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Trabalhadores exigem piso de R$ 420
William Glauber
Enviado a Brasília
09/12/2006 | 19:59
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Solidariedade e consciência política justificam a força de vontade de 38 trabalhadores e trabalhadoras do Grande ABC e da Capital por cruzarem parte do país para participar da 3ª Marcha do Salário Mínimo, em Brasília. Eles partiram do Sindicato dos Químicos do ABC, em Santo André, até o Estádio Mané Garrincha, na Capital Federal. E, daqui para lá e de lá para cá, viajaram 43 horas – 36 delas em estradas.

Entre terça (5) e quinta-feira (7), os militantes reivindicaram distribuição de renda. Na quarta-feira (6), o grupo da região atravessou a Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional com outros 30 mil trabalhadores. Juntos, exigem uma política de valorização do salário mínimo e a correção da tabela do IR (Imposto de Renda).

No entanto, antes de marchar sobre o Eixo Monumental de Brasília, os viajantes enfrentaram cansaço e acumularam relatos de um vasto percurso. A equipe de reportagem do Diário acompanhou o grupo por uma cruzada diluída em três dias. Nesse período, histórias de vidas de integrantes dos químicos, rodoviários, seguranças e saúde pública e privada entrelaçaram-se, ao menos, por um capítulo.

Logo nos primeiros instantes dentro do ônibus, em Santo André, trabalhadoras da saúde privada do Grande ABC, como crianças aflitas com o fim da viagem, perguntaram: “a gente já chegou?”. Não. Não tinha chegado e apenas a descontração e o clima de companheirismo poderiam encurtar as distâncias que separam os palácios do Planalto Central do restante do país.

O balanço da viagem é longo, como os 1,1 mil quilômetros que existem entre São Paulo e Brasília. Foram cinco paradas: Limeira, Ribeirão Preto, Uberaba (MG), Araguari (MG) e Luiziânia (GO). A última, a poucas horas do destino, segundo o motorista, “era para chegar mais cheirosinho”, por conta das duchas do posto. A cada parada, os ônibus com trabalhadores de todo o país sobrepunham os caminhos de todos que ali estavam.

O cenário do cerrado brasileiro apresentou-se como bela paisagem. Por dois dias e duas noites, foram dois pores-do-sol e dois amanheceres enquadrados por janelas retangulares. Ao passar de tantas horas, choveu, esfriou, esquentou. Para atenuar o que de ruim se abatia, música para relaxar. Repertório popular: de Bruno & Marrone a Banda Calipso, de Bonde do Forró 2 a rock-roll das antigas.

Ao chegar ao Estádio Mané Garrincha, os viajantes encontraram-se com militantes de outras regiões. Os Sindicatos dos Trabalhadores das Indústrias da Construção Civil e Moveleira da região conduziram um ônibus e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC responsabilizou-se por nove ônibus e mais de 400 manifestantes. Antes da caminhada, um café com pão, presunto e queijo, leite e maçã.

A partir das 10h de quarta-feira, os trabalhadores marcharam por quase duas horas do estádio ao Congresso. Na praça da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, lideranças discursaram em defesa do salário mínimo de R$ 420 e da correção da tabela do IR em 7,77%. Após o ato, os ônibus recolheram os manifestantes para o Mané Garrincha, onde almoçaram arroz, feijão, macarrão e hambúrguer ou frango e ganharam um copo de refrigerante. Tudo simples.

No mesmo dia, o ônibus de Santo André retornou de Brasília, e os ocupantes sentiram a missão cumprida. Mais paradas, mais músicas, mais quilômetros. Próximo a São Paulo, um pneu estourado e alguns minutos em borracharia de beira de estrada. Pouco depois, o descanso em casa. No fim, todos com uma certeza: “ano que vem tem mais”, como disse, ao se despedir, um trabalhador. Até lá. (O repórter viajou a convite do Sindicato dos Químicos do ABC)




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