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Depois de um ano, Braido quebra o silêncio
Eduardo Merli
Do Diário do Grande ABC
22/07/2004 | 00:22
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O ex-prefeito e um dos maiores caciques políticos de São Caetano Walter Braido (PL) disse que votará no candidato do seu partido, Iliomar Darronqui, para prefeito nas eleições deste ano. Também disparou críticas ao candidato José Auricchio Júnior (PTB), que é apoiado pelo seu amigo Luiz Olinto Tortorello (PTB), atual prefeito. “Acho o Auricchio inexperiente”, afirmou. Em entrevista ao Diário, Braido quebrou um silêncio que vinha mantendo há mais de um ano. “Senti na obrigação de, mesmo afastado de cargo público, dizer à cidade o que estou sentindo”, disse.

Walter Braido foi prefeito de São Caetano em três oportunidades: 1965/69, 1973/77 e 1983/88. Lançou o atual prefeito na política macro da cidade em 1989, na primeira campanha de Tortorello ao Palácio da Cerâmica. Depois, em 1993, foi padrinho político do candidato a prefeito José Antonio Dall’Anese, que venceu as eleições. Braido está na lista dos velhos caciques políticos de São Caetano. Foi vereador, prefeito, deputado. Nenhum político despreza sua palavra, mesmo depois de anos longe dos cargos públicos.

O político e empresário recebeu a reportagem do Diário na última segunda-feira em sua empresa de engenharia na rua Goitacazes. Disse que as eleições na cidade "estão indefinidas.”

DIÁRIO – Quem o sr. apóia nestas eleições?
WALTER BRAIDO – Eu vou votar no Iliomar (Darronqui). Ele é o mais bem preparado para ser prefeito. Passou pela Câmara, foi vice-prefeito, está há 15 anos dirigindo órgãos da Prefeitura. Então, ele conhece muito bem a máquina.

DIÁRIO – O sr. apoiou a campanha do atual prefeito, Luiz Olinto Tortorello. Agora ele apóia José Auricchio Júnior e o sr., Iliomar Darronqui. Houve um desentendimento?
WALTER BRAIDO – Não, ele (Tortorello) é meu amigo e conhece a minha posição sobre a eleição já faz mais de um ano. O Tortorello escolheu o que eu não concordei, e disse a ele que não estava de acordo. Não pode mudar, paciência, ele tem de enfrentar a situação. Estou falando de política depois de tanto tempo porque me senti na obrigação de, mesmo afastado de cargo público, dizer à cidade o que estou sentindo. Eu não quero que depois venham me cobrar, dizendo que aconteceu um desastre e eu fiquei quieto. Eu quero ajudar a cidade. Em 1988, fiz um discurso na posse do Tortorello no qual eu dizia que não queria mais cargo eletivo, mas não posso deixar de pensar na cidade, que é a minha obrigação.

DIÁRIO – Como o sr. avalia os candidatos a prefeito em São Caetano?
BRAIDO – Eu só não conheço dois candidatos pessoalmente, o do PSTU (Marcos Leal) e o do PTN (Rogério Silva). Os que eu conheço posso dizer que são gente boa. O Tite (Campanella, candidato a prefeito pelo PFL) tem o nome e o estilo político do pai (Anacleto Campanella), que foi um bom prefeito. Se conseguir se eleger e fazer o que ele fez, terá projeção. O pai do Tite foi um dos líderes da autonomia de São Caetano, quando foi vereador de Santo André. Era um homem de visão e com uma vantagem sobre alguns políticos: com ele não precisava escrever, o que hoje é raro. Fica um fugindo por uma porta, outro por outra. O Hamilton Lacerda (candidato a prefeito do PT) e o pai dele sempre foram eleitores meus. Os perdi quando foram para o partidão. Acho que o Hamilton é inteligente e capaz, mas o Iliomar tem mais experiência. Eu propus para que o candidato do atual prefeito começasse pela Câmara, para daí começar a se integrar na vida pública. Eu acho o Auricchio inexperiente.

DIÁRIO – Porque o sr. acha que o candidato José Auricchio Júnior tem pouca experiência?
BRAIDO – Até agora, em São Caetano, quem não foi vereador não conseguiu ser prefeito. O único que ganhou a eleição sem ser prefeito foi o Pelegrino (Angelo Raphael Pellegrino, prefeito de 1949/1953), porque foi o primeiro e ainda não havia Câmara Municipal. Quando a gente quer ir para a faculdade, precisa passar pelo vestibular. A Câmara é a escola fundamental para preparar o homem público.

