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Clima de interior no Quarta Divisão
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
21/03/2011 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Com clima de cidade do interior, o bairro Quarta Divisão, em Ribeirão Pires, é tranquilo, mas carece de infraestrutura. Prova disso, é o celular que não funciona. Há um abaixo assinado com cerca de 4.000 mil assinaturas dos moradores que pedem uma torre.

A via principal, a Avenida Miro Attílio Peduzzi, é asfaltada, mas é preciso desviar dos buracos. Outras são de paralelepípedos ou de terra, que dão sinal de falta de conservação. A Prefeitura informou que a via passa por processo de asfaltamento e manutenção, e o mesmo deverá acontecer com as demais.

A nove quilômetros do Centro, o bairro é cenário de pontos turísticos que já receberam muitos visitantes. Agora são recordações como a Pedra do Elefante, Gruta, Sítio São Conrado, Castelo Robson Miguel e Centro Hípico Amarelinho. Segundo a administração, a manutenção dos pontos turísticos faz parte do cronograma.

A 977,7 metros do nível do mar, a Pedra do Elefante é o ponto turístico mais alto. Há oito anos a dona de casa Silvia de Souza, 34 anos, vive na Rua Malvina Tavares, que dá acesso ao local. "Já subi na pedra. Agora está intransitável. Jipe e motos ainda sobem, mas tem muito buraco."

Há cerca de 10 anos que a Gruta da 4ª Divisão está fechada, segundo o caseiro do sítio que dá acesso ao lugar.

De acordo com os moradores o bairro é considerado dormitório, devido à falta de emprego.

Desde 1964 o aposentado Miguel Luiz, 73, vive no bairro. Ele é proprietário de um prédio na avenida principal, onde há uma padaria. "Aqui é estilo interior, todos se conhecem. É uma pena a falta de lazer e a ausência de médicos na UBS."

A Prefeitura informou que a UBS conta com um clínico geral, pediatra e dois ginecologistas. A partir de hoje, um novo clínico geral prestará serviço. A administração informou que na Vila Rica, que pertence ao bairro, há duas quadras, justificando que há lazer.

Há dois anos o genro de Miguel, Marco Antonio Peduzzi, 46, assumiu a panificadora. "Deixei de passar a semana toda em Campinas, Interior de São Paulo, para ser comerciante. É assim que conheço os moradores e vejo o crescimento da minha filha", diz Peduzzi, neto de Miro Attílio Peduzzi, um dos primeiros moradores.

MUDANÇA

A pensionista Theresinha Giannaccini Peduzzi, 74, mãe de Marco, acompanhou o progresso. Ela chegou ao bairro em 1940, se mudou para o Centro e retornou em 1956. "Na época era mais mata e pouca gente. De comércio, tinha a padaria que meu sogro construiu, em 1936." Theresinha se recorda quando a Avenida Sapopemba era de terra e ganhou asfalto, em 1957. "Meu primeiro filho nasceu quando não tinha energia elétrica e usávamos gerador a óleo diesel. A energia chegou no fim dos anos 1950."

ONG atende 400 animais vítimas de maus-tratos

Desde 2001 o Clube dos Vira-Latas, uma ONG (Organização Não-Governamental) de Ribeirão Pires recolhe cães abandonados e incentiva a adoção consciente.

Em uma chácara localizada no bairro Quarta Divisão, a ONG abriga 400 animais vítimas de maus-tratos ou abandono.

A instituição foi criada pela aposentada Maria Aparecida das Graças Lellis, que morreu em dezembro do ano passado.

O principal objetivo da ONG é recuperar o bicho para que possa conseguir um lar. Para isso, os cães recebem o tratamento necessário até estarem aptos para a adoção.

Apesar das dificuldades, todos os cachorros resgatados recebem atendimento dos veterinários.

"Fazemos o papel que a prefeitura não faz. Não recebemos verba e vivemos de doações, mas nem por isso deixamos de atender os animais. Eles são tratados pelos nossos veterinários, vacinados e recebem um chip (que contém todas as informações do dono)", afirma a presidente Claudia Demarchi.

A ONG realiza feira de animais semanais para incentivar a adoção. "No fim do ano, período de festas e Carnaval é comum aumentar o abandono; 96% dos nossos animais são vira-latas", explica.

Quem quiser visitar o Clube ou fazer alguma doação pode mandar um e-mail :CF51 clubedosviralatas@clubedosviralatas.org.br ou facebook!clubedosviraltas.org.br

Pontos turísticos passam a ser lembranças

A advogada Mary Maria Aparecida Zecchi Luis Peduzzi, 36, filha de Miguel Luiz, se lembra dos tempos de infância em que frequentava o Sítio São Conrado, localizado na Estrada da Sondália. "Lembro que de fim de semana tinha até fila para entrar, as pessoas vinham de São Paulo para aproveitar o clube com piscinas, playground, quiosques. Hoje são só lembranças."

