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Internet domina congresso mundial de imprensa
Por Do Diário do Grande ABC
14/06/2000 | 00:11
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As oportunidades e ameaças que a Internet representa para os jornais foram o tema de quase todos os debates e mesas-redondas, nesta terça-feira, no 53º Congresso da Associaçao Mundial de Jornais (World Association of Newspapers - WAN) e no 7º Fórum de Editores, no Rio. Somente a palestra do presidente Fernando Henrique Cardoso e a primeira mesa-redonda dos editores - sobre religiao - quebraram a unidade do assunto.

Esta quarta-feira, no último dia do encontro, a primeira atividade será um debate sobre o suporte do jornal do futuro (papel ou digital), entre o fundador do diário americano USA Today, Al Neuhart, e o editor da revista da Microsoft, Slate, Michael Kinsley. Em seguida, no congresso, o diretor-superintendente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto apresentará um panorama da imprensa brasileira. A tarde, o diretor-geral da empresa canadense Globe and Mail, Roger Torkinson, será anunciado o novo presidente da WAN para os próximos dois anos.

Nas palestras desta terça o tom foi de alerta para os jornais que nao se adaptarem às novas tecnologias. "Em cinco anos, 18% da verba publicitária que normalmente iria para a mídia impressa será desviada para a Internet", afirmou Christopher Charron, diretor da Media & Entertainment Research, empresa de pesquisas americana especializada em comunicaçao. Para basear suas estimativas, Charron apresentou pesquisa feita com usuários da Web nos Estados Unidos.

Segundo ele, 72% dos entrevistados com 18 meses de acesso à rede ainda preferiam usar os classificados de jornais para fazer suas compras. Quando, porém, era analisado o público com mais de 42 meses de acesso, esse número mostrava uma sensível queda, para 64%. "Até 2005, haverá uma reduçao de aproximadamente 25% nos anúncios do mercado impresso de classificados", ressaltou Charron. "Os sites de serviços, com maior disponibilidade de informaçoes, vao substituir o velho classificado", disse. As áreas mais afetadas serao a de empregos e a de venda de carros e imóveis.

O jornalista John Perriss, presidente da Zenith Media Worldwide, empresa de consultoria de comunicaçao que atua em 34 países, apresentou levantamento dos investimentos do mercado publicitário no mundo nos últimos dez anos. Nesse setor, os jornais registram o pior desempenho de crescimento, com apenas 2%. A TV lidera o ranking publicitário, com 48,6% de expansao, seguida pelo rádio (44%), Internet (14,4%) e os anúncios em outdoors (8,5%).

"Em 1998, o mercado on-line movimentou US$ 200 milhoes e a projeçao para 2003 será de US$ 600 milhoes", disse Perriss. Segundo ele, a publicidade em jornais vem caindo porque os anunciantes consideram a mídia impressa "muito conservadora". "A saída é a personalizaçao dos veículos, com metas de negócios e planos de mídia que possam atrair o consumidor, com compras e preços mais eficientes", disse.

O presidente da Zenith citou o exemplo da parceria entre o Daily Telegraph, da Inglaterra, e a fábrica de automóveis Land Rover. "O Daily pôs o seu prestígio entre os leitores ingleses a serviço da Land Rover, para divulgar uma série de carros destinada à família", explicou. "O jornal publicou um caderno especial, em formato tablóide, de 16 páginas, com a campanha publicitária da Land Rover."

A tarde, o presidente do Los Angeles Times, John Puerner apresentou a experiência multimídia de sucesso que liderou no Orlando Sentinel Communications, da Flórida. Segundo ele, em 1997, o Orlando Sentinel, líder dos jornais da regiao centro-leste dos Estados Unidos, associou-se ao grupo Time-Warner, para comprar um canal de tevê a cabo e criar um amplo projeto de multimídia.

"A partir daí, montamos um mercado de comunicaçao, com rádio, jornal, tevê a cabo e sites on-line, divulgando 24 horas por dia notícias para nossos assinantes", contou. Segundo Puerner, o mercado publicitário do grupo cresceu 15% nos últimos três anos. Hoje, o Orlando Sentinel Communications associou-se aos jornais Chicago Tribune e L.A. Times, para repetir a experiência multimídia.

Iceberg - Para o jornalista brasileiro e professor da Universidade de Austin, nos Estados Unidos, Rosental Calmon Alves, a Internet é apenas a ponta do iceberg representado pelo que os americanos chamam de comunicaçao mediada por computador (CPC). Alves foi o mediador de uma mesa-redonda sobre os aspectos técnicos e legais da Internet, que encerrou as atividades desta terça.

Segundo Alves, os computadores nao representam o fim dos jornais. "No entanto, se forem resolvidos os atuais problemas de equipamento, rapidez e programas apropriados para a transmissao de notícias, o papel sujo de tinta vai acabar, com vantagens para a empresa, já que 85% do custo dos jornais é com essa matéria-prima e seu transporte."

Segundo Alves, parte desses problemas já está sendo resolvida em laboratório e logo estará à disposiçao do público a um preço acessível. "Mas o velho e bom jornalismo, a produçao intelectual de um profissional chamado repórter, nao desaparecerá", avisou ele, acrescentando: "Quem nao se adaptar certamente desaparecerá, como as diligências foram substituídas pela locomotiva no fim do século passado."




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