Memória Titulo
O entroncamento dos Piranga, no coração do Grande ABC

Aparecida de Oliveira Alves completa hoje 83 anos e é o elo entre o ABC colonial, anterior à vinda dos imigrantes europeus, com os tempos modernos

Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
31/01/2010 | 00:00
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* Histórias dos tempos coloniais
* Carros de boi na Estrada das Lágrimas
* A lenha que São Caetano consumia
* As boiadas que seguiam para Santo André
* No quintal dos Piranga, um pouso de tropeiros
* Do Meninos ouvia-se os carreiros no Esmaga Sapo

Aparecida de Oliveira Alves completa hoje 83 anos e é o elo entre o Grande ABC colonial, anterior mesmo à vinda dos imigrantes europeus, com os tempos modernos. Isso porque Dona Cida preserva notícias importantes de uma antiga família de brasileiros, os Antonio de Oliveira, cujo apelido virou até nome de avenida: Piranga, de Antonio Piranga, em Diadema.

Antonio Piranga era primo do avô de Dona Cida, Paulo Piranga (1865-1940), cujo nome verdadeiro era Paulino Antonio de Oliveira. A propriedade do avô ficava em ponto-chave do Grande ABC. Por ela passavam caminhos como as estradas das Lágrimas e do Vergueiro. No local, em pleno centro do bairro Rudge Ramos, antigo bairro dos Meninos, principiavam outros caminhos importantes, como a Estrada do Taboão, a Estrada do Sacramento, esta de interligação com o Esmaga Sapo (hoje bairro Pauliceia) e derivativos seguintes em direção ao Centro do atual município de Diadema, Eldorado e Santo Amaro, no extremo Sul de São Paulo.

Com outros nomes, a atual Rua Afonsina era a principal via a ligar Rudge Ramos a Santo André. As boiadas em direção ao matadouro dos Martinelli seguiam pela Afonsina.

Foi neste cenário que Dona Cida sempre viveu. Seus pais, avós, bisavós e, provavelmente, parentes mais distantes, ali tinham propriedade. Um dado apenas mostra o ponto estratégico da propriedade dos Piranga em Rudge Ramos: em suas terras, na bifurcação das estradas do Vergueiro e das Lágrimas, localizou-se um antigo pouso de tropeiros, cujas ruínas sobreviveram até o início dos anos 1960 e chegaram a ser fotografadas por Hermano Pini Filho e incluídas em mapa organizado pelo professor metodista José Gonçalves Salvador.

Quando Paulo Piranga faleceu, a pequena Cida tinha pouco mais de 13 anos. Ela lembra do avô que cortava lenha e transportava o produto em carro de boi. Ele tinha um irmão em Santo André chamado Augusto Piranga.

Paulo Piranga era casado com Marcelina Alves de Oliveira. O casal teve oito filhos: Adelino, Manoel, Claudino, Benedito, Francisco, Juvenal, Leopoldina e Rosalina. Os filhos mais velhos seguiram o ofício do pai e avós: cortavam mato para vender lenha em mucuta (pequenos feixes), em São Caetano. Os mais novos, Francisco e Juvenal, tornaram-se confeiteiros em São Paulo, empregados que foram de uma panificadora na Rua General Osório, perto da Estação da Luz.

Cida acompanhava o pai, Manoel Antonio de Oliveira, na distribuição de mucutas em São Caetano. Às vezes seguia com ele para os matos de Diadema e Taboão para o corte da lenha.

Esse trabalho duro e puxado Cida começou a fazer, com o pai, quando tinha 7 anos. Rudge Ramos era uma linha colonial habitada por muitos italianos. Várias daquelas famílias permanecem no bairro transformado, a exemplo dos Bitolo, Thomé, Daré, Bordin ou Bordini, Lorenzoni e Angeli.

São Caetano era pequena, carecia de melhoramentos públicos, mas tinha muito mais casas do que o bairro dos Meninos. Daí porque era um mercado certo para a distribuição domiciliar de lenha.

Os Piranga seguiam com dois carros de boi, uma carrada de lenha em cada um, ou 150 mucutas por unidade. O armazém dos Gatti era um dos fregueses certos. Bom era vender picado nas casas - ganhava-se mais. E se no fim do dia sobrava mercadoria, era só levar à fábrica de louças dos Toyoda, que compravam as sobras.

Dona Cida lembra dos bois da família: Manchado, Nenê, Floresta e Beija-Flor. Eram de estimação. Como bom festeiro das quermesses de São João Batista, o avô Paulo Piranga ofertava valiosas prendas, inclusive animais. Mas da lista estavam fora os quatro bois, que eram o ganha-pão da família.

Do entroncamento dos Piranga, quase em São Caetano, dava para ouvir os carros de boi pelos lados da Vila Pauliceia. Hora de fazer café: assim que os carreiros chegassem, a mesa era servida.

AMANHÃ EM MEMÓRIA
As lembranças da avó materna, que chamava a neta Cida de vaca quintaleira; bois enfeitados com flores de papel; a Vergueiro de baixo e a Vergueiro de cima.

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Quinta-feira, 31 de janeiro de 1980

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HOJE
Dia Mundial da Solidariedade e Dia Mundial do Mágico.

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João Bosco, Luísa Albertoni e Marcela. João Bosco (estampa) era italiano (1815-1888). Sacerdote e educador. Fundador das ordens dos Padres Salesianos e das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora. Patrono do cinema, das escolas de artes e ofícios e dos prestidigitadores.




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