Agora se a filha de Mary, Maria Beatriz, 3, quiser se divertir, será preciso levá-la para o Centro ou ao shopping. "Tem a praça, mas não tem nada para ela brincar."

O Sítio São Conrado, que existe há 46 anos, já atraiu muitos visitantes. Atualmente, serve de alojamento para 250 funcionários que trabalham para a Recap (Refinaria de Capuava), em Mauá.

"Faz dois anos que disponibilizamos o espaço para alojamento. O clube funcionou 32 anos, mas resolvemos comprar os títulos para não quebrar como os demais clubes na época. No caso de um espaço para eventos, é preciso ir atrás dos clientes. O alojamento já é algo mais certo", afirma proprietária Wania Maria Eduardo Saenz, 50.

CASTELO

Quem vive no bairro pode voltar ao passado na época medieval. Isso mesmo, o local tem um castelo inspirado em monumentos europeus. O violonista Robson Miguel foi quem construiu a obra, localizada na Rua do Castelo. Para fazê-la, Robson baseou-se em 78 edifícios que ele havia visitado em Viagem à Europa. Inaugurado em 1999, o espaço ficou aberto ao público até 2006.

"Com a lei da acessibilidade teria que fazer uma grande reforma e iria descaracterizar a estrutura", diz Robson.

Se por fora é como se estivesse voltado no tempo por dentro não é diferente. O castelo tem túneis, calabouços, passagens secretas, pelourinho e ainda passagem subterrânea com quase 30 metros de profundidade. "É separado em três partes: reis, índios e negros. A ideia é resgatar a história brasileira."

Sistema Rio Claro corta o Ouro Fino

A expressão Quarta Divisão nasce com a implementação do sistema Rio Claro de abastecimento de água. O trecho de aquedutos e adutoras tem 86 quilômetros. Interliga Salesópolis - onde está o Rio Claro - à Capital. E foi subdivido em Divisões. A quarta delas fica no Distrito de Ouro Fino, em Ribeirão Pires.

O sistema Rio Claro foi pensado na década de 1920, quando São Paulo enfrentava sérios problemas de abastecimento de água. Em 1926, o presidente da Província de São Paulo (hoje Estado de São Paulo), Carlos de Campos, autorizou o início das obras. A primeira etapa da Adutora Rio Claro ficou pronta em 1941. Originou a abertura da Avenida Sapopemba, que interliga Ribeirão Pires à Zona Leste de São Paulo.

A água produzida pelo Sistema Rio Claro abastece ainda hoje bairros da Zona Leste da Capital e parte dos municípios de Ribeirão Pires, Mauá e Santo André.

A ocupação do território hoje denominado Quarta Divisão é centenária. É rural, com atividades agrícolas, funcionamento de olarias - antiga indústria da cidade - e extração de lenha. Entre as antigas famílias está a Felix, com raízes até hoje na cidade e que guarda fotos como a de 1927, em que aparecem os seguintes integrantes: Antonio, Matia, Aurora, Nicolau e Francisco Félix. Esta foto foi exibida em 1992, quando participou de uma exposição do Museu Municipal Família Pires.

Aliás, o ribeirão que intitula a cidade, o Ribeirão dos Pires, nasce na encosta entre a Quarta Divisão e Ouro Fino. O ribeirão corta toda a cidade e é um dos formadores da Represa Billings.

Uma das adutoras do Sistema Rio Claro foi instalada bem ao lado da antiga capelinha de Ouro Fino. Por causa do equipamento, foi abandonada. Mais tarde, na década de 1950, o povo se reuniu para construir a nova igreja, em terreno cedido por Jordão de Moraes.

Em 1947, realizando pesquisa em sua propriedade, na Quarta Divisão, Narciso Lage descobriu que pelos filetes que provinham das colinas próximas corria água radioativa, oligo metálica. Foi um achado. A fonte ficava em local inacessível e a alternativa foi isolar a nascente. A exploração da fonte ficaria para a década de 1950, com a constituição da firma Lage e Cia., de 1951. Em 1957 a empresa iria se transformar em sociedade anônima. Nascia a Estância Pilar, responsável pela exploração e fornecimento da Água Mineral Pilar.

A urbanização demora a chegar. Em princípios da década de 1950 é aberta na Quarta Divisão a Vila Santa Isabel, que em março de 1964 ganha um serviço de telefone tipo PBX.

Na segunda metade da década de 1970 é implementada a derivação de água da Adutora Rio Claro, para reforçar o abastecimento de Ribeirão Pires. Instalavam-se duas linhas de 150 mm. E, em 1987, o Grupo Pierre Martin descobre a Gruta da Quarta Divisão, na Chácara Paraíso, uma das áreas mais bonitas de Ribeirão Pires. A gruta é citada como a maior de granito do Brasil, com 130 metros de projeção horizontal e 19 metros de desnível. A Sociedade Brasileira de Espeleogia cadastrou a gruta, propriedade de Antonio de Almeida. (Ademir Médici)




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