Economia Titulo Migração
Emprego em serviços cresce 11,5% em 5 anos

Por outro lado, nível total de ocupação na região
caiu 0,7%; indústria eliminou 19,9% dos postos

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
15/02/2016 | 07:21
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André Henriques/DGABC


O número de pessoas ocupadas no setor de serviços no Grande ABC teve alta de 11,5% entre 2011 e 2015, segundo dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita em parceria pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). A alta corresponde a 67 mil trabalhadores a mais nesse segmento, passando de 582 mil para 649 mil indivíduos.

Com o aumento, o segmento de serviços, que em 2011 era responsável por 47,2% das ocupações na região, passou a empregar 53% dos moradores das sete cidades em 2015. O desempenho vai na contramão dos dados sobre o mercado de trabalho no Grande ABC, que apresentou retração de 0,7% no período, passando de 1,233 milhão para 1,224 milhão de pessoas.

A mão de obra em atividade na indústria, por sua vez, teve queda de 17,9% em cinco anos (de 345 mil para 283 mil), fazendo com que a participação dos prestadores de serviço no setor produtivo caísse de 28% para 23,1% em relação ao total de ocupados na região. O comércio, que em 2011 empregava 17,7% dos moradores das sete cidades, fechou o ano passado com o peso reduzido para 17,4% – reflexo do enxugamento de 3,19% das vagas na área (de 219 mil para 212 mil).

Considerando que houve crescimento de 5,8 pontos percentuais nos empregados em serviços e a redução de 4,9 pontos percentuais na indústria, é possível afirmar que ocorreu migração de um ramo para outro.

O economista Alexandre Loloian, da Fundação Seade, considera que, em regiões metropolitanas, a tendência é de aumento na participação do setor de serviços como empregador. “A ocupação está sendo mesclada.” O professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia segue a mesma linha, reforçando que esse ramo de atividade é hoje responsável por 70% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.

Balistiero acrescenta que outro fator que justifica essa inversão nas estatísticas de emprego no Grande ABC é a crise econômica, que afeta em cheio a produtividade das fábricas, provocando demissões e, consequentemente, transferência para outros setores. “Entendo que essa mudança no perfil de atuação não compromete o crescimento do País. Em economias mais maduras, o setor de serviços tem tido ascensão relevante. Mas isso tem que ocorrer de forma harmoniosa, sem ocupar o espaço que era preenchido pela indústria.”

O professor também critica a falta de planejamento para o setor produtivo no País. “O Brasil não tem política de desenvolvimento industrial desde os anos 1950. As fábricas daqui se limitam hoje a reproduzir o que é definido pelas matrizes internacionais.” Ele diz que, para reverter esse quadro, é necessário repensar o papel do Estado na economia, de maneira que se torne mais “enxuto” e com gastos racionalizados. “Nos últimos anos, criamos a política dos campeões nacionais: linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para grandes produtores. Optamos por proteger a indústria. Isso mata a produtividade, pois o setor sabe que, em última instância, pode contar com o BNDES camarada.” O problema é que, nos últimos meses, com a necessidade de o governo implantar o ajuste fiscal, a oferta de crédito teve redução significativa.

Na opinião de Donizete Duarte da Silva, diretor titular da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, outro problema é o fato de a indústria não ter investido em tecnologia, o que diminui o valor agregado dos itens produzidos e faz com que as empresas nacionais percam participação no mercado externo, mesmo com o real desvalorizado na comparação com o dólar. Ele cita ainda a alta carga tributária do País, o que prejudica ainda mais os investimentos em inovação e melhoria da produtividade.


Funcionários do setor têm renda inferior à média

O rendimento dos empregados no setor de serviços em 2015 (R$ 1.996) era 8% inferior à média geral dos ocupados no Grande ABC, de R$ 2.170. A diferença é ainda maior se os valores forem comparados com os que são pagos aos industriários (R$ 2.596).

O professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que a indústria, em momentos de crise, demite principalmente os trabalhadores com pouca qualificação. Esses, sem opção para recolocação no setor, acabam tendo de migrar para outras áreas, mesmo ganhando menos.

Dentro do setor de serviços, a maioria dos empregados (28%) está na área de administração pública, defesa e seguridade social, Saúde, Educação e serviços sociais. Outros 20,6% atuam em alojamento, alimentação e recreação.

Exemplo de quem trocou a indústria pelos serviços é do empresário Vitailton Dias Marques, 48 anos, de Ribeirão Pires. Ele atuou por 12 anos em fábrica de autopeças e, há três anos, saiu para abrir um negócio de instalação de gesso. Hoje, ganha 60% a mais. Além do aumento financeiro, ele buscava melhor qualidade de vida. “Muitos na indústria acabam ficando doentes”, ressalta.

Ele avalia que esse movimento é tendência não só na região, como no Brasil. “A indústria, em geral, está automatizando suas linhas de produção e isso está diminuindo muito o nível de emprego.” Hoje, Marques conta com quatro funcionários e oito free-lancers.
 




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