com a escrita e as palavras. O hábito de enviar cartas de amor é cada vez mais raro hoje em dia”, afirma a funcionária administrativa do museu Ivani Barreto, 43 anos.<EM>

Ela acredita que a colaboração tem de partir dos próprios funcionários. “Trouxe uma foto minha com meus irmãos e minha mãe de quando eu tinha cinco anos e uma atual. O engraçado é que estamos na mesma posição nas duas fotos”, conta. Além das fotos, Ivani levou cartas e cartões que fazem parte da história de sua família.

O museu recebeu cartas de moradores da cidade e pretende expor todas as que chegarem. Alunos do Sesi escreveram seus sentimentos e contribuíram para a exposição. Declarações de amor em letras de gente muito jovem estão no local. Os destinatários são pais, colegas de classe, amigos e jovens amores. “É um incentivo às novas gerações de escritores”, diz Ivani. Quem quiser pode enviar suas cartas e cartões de amor para o museu.

Serviço – Exposição Cartas de Amor. Até 27 de janeiro no Museu Histórico Municipal, rua Maximiliano Lorenzini, 122, Fundação, São Caetano. Segunda a sábado, das 9h às 17h. Tel: 4229-1988.

(Supervisão Cláudia Fernandes)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;