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Mauá tem mostra de cinema sobre trabalho
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
03/05/2004 | 18:05
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A origem da palavra trabalho remete a um instrumento de tortura usado na Roma antiga, denominado tripalium em latim. A morfologia está lá no Aurélio para quem quiser conferir, mas o termo agregou novas concepções ao longo dos séculos, sobretudo após o advento do socialismo. E é nessa heterogeneidade que aposta a programação de cinema do Teatro Municipal de Mauá em homenagem ao 1º de Maio, num ensaio de mostra que começa nesta terça e tem entrada franca.

A programação não poderia começar de forma mais previsível, com a exibição, nesta terça, de Tempos Modernos. Visualmente, o diretor e protagonista Charles Chaplin apresenta a absorção do homem pela máquina no período inicial da automação da indústria – imprimiu-se na memória do cinema a cena que Carlitos se enrosca em engrenagens monstruosas. O peão de fábrica transforma-se, sem metáforas, em peça involuntária do mecanismo que o suprimiria em seguida. Tempos Modernos, ao mesmo tempo que admite a influência do Metrópolis de Fritz Lang, rejeita a conciliação que o filme alemão propõe entre patrões e empregados.

Na terça-feira da próxima semana, a vez é do nacional Eles não Usam Black-tie, adaptado por Leon Hirszman da peça de Gianfrancesco Guarnieri. O tom de tragédia do operariado adotado pelo cineasta e pelo dramaturgo aproveita o momento (início dos anos 80) de primavera dos movimentos grevistas no Brasil, mais visivelmente no Grande ABC. Desenvolve-se na oposição do pai Otávio (Guarnieri) e do filho Tião (Carlos Alberto Riccelli), um a favor das greves e o outro, contra, pela preservação do emprego. O futuro incerto fica condensado na seqüência em que Romana (Fernanda Montenegro) e Otávio se entreolham ao som de feijões tocando a panela.

O francês Germinal, atração do dia 18, pode não conter a mesma poética da precariedade, mas tem lá seus méritos (poucos) ao narrar o desentendimento entre trabalhadores de uma mineradora e seu patrão, no século XIX. O filme de Claude Berri, com Gérard Depardieu, fala do desamparo da peonada frente aos órgãos patronais repressivos, quando sindicalismo ainda era coisa a se cristalizar.

Fecha a programação o inglês Ou Tudo ou Nada, visão cômica de Peter Cattaneo sobre um problema crescente e aparentemente incontornável em escala universal, o desemprego. É aquele filme em que meia dúzia de representantes da população econômica e involuntariamente inativa decide tirar a roupa para juntar uns trocos. É comédia, mas com o gosto amargo da decepção que o mercado de trabalho inchado outorga à sociedade.

Mostra Mês do Trabalhador – Mostra de cinema. Às terças-feiras de maio, sempre às 19h30. Nesta terça: Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin. Dia 11: Eles não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman. Dia 18: Germinal (1993), de Claude Berri. Dia 25: Ou Tudo ou Nada (1997), de Peter Cattaneo. No Teatro Municipal de Mauá – r. Gabriel Marques, s/ nº. Tel.: 4555-0086. Entrada franca.




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