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Filippi articula frente pelo emprego
Por Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
22/02/2004 | 22:12
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  O prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), ex-presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, disse sexta-feira ao Diário que pretende mobilizar uma frente de prefeitos e sindicalistas para promover a criação rápida de empregos. Ele confessou-se chocado com as imagens da fila de desempregados que disputavam uma vaga na Frente de Trabalho de Mauá para receber um salário de R$ 240 – 19,5 mil pessoas retiraram ficha.

Filippi também afirmou que entendeu o recado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que na última terça-feira, em sua primeira visita ao Consórcio, cobrou maior participação federal para construção do trecho Sul do Rodoanel, obra de infra-estrutura prioritária para a região. Embora pertença a um partido de oposição a Alckmin, Filippi fez questão de ressaltar a boa relação da região com o governador, que semana passada anunciou a liberação de R$ 34,7 milhões para as áreas de saúde e educação do Grande ABC.

Filippi destacou o trabalho construtivo realizado e deu nota 8,5 para sua gestão à frente do Consórcio.

DIÁRIO – Existe boa vontade política do governo federal com os agentes do Grande ABC. Mas isso não tem se convertido em recursos para resolver os principais problemas da região. Os convênios firmados e recursos do Orçamento destinados à região representam muito pouco diante da receita dos municípios e apenas 1% do custo do Rodoanel será coberto neste ano. Como sair desse embate entre a boa vontade política versus falta de dinheiro?
JOSÉ DE FILIPPI JÚNIOR – É acelerar a vontade política, fazer cobranças. E nós esperamos boas notícias. A economia já está tendo um desenvolvimento com sinais positivos. O mês de janeiro em Diadema foi mais aquecido. Saneamento e habitação vão ter recursos. Nós vamos atrás do Rodoanel. O governador deu um recado aqui, nós entendemos perfeitamente e vamos ser aliados dele. Uma obra viária deste porte significa emprego, perspectiva de desenvolvimento para a região, investimentos no setor produtivo. Passamos o período Fernando Henrique Cardoso totalmente desassistidos, sem presença política. No ano passado, tivemos um grande avanço: mais presença política, mas com menos recursos. Agora é esse desafio que você está falando. A presença política agora tem de se transformar em mais recursos, mais ações concretas e mais liberação de dinheiro. Estou conversando com prefeitos da região e acho que devemos fazer um grande movimento no país em favor de empregos de colocação imediata. Pode-se chamar de frentes de trabalho, de mutirões da cidadania... Fiquei absolutamente preocupado com aquela fotografia que vi no Diário, 20 mil pessoas atrás de um emprego de R$ 240 em Mauá. É um alerta para nós. O povo está dizendo assim: não queremos viver de graça, não queremos viver de esmola, queremos ter direito ao trabalho. Eu acho que não é por causa do Lula. Está assim desde 1998. Aliás, uma das razões do fracasso de Fernando Henrique foi esse: não conseguir dar resposta ao agravamento das tensões sociais que ainda estão difusas. Mas eu acho que isso não vai acabar bem. Em 1983 teve saques com o acirramento do desemprego. As pessoas estão chegando ao seu limite. Acho que devemos incentivar a criação de empregos, procurar o governo Lula, o governador Alckmin e os governadores de todo o país. Até falei com o Luiz Marinho (presidente da Central Única dos Trabalhadores). Acho que a gente deve puxar isso. Acho que a economia não absorve isso agora, com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo 3% ou 4% ao ano. Mais atrasado é viver de cesta básica. Acho que precisamos fazer alguma coisa.

