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Ilhados, moradores do pós-balsa pedem novo acesso

Comunidade quer passagem à Rodovia dos Imigrantes por meio da Estrada do Rio Acima

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
28/05/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Ilhados. Esta é a sensação que permeia quem vive na região do pós-balsa, em São Bernardo. A comunidade, que reúne cerca de 42 mil moradores do Tatetos, Santa Cruz e Taquacetuba, por exemplo, depende basicamente da Balsa João Basso, no Riacho Grande, para realizar a travessia sobre a Represa Billings e se deslocar até o Centro da cidade e demais municípios da região e da Capital, o que significa ter de encarar filas quilométricas e pelo menos uma hora de espera em dias tranquilos. Diante do cenário de longos anos de promessas não cumpridas por parte do poder público, a população se organizou para retomar reivindicação, também de muito tempo, de abertura de acesso à Rodovia dos Imigrantes por meio da Estrada do Rio Acima.

“Nossa luta é antiga, mas a situação começou a se agravar nos últimos anos, porque a população está crescendo. Está ficando insustentável tanto para morar quanto para ter comércio, porque se perde pelo menos três horas em cada travessia da balsa. Estamos com dificuldade até com a entrega dos fornecedores”, observa o morador e comerciante André Luis Martines, 43 anos. Na tentativa de pressionar as autoridades por alternativa na Rodovia dos Imigrantes, a população formou comissão específica. “É uma promessa de 2001 (abertura de acesso na Estrada do Rio Acima), ainda da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A, responsável pela rodovia até 1998), mas que caiu no esquecimento”, ressalta.

A passagem em questão, localizada no Km 34 da Imigrantes, foi aberta na época da construção da via, inaugurada em 1976. “Era um acesso usado para as máquinas e trabalhadores, mas que foi fechado para que não se sujasse a rodovia de barro. A promessa era reabrir o trecho assim que a Estrada do Rio Acima fosse asfaltada”, destaca Martines, enquanto apresenta protocolos de diversas reuniões e pedidos de estudos a respeito do tema feitos à Artesp (Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo) e Ecovias, hoje responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes).

Para evitar a balsa João Basso, moradores têm opção de se deslocar até a Imigrantes por meio da Estrada do Capivari, que liga a Estrada do Rio Acima à pista Norte da rodovia, sentido Capital, no Km 37. O trajeto de aproximadamente seis quilômetros de extensão, no entanto, é feito por estrada de terra esburacada e sem iluminação em meio à mata fechada. Conforme os moradores, a via é pouco utilizada, tendo em vista o risco de assaltos. Além disso, como a estrada dá acesso à Imigrantes rumo à Capital, o motorista que quiser se deslocar no sentido contrário precisa pagar o pedágio de R$ 25,20 e realizar o retorno longe, cerca de dez quilômetros da praça de cobrança.

“Estamos abandonados. Sem falar que dependemos dos serviços básicos fora do pós-balsa, porque aqui não temos atendimento de emergência 24 horas. Temos somente uma UBS (Unidade Básica de Saúde). Em dezembro tive a difícil experiência de encarar a balsa com a minha mãe de 80 anos passando mal (teve uma arritmia cardíaca) para levá-la até a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Riacho (Grande). É um desespero”, afirma o representante comercial Alessandro Manfrenato Caldeira, 39.

Insatisfeitos com a situação, moradores do bairro abriram passagem irregular para motociclistas e pedestres na proximidade do Km 33,5 da Imigrantes à via de terra que dá acesso à Estrada do Rio Acima. “A gente acaba vencendo pelo cansaço, porque a fiscalização fecha e a gente reabre”, confessa o vigilante Claudomiro Alves, 42, morador do pós-balsa há 24 anos. “Não temos condições de depender apenas da balsa. A população cresceu demais e a passagem não comporta”, considera o funcionário de empresa localizada em Santo André.

Em entrevista à equipe de reportagem do Diário, o prefeito Orlando Morando (PSDB) já havia destacado a necessidade de intensificar o trabalho de fiscalização na região com vistas a evitar a continuidade do crescimento populacional. “Deixaram aquela região crescer de maneira incontrolável, o que não vai mais acontecer. Não podemos deixar. É necessária fiscalização rígida para não permitir que siga aumentando o número de moradores”, observou.

