Cultura & Lazer Titulo
Ney Latorraca, o ator de caninos bem afiados
Por Priscila Bittencourt
Da TV Press
08/03/2003 | 17:41
Compartilhar notícia


Ney Latorraca não via a hora de voltar a interpretar um vampiro. O estrondoso sucesso do Conde Vlad na novela Vamp (1991) deixou um gosto de quero mais no ator, que adora fazer personagens, como diz, bizarros. Em seu currículo, Ney se orgulha dos trabalhos nada comuns. E lembra com atenção especial do engraçadíssimo Barbosa de TV Pirata. “Eu tenho uma trajetória diferente dos outros atores. Os diretores lembram do meu nome para interpretar personagens que não pertencem ao cotidiano, difíceis de fazer”, diz o ator.

Esta competência se revela também na maneira como se transforma quando está atuando: “A partir do momento em que me caracterizo, deixo de fora a minha personalidade”. Ney afirma não precisar de inspiração ou de qualquer estudo sobre o personagem. “Inspiração vem na hora, eu invento tudo e coloco a minha criança para florescer”.

A profissão de ator é o que faz Ney se considerar um ser humano completo. Por meio dela, consegue viver fantasias e até dispensar a terapia. “O ator é um armário com milhões de gavetas. Abre uma, abre outra e vai juntando até formar alguém completamente diferente”, afirma. Mas nem tudo na profissão é glamour. “Eu continuo sentindo o peso de ter que agradar ao público, vou a luta por um aplauso e por um sorriso. E irei sempre, esta é a minha essência”.

Com 58 anos, Ney não pensa em diminuir a rotina de trabalho. Além da novela O Beijo do Vampiro, da Globo, na qual interpreta o Nosferatu, e da peça Capitanias Hereditárias, em cartaz no Rio, o ator já filma, ao lado de Marco Nanini, Os Mistérios de Irma Vap, adaptação para o cinema da peça homônima, com a qual ficou em cartaz por 11 anos. “A gente precisa lutar pela nossa memória”, diz.

TV PRESS – A sua entrada em O Beijo do Vampiro foi uma tentativa de alavancar a audiência da novela?

NEY LATORRACA – Acho que não. A minha entrada já estava nos planos do Antonio Calmon e do Marcos Paulo. E eu queria mesmo voltar a fazer um vampiro, o que eu já tinha feito, além de Vamp, na peça Os Mistérios de Irma Vap. Este é um momento ótimo para mim. Estou no Beijo, no Vale a Pena Ver de Novo em O Cravo e a Rosa, participei de A Casa das Sete Mulheres e ainda estou no teatro...

TV PRESS – Mas você acredita que possa dar ibope?

NEY – Não sei se dou ibope, mas sei que desperto certo interesse nas pessoas de todas as idades. Meço isso quando alguém diz que gosta de determinado trabalho que fiz, aí eu vejo que atinjo várias faixas etárias.

TV PRESS – Você tenta caracterizar o personagem de modo que as crianças se entusiasmem e, ao mesmo tempo, não se assustem com ele?

NEY – Quero atrair as crianças, sem provocar medos. Em vez de falar gostoso, eu falo ‘gotoso’, isso bate diretamente no público infantil. Mas em relação à parte mórbida do personagem, no fundo, é difícil dizer que as crianças se assustam com isso. O dia-a-dia é muito mais apavorante do que a ficção, não dá para competir.

TV PRESS – Este ano você completa 35 anos de carreira na televisão. Se sente realizado como ator?

NEY – Olha, um dia eu peguei um táxi e o motorista me disse que a profissão mais difícil era a de ator, porque a gente não tem horário para nada, um dia faz sucesso e no outro ninguém se lembra da gente. Sei que isto é filosofia de taxista, mas ele estava certo. O que me realiza mesmo é o constante aprendizado ao qual o ator deve se submeter para encantar o público sempre.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;