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Qualidade de vida de caminhoneiros é avaliada pela primeira vez no Brasil
Por Henrique Kugler
Ciência Hoje/PR
26/04/2010 | 07:00
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Todo mundo se preocupa com a qualidade de nossas estradas. E também com a eficiência do nosso sistema rodoviário. Mas quem se importa com a saúde dos caminhoneiros? Os pesquisadores Lúcio Brandt e Rodrigo dos Santos, do departamento de Educação Física do campus Uruguaiana da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), pensaram nisso e fizeram, pela primeira vez no Brasil, um levantamento detalhado das condições de saúde dos motoristas de caminhão, responsáveis pelo transporte de mais de 60% das mercadorias que circulam pelo País.

"Meu pai era caminhoneiro e, desde pequeno, eu observava os hábitos dele", conta Brandt.

Mais tarde, já educador físico, ele teve a ideia de estudar de forma criteriosa a saúde dos motoristas de caminhão. Os resultados da pesquisa não foram animadores. Problemas na coluna, encurtamento do tecido muscular, hipertensão, obesidade e pressão arterial elevada são apenas alguns dos males que os pesquisadores da PUC-RS identificaram nos 400 caminhoneiros avaliados desde o início do estudo, em 2008.

Os profissionais viajam muito e descansam pouco. Em média trabalham entre 15 e 18 horas por dia. Alguns ingerem substâncias estimulantes - os chamados rebites -, que permitem jornadas ainda mais longas.

"O efeito dessa rotina intensa na saúde desses profissionais é preocupante", alerta Brandt.

O levantamento dos índices de massa corpórea indicou sobrepeso ou obesidade na maioria dos caminhoneiros. Com este resultado, alertam os pesquisadores, a classe se torna um potencial grupo de risco para problemas cardíacos.

Os testes de flexibilidade mostraram também que eles são pouco flexíveis. "Isso sugere considerável risco em uma eventual manobra de emergência na qual precisem de repente estender os membros", explica Brandt.

Como o profissional passa a maior parte do tempo sentado, sua coluna fica prejudicada. As deficiências de postura são comuns. Além disso, ele dorme mal, muitas vezes na própria cabine do caminhão. Não bastassem tantos problemas, os pesquisadores identificaram ainda outro ponto que preocupa: má alimentação. A rotina dos caminhoneiros não permite qualquer disciplina no que diz respeito a comida. Muitos trocam uma boa refeição por sanduíche com refrigerante. A propósito, Brandt conta uma história curiosa:

"Meu pai dizia que um restaurante de estrada cheio de caminhões estacionados é sinal de boa comida. De fato. Mas só mais tarde entendi que boa comida não significa necessariamente comida saudável."

O levantamento feito pelos pesquisadores da PUC-RS mostrou que a alimentação de nossos caminhoneiros está longe de ser considerada nutritiva.

A pesquisa foi feita na cidade de Uruguaiana (RS), que abriga o maior porto seco da América Latina. Os portos secos, assim chamados por estarem fora da zona costeira, são recintos alfandegários onde se gerenciam e fiscalizam mercadorias transportadas na região.

Durante as entrevistas para avaliar a saúde física dos caminhoneiros, os pesquisadores da PUC-RS identificaram também aspectos pouco visíveis que tornam ainda mais difícil a vida desses profissionais. "O transporte de mercadoria valiosa, por envolver grande responsabilidade, causa elevado nível de estresse nos motoristas", diz Brandt. Outras fontes de preocupação dos profissionais são o constante temor de roubos e assaltos, os riscos de acidente, as más condições das estradas... E a saudade da família.




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