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Alternativa ao Metrô da região, BRT apresenta problemas no Rio

Falhas vão desde buracos no asfalto a atrasos na circulação; governo cogita modal para Linha 18-Bronze

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
22/03/2019 | 07:00
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Divulgação


Estudado como alternativa à futura Linha 18 - Bronze do Metrô pelo governo estadual, o BRT (sigla em inglês para sistema de transporte rápido por ônibus) coleciona série de problemas estruturais no Rio de Janeiro, onde o modal é utilizado desde 2012.

Pensado para atender turistas durante a realização dos Jogos Olímpicos realizado na cidade, há três anos, e, posteriormente, usuários de transporte coletivo da cidade, o modal tem sofrido, de forma precoce, com falhas que vão desde buracos no asfalto a falta de um sistema de drenagem, consequência de problemas na execução do projeto, segundo especialistas.

“É um modelo que já nasceu saturado devido à sua capacidade de transporte de passageiros inferior à de outros modais e, consequentemente, problemas estruturais”, explica Vladimir Fernandes Maciel, especialista em mobilidade urbana e coordenador do Centro de Liberdade Econômica da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Na avaliação do especialista, um dos principais problemas está na operação diária do ramal, constituído por quatro corredores com um total de 150 quilômetros e 165 estações. Maciel cita como exemplo os desníveis do asfalto por onde os ônibus circulam, problema que tem sido recorrente no BRT Transoeste, um dos ramais do sistema. “Se passaram cinco anos e eles já apresentam falhas que reduzem a velocidade dos veículos e impedem as rápidas ligações com o Metrô e os trens da cidade, conforme prometido.”

O reflexo deste cenário tem sido atraso constante de viagens, além de superlotação do sistema, que atende cerca de 450 mil passageiros por dia, conforme balanço do BRT Rio.

Apesar de ser vendido como alternativa viável ao Metrô e monotrilho, o modelo tem histórico ainda de elevação de seu custo. No caso do BRT Transcarioca, uma das linhas implantadas no Rio de Janeiro, o valor estimado de implantação era de R$ 1,3 bilhão, mas o site da Transparência Brasil mostra que o custo chegou a quase R$ 2 bilhões, ou seja, valor semelhante às obras do Metrô feitas em São Paulo.

“Em alguns casos, o custo do BRT é mais elevado do que o do sistema metroviário devido à necessidade de desapropriação de imóveis”, observa Humberto de Paiva Junior, especialista em mobilidade urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC). O especialista cita como exemplo o caso de cidades do Grande ABC, onde o valor do metro quadrado chega a ser de R$ 6.138, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). No estudo, três cidades – Santo André, São Bernardo e São Caetano – constam na lista dos 25 municípios com preços mais altos do País.

Conforme o governador João Doria (PSDB), a decisão a respeito do tema para o Grande ABC será divulgada em 90 dias.

 

ESTRANGULAMENTO

Não bastassem as falhas estruturais, estudiosos citam ainda o exemplo do Rio de Janeiro para falar do estrangulamento do viário existente, que tem causado piora na fluidez do trânsito.

Devido à criação de espaços exclusivos para os ônibus, o BRT chega a ocupar até quatro faixas de grandes avenidas para circulação dos coletivos. “Diferentemente do monotrilho, que não demanda tanta desapropriação, o BRT exige grandes mudanças no viário, com reflexos imediatos para a circulação de veículos”, aponta o engenheiro de tráfego Horácio Figueira.

 

 

Representantes da OAB defendem que Estado mantenha projeto original

Presidentes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Grande ABC defenderam, ontem, que o Estado mantenha em andamento o projeto original, de 2014, para construção da Linha 18 - Bronze do Metrô, cujo esboço prevê construção de 13 estações, através de sistema de monotrilho, que será responsável por ligar as cidades da região até a Capital.

O posicionamento das lideranças ocorre após o governo do Estado assumir que analisa possível mudança do formato do modal a ser utilizado no Grande ABC, tendo em vista o impasse encontrado pelo Palácio dos Bandeirantes, responsável pela obra, em conseguir efetivar a construção do empreendimento. “O desejo da população é o de ter o Metrô e iremos lutar para que isso seja cumprido”, disse o presidente da subsecção OAB de São Caetano, João Paulo Borges Chagas, que diz acompanhar de perto as negociações com Estado.

Ontem, durante sua posse, a presidente da entidade de Santo André, Andrea Tartuce, disse que trabalhará por meio de comissão para que o desejo da população seja cumprido. “Iremos atuar na criação de comissão que visa aproximar a sociedade desta discussão para o desenvolvimento do projeto e demais políticas públicas que contemplem toda a sociedade.”

 

Discussões sobre novo modal não incluem técnicos da região

O grupo de trabalho criado pelo governo do Estado de São Paulo para discutir a possibilidade de um novo modal para a Linha 18-Bronze ainda não inclui técnicos das região. O governador João Doria (PSDB) declarou, na última quarta-feira, durante evento em São Bernardo, que a equipe está sendo coordenada pelo secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, e conta com a participação de outras pastas.

Presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB) declarou, em entrevista ao Diário, que deve se reunir com Baldy na próxima semana para colocar os técnicos do colegiado à disposição do grupo de trabalho.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos afirmou que está empenhada em desenvolver as melhores alternativas para aprimorar o transporte no Grande ABC. Em nota, relatou que “os desafios já apresentados envolvem série de ações não realizadas por governos anteriores e que exigem desta gestão a elaboração de estratégia para que os recursos, não previstos no orçamento de 2019, sejam disponibilizados. No momento oportuno, se necessário, técnicos de outras instituições serão convidados a integrar o grupo de estudos.”




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