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Atriz iraniana vive o sonho do Oscar
Da AFP
23/02/2004 | 18:12
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Há um ano, poucos sabiam da existência de Shohreh Aghdashloo. Agora, com uma indicação ao Oscar, todos em Hollywood falam dela e treinam a pronúncia de seu nome. “Para o caso de eu vir a ganhar”, brinca a atriz iraniana.

Aghdashloo é uma mulher muito sorridente. Motivos ela tem de sobra: “depois de 26 anos de carreira, nunca pensei em nenhum tipo de prêmio, mas após ser reconhecida por Hollywood (...) sinto que consegui”, disse a atriz de 51 anos.

Indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação no filme House of Sand and Fog, que fala da luta entre uma mulher americana (Jennifer Connelly) e um casal iraniano – um coronel (Sir Ben Kingsley) e sua esposa, Nadi (Shohreh) – pela propriedade de uma casa.

“Tento viver cada instante de tudo isto. Vivo o momento. Me sinto tranqüila, mas feliz ao mesmo tempo”, afirmou, com voz grave e pausada.

Shohreh é o pilar do filme (baseado no romance de Andre Dubus III), no qual interpreta uma mulher dividida entre a lealdade ao marido e a amizade com a personagem interpretada por Connelly.

Apesar de uma longa carreira teatral e alguns filmes, Shohreh tem plena consciência de que este é o papel que mudou a sua vida. Além da indicação ao Oscar, o filme lhe rendeu um prêmio da Associação de Críticos de Nova York recentemente.

“Eu nasci para este papel. Conheci mulheres como Nadi durante toda a minha vida. Sempre quis representar esse tipo de mulher”, disse a atriz, que há 15 anos vive em Los Angeles com o segundo marido – o escritor e diretor de teatro Vadim Perelam – e a filha de 15 anos.

“Quando li o livro, disse ao meu marido que esse papel era para mim e ele me respondeu: ‘Pare de sonhar’. Quando ganhei o papel, disse a ele: ‘Sabe de uma coisa? Os sonhos viram realidade’”, contou, orgulhosa.

Por via das dúvidas, esclareceu, sem necessidade, que ela não se parece em nada à introvertida, tímida e submissa Nadi. “Eu sou extrovertida, Nadi é uma mulher tradicional, criada para obedecer o marido (...). Eu sou o contrário”, afirmou.

Para explicar sua “natureza rebelde”, Shohreh remonta à sua juventude, no Irã. A atriz deixou Teerã em 1978, em dias de distúrbios e motins na cidade contra o xá Mohamed Reza Pahlevi, ante-sala da Revolução Islâmica e da chegada dos aiatolás (líderes espirituais xiitas).

Naquela época, ela tinha 25 anos e estava casada. Junto com o primeiro marido e uma amiga, decidiu partir para Londres em uma viagem que levou 31 dias. Na capital inglesa, viveu por dez anos.

“Parti na época em que as crianças ateavam fogo nas fotos do xá, carros eram incendiados, todos comemoravam com efusão a idéia que já existia entre a população sobre a volta ao Irã do aiatolá (Ruhollah Khomeini, condenado ao exílio desde 1963). Todos acreditavam que uma espécie de (Mahatma) Ghandi chegava ao país”, contou.

“Mas eu, conhecendo minha cultura, minha tradição e minha religião, soube que não haveria lugar para uma mulher liberal como eu sob a Revolução Islâmica”, disse, contundente, com certa nostalgia.

Shohreh nunca esqueceu suas raízes. Seu marido tem uma companhia de teatro dirigida à comunidade de iranianos espalhada pelo mundo.

Mas, apesar do firme compromisso com seu país, Shohreh garantiu que não falará nem de política nem contra os aiatolás no próximo dia 29, na cerimônia de entrega dos Oscar, no Teatro Kodak, em Los Angeles.

“A todos os que querem que fale de política, lhes digo: deixem primeiro que encontre meu lugar na arte, então falarei de política”. “Vamos comemorar um Oscar”, acrescentou, como se convocasse seus compatriotas. Na cerimônia, Shohreh usará um vestido do estilista italiano Valentino, mas ao contrário da maioria das estrelas de Hollywood não gastará horas com cabeleireiro e maquiagem. “Eu faço tudo”, disse, orgulhosa, a bela atriz.

Quanto ao prêmio, Shohreh tem uma idéia clara na cabeça: ganhe ou perca, depois do dia 29, irá para uma praia com a família. “Se tiver o Oscar, o abraçarei forte, dormirá na minha cama, passearei com ele na areia. Se não... tenho o meu marido”, brincou, voltando a sorrir.




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