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DVD mostra a intimidade revelada de Bob Dylan
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
08/08/2005 | 08:27
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Uma das fases mais prolíficas do trovador do folk rock norte-americano, Bob Dylan, já pode ser conferida em detalhes, com o lançamento do DVD Bob Dylan World Tours – 1966/1974 (Indie Records, R$ 50 em média), documentário produzido pelo renomado fotógrafo Barry Feinstein. Além de entrevistas com pessoas que acompanharam de perto a trajetória do cantor, as 150 fotografias tiradas por Feinstein, que cobriu com exclusividade duas turnês do músico, são os quitutes do documentário sobre o dono da voz analasada mais famosa do planeta.

Guardadas a sete chaves na casa de Feinstein, em Woodstock, município de Nova York que foi palco do festival homônimo em 1969, muitas dessas fotos nunca foram divulgadas e revelam momentos da intimidade de Dylan. É possível ver outras facetas de sua personalidade expostas, por exemplo, em um descontraído passeio pelas ruas de Liverpool (Inglaterra), em rituais de concentração antes dos shows ou em papos com os integrantes do The Band, grupo que o acompanhou naquele período. "Desde a primeira vez que o vi, sempre achei que ele fosse um gênio", ressalta Feinstein, que também trabalhou com feras como Janis Joplin e Richie Heavens.

Mais que isso, as fotos do documentário, dirigido por Joel Gilbert (líder da banda Highway 61 Revisited, que toca covers de Dylan), pontuam a trajetória do artista, ícone do movimento pelos direitos civis na década de 60 e porta-voz de gerações de dândis.

Com duas horas de duração, o filme aborda inicialmente o estresse que acometeu Dylan após anos de exposição na mídia e que o fez optar pela reclusão em uma mansão em Woodstock. Em 29 de agosto de 1966, quando sofreu um acidente de moto que quase o matou, o destino teria contribuído de forma trágica para que ele retirasse o time de campo, só voltando aos palcos em 1974 – exceção feita à participação no Concerto para Bangladesh, organizado pelo ex-Beatle e parceiro George Harrison, três anos antes.

O caso até hoje não foi muito bem explicado. Durante entrevista a Gilbert, o baterista da banda de apoio do cantor, Don Brewer, não acredita que o episódio tenha ocorrido e insinua que Dylan pode ter montado uma farsa, já que ele garante ter visto a moto sem nenhum dano.

Brewer também analisa a fase de transição do artista entre o folk tradicional e o eletrificado. Nos primeiros anos empunhando guitarras, o trovador foi duramente hostilizado por platéias puristas. "Lembro de um show em que comecei a fazer a contagem da música e, logo em seguida, houve uma vaia geral. As pessoas o chamavam de vendido, de traidor, por estar tocando guitarra".

Nuvem de fumaça – Uma das entrevistas mais interessantes concedidas a Gilbert é a do jornalista e crítico de música Al Aronowitz (que morreu no último dia 1º, vítima de câncer), responsável direto pelo encontro entre os Beatles e Dylan, que apresentou a maconha aos Fab Four. A reunião desses dois gigantes da música pop aconteceu em 28 de agosto de 1964, em um quarto do Hotel Delmonico, em Nova York.

Naquele ano, os sorridentes rapazes de Liverpool emplacaram um hit atrás do outro, mas uma canção em especial despertou a curiosidade do cantor: a ensolarada I Wanna Hold Your Hand. No estribilho em que os garotos repetiam a frase "I can’t hide" (eu não consigo esconder), Dylan pensava que eles cantavam "I get high" (eu fico alto). Quando se encontrou com o grupo, estranhou o fato de John, Paul, George e Ringo jamais terem experimentado a erva. "Passei um baseado para o John, que, em seguida, entregou ao Ringo, mostrando que os Beatles tinham uma hierarquia", recorda Aronowitz. Ainda segundo o crítico musical, o baterista foi o primeiro a tragar o cigarro de Cannabis sativa e teve um ataque de riso que durou horas.

Mais do que uma simples iniciação ao mundo dos entorpecentes, o encontro selou uma parceria que influenciaria decisivamente toda a produção musical dos anos seguintes. A equação entre as letras de Dylan e o rock dos Beatles ajudou a moldar o cenário do rock psicodélico.

Lunático – A adoração pelo cantor ganha contornos neuróticos e obsessivos na figura de A.J. Weberman, considerada a maior autoridade em Bob Dylan do planeta. Confrontado por Gilbert, que tenta entender o fanatismo absurdo, Weberman revela detalhes do período em que morava próximo à casa do músico, em Greenwich Village, outra cidade da Big Apple, e tinha o hábito peculiar de vasculhar o lixo do músico, procurando, principalmente, evidências de consumo de drogas.

A experiência serviu para que o lunático formulasse uma tal lixologia, "ciência" que estudava o comportamento das pessoas analisando o lixo produzido por elas. "Teve uma vez em que ele (Dylan) veio e começou a me bater e me ameaçar para que eu parasse de mexer no lixo dele. Se não fosse por uns hippies que chegaram e apartaram, eu teria sido espancado".

Weberman explicita sua relação confusa de amor e ódio com o mito, recitando vários trechos de músicas e, ao mesmo tempo, acusando o cantor de não ter utilizado seu poder político para acabar com a guerra do Vietnã.




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