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Termomecanica aposta em exportações na crise

Hoje, 20 anos após a morte de Salvador Arena, empresa segue fórmula e investe em tecnologia

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
28/01/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Há exatos 20 anos morria Salvador Arena, ao 83, empreendedor visionário que com apenas US$ 200 criou, em 1942, a Termomecanica, indústria de transformação de cobre e outros metais em produtos semielaborados, como tubos e conexões, que em 2016 faturou R$ 1,1 bilhão – o resultado do ano passado será divulgado apenas em abril. A companhia, no entanto, atravessou a crise econômica de lado, ampliando exportações, investindo em tecnologia e mantendo os 2.350 empregos, ao seguir os ensinamentos de Arena e continuar na vanguarda. Além disso, a fundação que leva seu nome, criada em 1964, quando ainda não se falava em projetos sociais, ensina gratuitamente 3.000 alunos da pré-escola à faculdade em São Bernardo – em 1998 eram 700 (leia mais abaixo).

“Os US$ 200 oriundos de indenização da Light, onde atuava como engenheiro, naquela época eram suficientes para abrir empresa, fazer a documentação e pagar o primeiro aluguel, no máximo. Mas o maior capital dele era sua engenhosidade. Ele começou projetando peças de reposição para máquinas e fornos para padarias – em um período em que só havia forno a lenha. Como seu pai tinha conhecimento em fundição de metais, entrou para esse negócio, dissolvendo sucata. Ele foi um self made management (construiu seu império do zero), e quando morreu, há 20 anos, deixou a empresa capitalizada e a lição de nunca desistir, ser altruísta e investir continuamente em tecnologia, para sempre estar à frente”, conta a diretora-presidente da companhia e da fundação, Regina Celi Venâncio.

Quando a transição de comando foi realizada, Regina conta que havia temor do mercado, inclusive, de que o crescimento do conglomerado fosse comprometido. Em vida, Arena detinha 70% das ações – embora a companhia tenha capital fechado –, mas, ao completar 80 anos, passou 100% dos papéis para a fundação, que se tornou herdeira da Termomecanica. A empresa, que havia mudado para São Bernardo em 1959 a convite do então prefeito Lauro Gomes – até aquele momento se situava na Mooca, Capital –, quase quadruplicou seu patrimônio líquido, que em 1998 era de US$ 250,2 milhões e, hoje, chega a US$ 800 milhões.

Do total do lucro apurado anualmente, 30% seguem ao pagamento de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e, o restante, se divide em modernização, ampliação e dividendos à fundação. Nas últimas duas décadas, foram investidos R$ 200 milhões ao todo na Termomecanica e, só nos últimos três anos, R$ 30 milhões anuais. “Continuamos investindo na crise porque, quando a economia retomar o crescimento, nós saímos na frente”, assinala Regina, ao citar que em 2015 foi lançada linha para fabricação de tubos e barramentos em alumínio.

Decisão que garantiu sobrevivência à turbulência foi apostar na exportação que, em 2010, respondia por 2,5% da produção e, hoje, chega a 20%. “Optamos por ampliar a parcela do mercado externo para manter a mão de obra, já que custa caro qualificar. Em 2011, adquirimos as plantas da Cembrass no Chile (que tem tratados com muitos outros países) e na Argentina, que se tornaram plataformas de exportação. Nos preparamos lá atrás e hoje estamos colhendo frutos. Trata-se de caminho sem volta”, sentencia Regina, ao sinalizar que a ideia é ampliar vendas a outros países em mais 10% neste ano.

Sua aposta é, inclusive, que o faturamento de 2017 tenha alcançado valor superior ao de 2015, que chegou a R$ 1,25 bilhão. “Não devemos crescer tanto em volume (cerca de 75 mil toneladas), mas na atuação da exportação, especialmente no mercado norte-americano (que compra em torno 50% da produção exportada), até porque o interno ainda está começando a reagir. Fomos beneficiados pela valorização das commodities, pois a tonelada do cobre passou de US$ 4.500 para US$ 7.000.”

A diretora administrativa financeira Márcia Uemura destaca outro fator que ajudou a empresa nos últimos anos. “A Termomecanica é capitalizada e não depende de financiamento externo. Diante da realidade de que muitos clientes reduziram seus volumes de vendas, e se viram endividadas e sem acesso a crédito, nós ajudamos alongando os prazos de pagamento. Mas nós tivemos lucro nas aplicações financeiras, tanto para ajudá-los quanto de investimento do nosso caixa”, relata.


Ensino gratuito beneficia 3.000 alunos

Parte do investimento da Fundação Salvador Arena, que tem seus recursos próprios e nos últimos 15 anos superou a marca de R$ 500 milhões em projetos sociais, especialmente no Grande ABC, é voltada à Educação. Criado em 1989, o centro educacional da entidade, uma das iniciativas, tornou-se ‘objeto’ de desejo de praticamente todo morador da região, por oferecer estudo de ponta e sem cobrar nada por isso. Nem mesmo material didático, uniforme e alimentação dos alunos. À época, o Colégio Termomecanica oferecia do Ensino Infantil até o Ensino Médio, além de Ensino Técnico.

Quando Salvador Arena morreu, em 1998, havia 700 alunos matriculados. Hoje, são 3.000. O volume cresceu também pela criação da disputada Faculdade de Tecnologia Termomecanica, em 2003. A instituição é a única universidade particular gratuita em todo o País. “O doutor Arena tinha um objetivo. E nós nos comprometemos a concretizá-lo e ampliá-lo, a fim de não decepcionar seu legado”, aponta a presidente da fundação e da empresa, Regina Celi Venâncio.

Para ingressar no colégio, Regina conta que são reservadas 20 vagas aos colaboradores para a pré-escola, o que é definido por sorteio. Os que não conseguiram vaga partem ao processo geral, pela Loteria Federal, e aberto a qualquer pessoa, pois não é preciso morar na região nem ter vínculo com a empresa. “Os funcionários tentam a sorte duas vezes. Aqui, internamente, às vezes temos entre 100 e 150 pessoas na disputa. E, para o público em geral, 10 mil”.

O diretor executivo da fundação, Luis Carlos Rabello, explica que metade das vagas é voltada a quem recebe até um salário-mínimo e meio per capita. “No Ensino Médio, quem tiver média sete passa automaticamente. E abrimos mais vagas para a comunidade, que presta vestibular, mesmo tipo de processo seletivo da faculdade.”


Cerca de 2% da receita vai para treinamento de empregados

A diretoria da Termomecanica aponta que fator primordial para o sucesso da empresa nos 20 anos sem Salvador Arena é a intensificação do investimento no treinamento dos 2.350 funcionários – sendo 1.800 da fábrica e do centro de distribuição do bairro Rudge Ramos, 350 da fundação, e dos outros 200 que atuam nas plantas de Chile e Argentina, de Manaus, no Amazonas, e no centro de distribuição de Joinville, Santa Catarina.

Oito anos atrás foi instituída a Universidade Corporativa, onde todos os colaboradores passam por qualificação. “Temos plano de desenvolvimento individual, então, se a pessoa necessita de treinamento técnico para desenvolver melhor sua função, ela o terá. O mesmo vale para liderança e gestão”, conta a presidente da fundação e da empresa, Regina Celi Venâncio. “Temos desde treinamentos aqui na fábrica, chamados on the job, até em salas de aula ou no centro educacional. Existem cursos técnicos de curta duração, cursos sequenciais e EAD (Ensino à Distância).”

Anualmente, são investidos em torno de 2% da folha de pagamento da Termomecanica para a manutenção do programa. 




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