DIÁRIO – Como o sr. vê o quadro eleitoral da cidade?
BRAIDO – Eu estranhei São Caetano ter sete candidatos. Tinha de ter três ou quatro. Eu não sei se foi falta de comunicação, se foi falta de liderança. Nunca vi um quadro desta natureza. Acho que só vai tumultuar. Não se pode achar que alguém não vai ter voto, porque isso só se conhecerá na urna. Principalmente após esta mudança da legislação eleitoral, com a saída de dez vereadores. Estamos a 60 dias da eleição e com a metade do eleitorado indeciso. O candidato do governo já está na rua faz um ano, e os demais já faz algum tempo. Você vê que a cidade continua indecisa. As eleições estão indefinidas. Um dos três vai ganhar (Iliomar, Hamilton ou Auricchio). Acho o Hamilton um candidato forte. Se o Iliomar souber enfrentar as borduadas que vêm agora e resistir, vai continuar no páreo. O Iliomar tem voto, o Hamilton tem voto e o prefeito tem força.

DIÁRIO – A que borduadas, se refere?
BRAIDO – Já entraram na chapa de vereador tirando vereador, depois o Flavinho (Flávio Rstom, vereador) desistiu. E ele conversou comigo, não vou tirar a razão de ninguém. Cada um faz o que quer e aceitei a tese dele. A gente não sabe o que vai acontecer. O jogo está meio bravo, né?

DIÁRIO – O sr. era apontado como o padrinho político da união entre os candidatos Iliomar Darronqui (PL) e Tite Campanella (PFL). Foi duro ver a coligação não se confirmar?
BRAIDO – Eu não influenciei, apenas acompanhei. Seria melhor se eles se coligassem.

DIÁRIO – Como o sr. vê São Caetano às vésperas da eleição?
BRAIDO – A cidade está bem formada. Deveria estar melhor a saúde? Deveria. O prefeito tem dado todas as condições para a saúde funcionar, de orçamento, mas se há deficiência, tem de se cobrar quem é de direito. Nós tínhamos dois hospitais exemplos em São Caetano: o São Caetano e a Beneficência Portuguesa. Construídos pelo povo. Eles eram referência no Grande ABC. Hoje estão quebrados. Alguma coisa está errada. Mas eu prefiro não ir a fundo nisso, porque vão achar que estou contra o candidato do prefeito. Mas o problema é este. Você vê que o orçamento da saúde para este ano prevê R$ 30 milhões pela lei. Em São Caetano aplica-se mais de R$ 40 milhões. Médicos, temos em quantidade suficiente. Temos mais de 800 leitos na saúde, quando pela Organização Mundial da Saúde, precisávamos ter 200. Falta de leito não é. É falta de outra coisa que eu não quero discutir. Médico tem, recurso tem, mas o atendimento em São Caetano é precário.

DIÁRIO – O que o sr. acha da educação?
BRAIDO – A educação está melhor que a saúde. Então, dizem que a lei federal obrigou e não pode mais, mas isso é conversa para enganar o menino, porque precisa respeitar os 30% da educação, do curso básico, depois o resto pode gastar como quer. Então, hoje nós temos uma juventude que deixa de ir na escola porque não pode pagar e nós, que podemos dar bolsa de estudo, não estamos dando não sei por que. O Imes, que fica crescendo, fazendo uma escola aqui outra lá, também deixou de dar a bolsa de estudo que se dava. A escola foi feita para isso, não para dar dinheiro, nem para ficar grande. Parece que virou uma imobiliária aquilo lá (Imes). Só quer construção. Não quero atacar ninguém. Estou falando aquilo que estou sentindo.

DIÁRIO – Vai subir no palanque para ajudar algum candidato específico?
BRAIDO – Sou contra participar de campanha porque no passado eu era vagabundo e esquecia até de ir nos comícios. Não sei se estava me mascarando um pouquinho ou não gosto disso. Eu fui vereador, não gostei, perdi na eleição em 1961. Depois não perdi mais. Ganhei três e elegi dois sucessores. Fui eleito deputado e achei péssimo, porque não gostava. Então tive de me sustentar, porque o povo me levou ao poder e não pude dizer que não ganhava mais aqui. Eu e o Tortorello elegemos o Dall‘Anese e nós paramos porque, em 1992, não podia voltar, e a vontade do Tortorello era essa. Eu falei para ele que se voltasse iria se acostumar. Iria dar trabalho para o Tortorello nas eleições do ano 2000. Eu acho que fui prefeito por três mandatos e já chega. Tem gente que só sai quando o povo manda embora. Eu estou tranqüilo. Eu senti que o terceiro mandato já estava bom.




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