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Alimentar pombos é proibido. Sabia?
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
21/03/2011 | 07:00
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O pombo é uma das pragas urbanas que preocupam autoridades sanitárias e médicos no País. Potencial transmissor de doenças, há legislação que proíbe alimentá-los. Mas não é isso que se vê em praças do Grande ABC, onde o antigo hábito de dar comida às aves continua. O poder público orienta quem procura ajuda, notifica o infrator, mas não aplica a multa, prevista em lei

Santo André, São Bernardo e São Caetano, que têm leis que preveem multas a moradores que alimentam pombos, não aplicaram nenhuma em 2010. Mas, neste 2011, Santo André foi a cidade que mais atendeu reclamações de moradores sobre a ocorrência das aves em residências, com 146 orientações dadas por telefone ou pessoalmente. Em Diadema foram cinco, quantidade registrada também em Ribeirão Pires. Já em São Caetano, onde o infrator recebe notificação por escrito antes da multa, houve 16 atendimentos.

"Muitas são reclamações contra vizinhos, geralmente idosos, que alimentam os bichos na calçada em frente da casa ou no quintal", conta Fábio Agostine, médico veterinário do Centro de Controle de Zoonoses de São Caetano.

Ele explica que se o pombo encontrar abrigo, comida e água acaba se instalando. Isso ocorre em telhados, torres de igrejas, marquises e árvores. Comida, quando não tem quem dê, acha com facilidade em restos deixados em locais públicos e abertos. Outro fator que contribui para sua proliferação é a ausência de um predador natural, como o gavião.

O pombo daqui tem origem europeia, tendo chegado junto com os portugueses, durante a colonização, para servir de alimento. Foram domesticados há 5.000 anos pelos asiáticos, também para servir de alimento, além de treinados para levar correspondência. Cada fêmea pode ter até dez filhotes por ano. Na cidade, o espécime dura até cinco anos. Na natureza, 20.

PREJUÍZO

A Igreja São João Batista, no Rudge Ramos, em São Bernardo, precisou trocar todas as calhas no fim do ano, por causa da quantidade de bichos instalados. Foram necessários três meses de trabalho para retirar ninhos, fezes e até pombos mortos que entupiram os canos.

"Como muitas leis brasileiras, essa não pegou. Deveria ter placas alertando para os perigos que representam e informando que é proibido dar comida. Aqui tem muita gente que compra pipoca, traz milho de casa para dar a eles", afirma o jornaleiro Alex Alves, 30 anos, que há dois trabalha em frente à igreja.

Outro ponto de encontro dos bicudos é a calçada em frente ao sobrado do casal de aposentados Nelci, 72, e Waldemar Bernardino, 77, no Parque Novo Oratório, em Santo André. É lá que o aposentado joga milho ou farelo todas as manhãs. Há até um bebedouro improvisado, feito por Waldemar aproveitando a mina d'água que brota do passeio público. Para garantir a limpeza do local, Nelci lava o local duas vezes por semana.

Usar balde d'água ou mangueira, sem jato, para limpar as fezes do pombo é a forma mais adequada para retirar o excremento. Se varrer, os fungos ficam suspensos no ar e podem ser inalados.

Doença transmitida pela ave afeta imunodeficientes

O pombo é transmissor de algumas doenças. A mais grave é a criptococose, causada pelo fungo cryptococcus. No entanto, a maior parte das pessoas, ao entrar em contato com o fungo, não manifesta a enfermidade. Geralmente, os infectados são pacientes imunologicamente debilitados, como portadores de HIV ou câncer.

"Criamos anticorpos e ficamos imunes. É uma doença oportunista, que contamina pessoas com imunidade baixa. Mas já tivemos situações de pessoas fora desse perfil. Há 20 dias, em São Bernardo, houve o caso de um homem saudável, de 40 anos, que acabou morrendo", declara o médico Munik Akar Ayub, professor de Infectologia da Faculdade de Medicina do ABC. São Bernardo não confirma o caso.

Segundo ele, os pacientes imunologicamente debilitados podem apresentar os seguintes quadros: meningite (inflamação da meninge), encefalite (inflamação do cérebro) e retardo mental. Em alguns casos, leva à morte.

Há outras doenças transmitidas, como salmonelose, causada pela ingestão de ovos ou carne contaminados pela bactéria salmonella, também presente nas fezes de pombos. As penas e ninhos podem agravar quadros alérgicos. "É um rato de asas que transporta sujeira. O vento faz com que as partículas dos fungos se depositem também em objetos e alimentos", alerta o especialista.




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