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Menor que teve a testa tatuada terá alta em maio

Adolescente de S.Bernardo passou pela sexta sessão de remoção da frase ‘eu sou ladrão e vacilão’

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
29/01/2018 | 07:00
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Divulgação


Vinte quilos. Esse foi o peso que o adolescente de 17 anos, de São Bernardo, cuja testa foi tatuada com a frase ‘eu sou ladrão e vacilão’ em junho do ano passado, ganhou desde que chegou à clínica de reabilitação onde está internado há sete meses, em Mairiporã, na Região Metropolitana. O ato de violência, gravado e divulgado amplamente nas redes sociais, foi sofrido após suposta tentativa de roubo de uma bicicleta, situação que o menor diz não se recordar, já que estava há pelo menos dez dias sob efeito de álcool e outras drogas vagando pelas ruas da região. Na época, ele pesava 40 quilos.

O trauma físico, rabiscado com tinta na derme do jovem, está sendo removido por meio de laser. Na semana passada, o adolescente passou pela sexta sessão das dez necessárias para a remoção total da marca. Em paralelo, a terapia contra a dependência química também avança, inclusive com suporte psicológico. A previsão de alta médica é apenas para maio, quase um ano após o início do tratamento.

O menor passará seu 18º aniversário, no dia 17, internado. Apesar disso, para a mãe, a auxiliar de limpeza desempregada Vania Aparecida Rosa Rocha, 35, o filho está em situação melhor em relação ao ano passado, apesar de todo o sofrimento vivido. “Ele está se recuperando bem. Mudou até o jeito de falar, não usa mais gírias. Está mais maduro. Fala em estudar (ele parou no 8º ano do Ensino Fundamental) e trabalhar quando sair da clínica. Vai se alistar no Exército”, diz.

A “mudança” que Vania enxerga no filho ocorre graças à oportunidade, mesmo que somente após ter sido submetido a atitudes condenáveis (teve a sessão de ‘tatuagem’ gravada após ser agredido e imobilizado), de reabilitação. “Não teria condições de pagar esse tratamento (chega a custar R$ 15 mil por mês). Também tem a parte boa da reaproximação entre a família”, ressalta.

Filho mais velho entre seis irmãos (com idades entre 17 e 5 anos), o adolescente morava com a avó e o tio no Jardim Ipê. Não conheceu o pai. Em seu registro de nascimento consta apenas o nome da mãe. “Ele ficava muito na rua desde os 12 anos. Era difícil controlar. Ele nunca aceitou que precisava de ajuda. Vivia fazendo coisa errada. Perdi as contas de quantas vezes tive de buscá-lo na delegacia”, destaca Vania, que visita o filho a cada 15 dias na clínica e passa por terapia semanalmente.

A principal preocupação da família, que se mudou para Embu das Artes, também na Região Metropolitana, após ser obrigada a deixar o imóvel onde vivia em São Bernardo, é com o período pós-internação. Pensando nisso, Vania voltou a estudar. Está no 9º ano do Ensino Fundamental e, por meio de supletivo, pretende concluir o Ensino Médio. Desempregada, ela diz que a dificuldade de manter a família é grande. Sete pessoas dividem casa de dois cômodos, cujo aluguel custa R$ 500 por mês. A renda mensal do marido gira em torno de R$ 1.300.

“A gente sabe que tem muita gente que condena o meu filho. Não sabemos como vai ser quando sair da clínica, se vai conseguir um emprego e mudar de vida”, observa a mãe. Apesar das incertezas, a expectativa é positiva, tendo em vista o histórico familiar. “É aquela velha história. Há males que vem para o bem. Se não tivesse acontecido essa tragédia eu já teria enterrado o meu filho”, ressalta Vania.

Decisão sobre agressores é aguardada para próximos dias

O pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, e o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 28, permanecem presos na Penitenciária de Tremembé, no Interior do Estado. Eles foram detidos em 10 de junho, após vídeo que mostra a tatuagem sendo feita no adolescente ter sido amplamente divulgado em redes sociais. Os dois são acusados por lesão corporal de natureza gravíssima, constrangimento ilegal e ameaça. A pena pode chegar a quatro anos.

O processo corre em segredo de Justiça, no entanto, a expectativa é a de que a decisão judicial seja divulgada nos próximos dias.

Coordenador da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Ariel de Castro Alves acredita na condenação. “Este caso precisa ser exemplar, para evitar outras situações do tipo”, alega.

Tratamento é para a vida toda, diz médico do jovem

Coordenador do processo de reabilitação do menor de São Bernardo, Sergio Oliva Castillo destaca que, mesmo após receber alta da clínica onde está internado há sete meses, o jovem continuará em tratamento. “O que seria o pior momento da vida dele acabou se transformando na chance que ele precisava para recomeçar. Ele está limpo só por hoje. O tratamento é para toda vida.”

O caminho percorrido até a melhora clínica, no entanto, não foi fácil. O menor precisou ficar, por dois meses, em processo de desintoxicação, tendo em vista o período longo de consumo de drogas – desde os 12 anos. “Ele chegou na clínica com vergonha da tatuagem, de boné. Nossa satisfação é ele voltar à sociedade e ter chance de estudar, trabalhar”, ressalta Castillo

Após a alta, prevista para maio, terá início o processo de reinserção social, com necessidade de o menor continuar a frequentar a clínica esporadicamente. 




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