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Cisão antecipa filiação de Auricchio ao PSDB
Giba Bergamim Jr. e Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
17/03/2005 | 13:51
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A ruptura definitiva do prefeito José Auricchio Júnior (PTB) com o assessor especial Antonio de Pádua Tortorello, ponta-de-lança do então prefeito Luiz Tortorello, que morreu em dezembro do ano passado, antecipa a filiação do chefe do Executivo de São Caetano ao PSDB. A mudança de legenda acontecerá em no máximo duas semanas e pode transformar São Caetano no mais forte reduto tucano da Região Metropolitana de São Paulo. Condição mais que favorável ao partido do governador Geraldo Alckmin para as eleições do ano que vem, que além da capital paulistana terá na vitrine tucana o município com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país: 0,919 sendo a média do Brasil de 0,766.

Quarta-feira pela manhã, José Auricchio recebeu telefonemas de três deputados tucanos – dois federais e um estadual –, que reforçaram o convite de filiação ao PSDB feito pessoalmente há um mês pelo vereador da capital José Anibal. Em visita a São Caetano em fevereiro, José Anibal ressaltou a identificação do PSDB com o estilo do prefeito. “Para nós é satisfatório poder tê-lo como interlocutor no campo administrativo e político”, argumentou o tucano.

José Auricchio mostrou-se bastante animado uma vez que o PSDB possibilita alçar vôos mais altos. Além de ganhar um prefeito em início de mandato, a legenda certamente irá engrossar o número de vereadores, que deverão seguir a decisão política do prefeito. O assunto começou a ser alinhavado em reunião na noite de quarta-feira entre José Auricchio e a bancada de sustentação.

A ida José Auricchio para o PSDB não é apenas resposta à cisão com o grupo político herdeiro de Luiz Tortorello que tentou inviabilizar a governalibidade nos primeiros meses da administração. Anterior às desavenças domésticas, o interesse dos tucanos em atrair o chefe do Executivo de São Caetano apresenta claramente os planos político-eleitorais para 2006 encabeçados pela candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. O prefeito administra a cidade considerada melhor do Brasil e referência em qualidade de vida estadual e nacional, verdadeiro trunfo que o PSDB pode explorar no próximo ano, quando estarão em jogo os palácios dos Bandeirantes e do Planalto.

A reaproximação do tucanato com São Caetano, depois do distanciamento causado pela não indicação de Luiz Tortorello ao governo pelo PTB que apoiou Geraldo Alckmin, mostra outra face: a necessidade de reverter a baixa representatividade do PSDB na cidade nos últimos anos. Além de não ter eleito nenhum vereador, o partido não lançou candidatura própria para o Executivo em 2004.

Assim que José Auricchio assinar a ficha de filiação, o PSDB ganha a segunda Prefeitura na região – a primeira é Rio Grande da Serra – e tem ainda a seu lado o prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi, hoje no PV, mas que já integrou o ninho tucano. Alinhados ao governador Geraldo Alckmin também estão o prefeito interino em Mauá, Diniz Lopes (PL), e William Dib (PSB), de São Bernardo. O novo mapa de alianças, no mínimo, desestabiliza o PT, principal adversário dos tucanos na corrida sucessória do próximo ano.

Na tarde de quarta-feira, o vereador José Anibal informou, por meio de sua chefia de gabinete, que seria motivo de orgulho para o partido a filiação de José Auricchio. No entanto, não houve nenhum convite formal do PSDB ao petebista após a ruptura do prefeito com o grupo herdeiro de Luiz Tortorello. A cautela adotada pelo PSDB é justificável uma vez que o deputado estadual licenciado, Marquinho Tortorello (PPS), filho do prefeito falecido, é secretário de Esportes da gestão José Serra, em São Paulo, e aliado do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembléia Legislativa.

Durante entrevista concedida pelo secretário ao Diário, em 26 de fevereiro, Marquinho condicionou o sucesso da administração do atual prefeito ao seguimento da cartilha de Luiz Tortorello. A resposta de José Auricchio veio no dia seguinte: “Quem me elegeu foi o povo”.

Ruptura – Embora o Palácio da Cerâmica tenha sido tomado por um clima de grande tensão durante o início da semana, quarta-feira a tranqüilidade voltou a pairar sobre o paço municipal. O prefeito José Auricchio Júnior passou o dia no gabinete, onde permaneceu inclusive no horário do almoço. Alguns funcionários afirmaram que o clima era amistoso.

Na segunda-feira à tarde, a cisão do grupo político que comanda a prefeitura foi concretizada com a exoneração do assessor especial, Antonio de Pádua Tortorello, e da secretária da Fazenda, Maria Carmem Gonzales Reys Campos, depois de acalorada discussão com José Auricchio. Tanto o irmão de Tortorello, Antonio de Pádua, como Carmem, mantinham-se nos cargos que ocupavam desde a última gestão.

Os vereadores aliados insistem em negar o racha e o tratamento do assunto lembra o dispensado ao processo médico do prefeito Luiz Tortorello, que morreu vítima de câncer em dezembro. Na ocasião, os parlamentares negavam a enfermidade e diziam que Tortorello estava bem. O mesmo acontece agora.

Antonio de Pádua sempre foi o homem forte de Luiz Tortorello na Prefeitura e tinha Carmem como aliada. Ambos integram o primeiro escalão desde que o grupo assumiu o governo em 1989, primeira gestão de Tortorello. Pessoas ligadas à administração afirmam que o rompimento foi provocado porque Antonio de Pádua impedia José Auricchio de governar e teria quebrado acordos. Entre os quais o que daria total independência para o novo chefe do Executivo governar.

Negativa – O secretário de Negócios Jurídicos, João da Costa Faria, que acumulará a pasta de Finanças com a saída de Maria Carmem Gonzales Reys Ramos, alega não existir ruptura entre o grupo político herdeiro de Luiz Tortorello e José Auricchio. Ele afirma que Maria Carmem está apenas em licença prêmio e deve retornar à Prefeitura, já que é funcionária de carreira, assim como Antonio de Pádua Tortorello. No entanto, não soube dizer se Antonio de Pádua continuará em sua função de coordenador político ou se voltará ao cargo de procurador do DAE (Departamento de Água e Esgoto), no qual não exerceria nenhuma função política, como vinha fazendo nos últimos oito anos de gestão Luiz Tortorello. “Não sei, você precisa perguntar ao prefeito”, disse Faria.

O secretário declarou que Antonio de Pádua estaria atuando normalmente na Prefeitura. “O doutor Pádua continua na Prefeitura. Alguém exonerou o doutor Pádua? Ele é funcionário de carreira”, reiterou.

Mesmo após a ruptura, o relacionamento entre Marquinho Tortorello e José Auricchio continua normal, garante Faria. “Os dois freqüentam os jogos do São Caetano no camarote, inclusive. Não tem problema nenhum. É uma questão de ótica da imprensa que quer enxergar um litígio onde não existe”, justifica.



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