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Antepassado humano recebe nome de ‘‘Orrorin tugenensis’’
Por Das Agências
15/02/2001 | 13:01
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O possível antepassado do homem, com seis milhões de anos, descoberto recentemente no Quênia e de imediato anunciado aos meios de comunicação com o apelido de ‘‘Ancestral do milênio’’, foi apresentado finalmente esta quinta-feira com seu nome científico oficial pela Academia de Ciências francesa: ‘‘Orrorin tugenensis’’.

‘‘Orrorin’’ significa, em dialeto tugen, ‘‘homem original’’ e ‘‘tugenensis’’ faz referência às colinas de Tugen, onde foram encontrados os fósseis deste ‘‘primeiro hominídeo do mioceno’’, explicou a equipe franco-queniana que os descobriu na publicação da Academia.

No total, treze restos pertencentes a ‘‘pelo menos cinco indivíduos’’ foram encontrados em quatro localidades distintas.

‘‘Os ossos fêmur mostram que estes hominídeos eram bípedes na terra, enquanto que o húmero e a falange da mão indicam adaptações arborícolas’’, resume Brigitte Senut (Museu Nacional Francês de História Natural), Martin Pickford (Colégio da França), Kiptalam Cheboi (Community Museums, do Quênia) e seus colegas.

A posição do pé do ‘‘Orrorin’’ era ‘‘diferente e mais humana do que a dos australopitecos’’, indicam os paleontólogos, assinalando, por outra parte, que o pequeno tamanho dos dentes destes hominídeos relativamente grandes (altura estimada de 1,40 m) e a grossura importante do esmalte destes dentes, comparado a outros hominídeos, ‘‘excluindo o ardipiteco’’.

Esta última precisão equivale a uma rejeição à hipótese defendida pelo americano Tim White, segundo a qual o ‘‘Ardipithecus ramidus’’ da Etiópia, de 4,4 milhões de anos, pode figurar entre os antepassados do homem.

Senut e Pickford estimam que o ardipiteco pertence à linhagem dos chimpanzés, separados dos outros há 8,5 milhões de anos. Os australopitecos, separados do tronco comum há 7,5 milhões de anos, se extinguiram há um milhão de anos, segundo essa teoría.

Na base do tronco comum se encontra o samburupiteco, do qual um fragmento de mandíbula de 9,5 milhões de anos foi encontrado no Quênia.

Depois do Orrorin, é preciso situar, entre 4,4 e 3 milhões de anos de idade, os preantropos (Praeanthropus), denominação reabilitada por Brigitte Senut para os fósseis que outros paleontólogos clasificam entre os australopitecos (Australopithecus anamensis). Finalmente, com dois milhões de anos, de antigüidade, aparecem os primeiros representantes da espécie ‘‘Homo’’.

Mas a polêmica continua. Entre os primeiros que reagiram ao anúncio desta descoberta figura Ron Clarke, paleontólogo britânico da Universidade de Witwatersrand (Johannesburgo), que considera estes fósseis ‘‘muito importantes’’ dada sua antigüidade. ‘‘Trata-se incontestavelmente de um hominídeo’’, considera.

Em compensação, o ‘‘corpo grande e dentes pequenos é algo impossível de associar’’, afirma Clarke, que não compartilha a importância dada ao samburupiteco e do que se oculta exatamente, na árvore genealógico proposta, atrás dos australopitecos e dos preantropos.

Por sua parte, a especialista na locomoção dos hominídeos Yvette Deloison, do Centro Francês de Pesquisas Científicas (CNRS), considera que este bípede com características arborícolas é um australopiteco muito antigo.

Deloison baseia seu diagnóstico principalmente no ângulo formado pela cabeça do fêmur (120 graus, a comparar com os 130 graus no homem moderno), o que corresponde - explica - à morfologia dos quadris dos australopitecos. E, principalmente, ‘‘não se pode descrever com precisão uma locomoção sem dispor dos ossos do pé’’, enfatiza a antropóloga.

Ao apresentar recentemente, em Paris, os ossos do Ancestral do milênio, Martin Pickford havia admitido de cara que este novo fóssil criaria sem dúvida ‘‘debates e polêmicas’’. ‘‘Para fazer progredir a ciência, é preciso saber questionar os dogmas’’, enfatizou Brigitte Senut.




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