Em busca de apoio, grupo com cerca de 250 pessoas realizou protesto próximo ao km 34 da Imigrantes na manhã de ontem. Na ocasião, moradores foram convidados por representantes do Ministério Público para uma reunião a ser realizada nos próximos 15 dias.

 

Artesp e Ecovias descartam caminho alternativo na via

Embora conheçam os problemas da comunidade e recebam o apelo dos moradores do pós-balsa, em São Bernardo, há longos anos, tanto a Artesp (Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo) quanto a Ecovias, concessionária responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), rechaçaram a possibilidade de nova passagem alternativa para a área. A justificativa é a de que a Rodovia dos Imigrantes (SP-160) nasceu com a tarefa de proporcionar mobilidade para viagens de longa distância com velocidade alta (120 km/h).

“De acordo com o decreto 52.669, de 3 de março de 1971, que aprova o regulamento do Sistema Anchieta-Imigrantes, a Rodovia dos Imigrantes é classificada como autoestrada do tipo fechada (classe zero), ou seja, sem abertura de novos acessos”, destacou em nota a Ecovias. Ainda segundo a concessionária, “para evitar que os moradores da região fiquem sem alternativa, no caso de inoperância da balsa, a Prefeitura, com o apoio da Ecovias, possui plano de contingência que possibilita a entrada e saída da comunidade pelo km 37 da rodovia (pela Estrada do Capivari, na pista Norte, sentido Capital).”

Também por meio de nota, a Artesp observou que a abertura de acesso em rodovias deve seguir normas técnicas previstas pela legislação e precisam estar suportadas por projetos que atendam à segurança viária. “Os técnicos da agência realizaram estudos técnicos e de legislação e concluíram que, no momento, não há possibilidade de implantação de acessos ao longo da Rodovia dos Imigrantes.”

Em relação à abertura de acesso irregular nas proximidades do Km 34, a Artesp esclareceu que a passagem foi fechada “para preservar a segurança dos usuários da rodovia, dos moradores e dos pedestres”.

 

Nova balsa depende de questão financeira, diz Emae

Tendo em vista o crítico e antigo problema em relação à existência de apenas uma embarcação para travessia da Represa Billings, Prefeitura de São Bernardo e Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) reabriram discussões sobre a viabilidade de instalação de segunda balsa para operar de forma simultânea. A estatal, que já havia destacado, por diversas vezes, que se tratava de projeto não possível, voltou atrás e promete apresentar dentro de um mês outro estudo com os custos necessários para nova embarcação.

Conforme a empresa, a principal diferença em relação ao estudo anterior é o “compromisso do poder público em relação ao sistema viário e de atracação das embarcações e o uso de embarcação com características de tração e navegabilidade idênticas às da atual”. Isso porque, em contrapartida, “o município ficará responsável pelas adequações necessárias no sistema viário local, pela construção do atracadouro e pela obtenção das licenças necessárias para implantação das alterações”, ressaltou a Emae.

A reivindicação já antiga da comunidade veio à tona no início do mês, após a troca da embarcação que realiza pelo menos 58 mil viagens por ano, o que significa o transporte de 2,4 milhões de pedestres e 800 mil veículos. Embora a Emae afirme que a balsa nova comporta 304 passageiros e 23 veículos por viagem, número maior do que a embarcação substituída, que carregava até 240 pessoas e 21 veículos, na prática, o serviço continua a ser insuficiente para a demanda.

A equipe de reportagem do Diário utilizou a passagem na sexta-feira e teve de aguardar por uma hora para conseguir acessar o pós-balsa. Além disso, na viagem, a embarcação carregou 11 veículos de passeio, um ônibus e dois caminhões, sendo um grande e um pequeno. “É uma tristeza essa nova balsa. Quando chove, a área destinada aos pedestres alaga, sem falar que a gente se molha inteiramente”, reclama a cabeleireira Daiane Cristina Ferreira, 31 anos.

 




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