DIÁRIO – Como o sr. entendeu as críticas do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à falta de recursos federais para o Rodoanel?
FILIPPI – Acho que o governador mandou um recado que eu captei prontamente. A Maria Inês (Soares, prefeita de Ribeirão Pires e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC) também. Comentei com ela na mesa. Vamos precisar buscar recursos para o Rodoanel. Nós vamos fazer uma pressão legítima junto ao governo federal para que libere recursos. E esta liberação de recursos para a área de habitação que o Alckmin anunciou, eu acho que instala uma disputa saudável. Lá na frente, estas coisas serão mostradas, cobradas e debatidas, durante o período eleitoral. Acho que esse é um jeito bom de fazer campanha. O governo Lula tem de vir com mais recursos. O governador Alckmin tem de estabelecer novos objetivos. O fato de a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) ter visitado o Pólo Petroquímico significou muito. Acho que desencravamos a questão do Pólo. Tenho certeza de que a decisão política está dada. Agora a Petrobrás vai fazer a discussão, porque o governo não pode substituir os agentes privados. Tem interesses ali. O setor produtivo tem de assumir os compromissos com os trabalhadores. Queremos que este ganho deles se torne um ganho coletivo para a região.

DIÁRIO – O sr. acha que a vinda de oito secretários junto com o governador é prenúncio de que as eleições municipais estão começando e que o Palácio dos Bandeirantes estaria mostrando sua força na região?
FILIPPI – O governador Alckmin vem disputando eleições a cada dois anos – ou ele particularmente ou o partido dele tendo ele como figura central. É evidente que não troquei estas idéias com ele, mas tenho absoluta convicção de que nós devemos pensar igual: a eleição começa a partir de julho. A oposição tenta antecipar, mas sem dúvida o governador vem aqui com espírito de seriedade, porque se fosse para fazer campanha, ele iria no diretório do PSDB. Covas, quando veio aqui, também trouxe nove secretários.

DIÁRIO – Houve avanços significativos?
FILIPPI – Acho que a sede própria teve como simbolismo uma vida intensa de trabalho. Os grupos de trabalho tiveram avanços. Nunca tivemos a presença de tantos secretários de Estado aqui conosco. Eu acho que a gente trabalhou e avançou sobre alguns tabus que nós tínhamos e não foi só em relação à Sabesp (Saneamento Básico do Estado de São Paulo), mas também em relação à Febem (Fundação Esta-dual para o Bem-Estar do Menor), que agora se transforma em casa – um novo conceito de internação. Foi nessa linha que a gente embarcou e nela que a gente acredita. Quando tivemos uma reunião com o governador no Palácio dos Bandeirantes, a gente insistiu muito para que tivéssemos um interlocutor. Acho que foi uma decisão muito acertada, porque o Fernando Leça esteve em todas as reuniões da Câmara Regional, foi sempre um incentivador para fazer o trabalho com os secretários. O Barjas Negri (Habitação) esteve aqui duas vezes. Também vieram o (José) Goldemberg (Meio Ambiente), o Andrea Calabi (Economia e Planejamento) fez uma exposição aqui do Orçamento do Estado, além do (João Carlos) Meirelles (Ciência e Tecnologia), o secretário de Saúde (Barradas Barata), que esteve aqui duas vezes, uma vez com o ministro (da Saúde, Humberto Costa) e outra vez visitando os hospitais da região. Então é isso. Independentemente de eu ser partido de oposição ao governador Alckmin na Assembléia e vice-versa, embora os dois partidos sejam oposição em nível federal, estamos fazendo com que a democracia brasileira cresça e que cresçamos junto, num processo dialético, de avanço. Acho que agora tenho aqui sentimento de trabalho realizado.

DIÁRIO – Que nota o sr. daria para sua gestão à frente do Consórcio Intermunicipal?
FILIPPI – Daria uma nota oito e meio para nosso trabalho aqui. Boa parte pela dedicação e entusiasmo dos técnicos e dos colegas prefeitos. Pela capacidade política de trazer o governo federal, os secretários estaduais. Sempre tivemos a visão de avançar por consenso. Não é um dez ainda porque nós queremos sempre melhorar. O fato de nós termos trabalhos anteriores, do Celso Daniel, do Oswaldo Dias, do Maurício Soares, que nem estão mais conosco, uns por opção outros por tragédia, nós estamos, como diz um preceito bíblico que eu acho muito bonito, colhendo o que outros plantaram.




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