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Negro permanece distante de chefia
Por William Glauber
Do Diário do Grande ABC
11/11/2006 | 18:54
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Qualquer trabalhador de megacorporações instaladas no Grande ABC não precisa de muito esforço mental nem de muitos dedos para contar quantos negros ou negras ocupam cargos de alto comando nas empresas. A cena não é rara só aqui e, em longos capítulos da história, se passa em todas as regiões do país, onde afrodescendentes correspondem por apenas 12% dos postos superiores. Nessa condição, eles ganham 30% menos em relação aos brancos, segundo pesquisa do Instituto Ethos e da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Embora não existam estatísticas sobre a exclusão racial no Grande ABC, o Diário consultou lideranças sindicais e do movimento negro que corroboram a existência da desigualdade de oportunidades. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, o químico da região e presidente da CUT-SP, Edílson de Paula, e o presidente da ONG ABC Sem Racismo, Dojival Vieira, desconhecem negros executivos em grandes empresas das sete cidades.

“No dia-a-dia das corporações, os poucos casos em que negros ocupam altos cargos são raros”, lamenta Vieira. Para ele, a realidade “visível” é mais discrepante quando se estabelece relação à parcela afrodescendente da população (45,6%). Para ilustrar o desequilíbrio no Grande ABC, o militante cita dados de pesquisa do Observatório Afrobrasileiro, com base no Censo de 2000. Em São Bernardo, cidade com maior percentual de negros (27%), um homem branco recebe mensalmente R$ 1.409 ante R$ 690 de um negro.

Mudanças – Para soterrar o fosso que distancia negros da ascensão social, a professora de economia Sofia Manzano, da Unipalmares – primeira universidade centrada aos negros – ressalta a necessidade de desenvolvimento econômico e melhorias na educação básica. Durante o seminário Diversidade Racial Corporativa, realizado no Itaú Cultural, em São Paulo, para debater o mês da Consciência Negra, a pesquisadora apresentou linhas mestras para a eliminação das desigualdades.

“É possível fazer inclusão racial mesmo com baixo crescimento econômico, mas é bem mais difícil”, constata Sofia. Segundo a professora, crescimento econômico gera empregos e o mercado, desse modo, abre espaço para absorver a mão-de-obra excedente. A economista destaca, no entanto, que o Estado tem de ajudar ao oferecer infra-estrutura.

Além de desenvolvimento econômico, investimentos na qualidade da educação básica são essenciais. “O processo de aprendizagem não deve ser apenas para conseguir emprego, mas para libertar o ser humano do obscurantismo”, explica a professora, ao projetar ideal de sociedade sem preconceitos e discriminação.

Afirmação – Como exemplo de política afirmativa, grandes instituições estabeleceram parceria com a Unipalmares para a contratação de estagiários negros na cidade de São Paulo. Hoje, eles marcam presença nos bancos HSBC, Itaú, Bradesco, Citigroup e ABN Amro Real.

Durante o seminário, representantes dos bancos comprometeram-se a renovar o programa e estendê-lo a outras regiões do país. A diversidade nas corporações, segundo eles, reflete-se em criatividade e valor agregado aos negócios. “Todos os estagiários têm as mesmas oportunidades e são tratados como iguais. O que os diferencia é a dedicação e talento. Como no, digo: não desistam nunca”, finalizou o diretor de RH do HSBC, Mauro Raphael, a uma platéia majoritariamente de jovens negros da Unipalmares.




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